segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Inattendu

Tout ce que je savais c'est que je te voulais et que j'avais besoin de toi dans ma vie. Il est si difficile de trouver une connexion avec quelqu'un dans ce monde, quelqu'un qui nous fait sentir entendus, compris, quelqu'un qui donne du sens. Le sens de s’intégrer à notre existence, de partager quelque chose.
La deuxième fois qu'on s'est vu, tu es arrivé en me demandant si j'avais trouvé mon bonheur. J'ai regardé dans tes grands yeux brillants et ils étaient si expressifs qu'ils semblaient me sourire, et j'ai souri en retour. Cette nuit-là on a parlé de l'univers, on a philosophé sur le destin et, assise à ton côté, j'ai dit que tous les moments de notre vie jusque-là auraient pu convergir pour nous emmener à cet instant sur ton canapé. Que peut-être la terre s’était tournée pour nous rapprocher et je serais venue de loin, très loin, d’un autre continent, pour être là à ce moment précis avec toi. L’«ici et maintenant» absolu, le présent qui recouvre le passé et cache le futur. Quelle conversation intense à avoir avec quelqu'un que je n'avais rencontré que pour la deuxième fois!
Avec toi, je ressentais ce besoin ou peut-être cette facilité de pouvoir parler de tout, de m'ouvrir complètement et de vouloir me montrer telle que je suis pour être vue par tes yeux que j'appréciais autant.
Des mois sont passés, différentes saisons se sont intercalées, beaucoup de proximité et parfois de la distance. À un moment donné nous n'avons pas su comment nous préserver et de là, la douleur, l'angoisse et la confusion sont arrivées. Tant de sentiments intenses et ambivalents que je me suis perdue parmi eux et que je n'ai pas su pas quoi faire, alors je t'ai repoussé. Et tu m'as manqué.
Et puis nous sommes revenus ensemble d'une manière différente. Notre relation a changé mais je n'étais pas sûre si nous avons changé également. Tout ce que je savais, c'est que je te voulais encore dans ma vie et que je gardais une place importante pour toi.
La dernière fois que nous nous sommes rencontrés, au moment de dire au revoir, tu as fait un geste pour réduire la distance qui nous séparait et lorsque j'ai réalisé nous étions déjà collés l'un contre l'autre. Au lieu de partir chacun d'un côté opposé de la grande ligne droite qui est l'avenue où j'habite, nous avons continué à marcher ensemble et nous sommes restés ensemble jusqu'à ce que le jour arrive.
Le matin, avec ma tête posée sur ta poitrine, j'ai entendu ton cœur battre. J'ai pensé que je l'aime, ton cœur. L'organe. Parce qu'il bat, parce qu'il t'anime et te maintient vivant. Tu existes, tu es là. J'aime ton coeur. Et je me suis dit que j'aime tes poumons aussi parce que tu respires, et parfois tu ronfles à mon côté. J'aime entendre ta voix et la façon dont tu prononces le mot "alors", et j'aime beaucoup mes oreilles qui me permettent de l'entendre. Et pour finir, j'aime ton odeur, il a la combinaison de pherormones correcte pour moi.
Notre dernière nuit ensemble a été imprévisible. Une espèce d'accident provoqué par chacun de nous et je ne savais pas si je le regrettais ou je le trouvais essentiel. Tout ce que je savais, c'est que je te voulais encore dans ma vie.
Mais finalement, tout a changé. On s'est revu encore une fois. Et là, j'ai pu savoir, j'ai pu être sûre que tu n'as jamais été cet homme que je voulais. Tout ce que j'ai ressenti avec toi, tous ces sentiments pour une personne qui n'existait que dans ma tête. Je ne sais pas si c'est toi qui m'as trompé ou si c'est moi qui a voulu croire à tes mensonges. Tu m'avais bien dit que tu étais un manipulateur et j'aurais dû te faire confiance dès le début.
Cette histoire finie d'une façon inattendue et décevante, comme la notre. Il n'en reste rien, tu continues ta vie et je continue la mienne. J'ai encore dans la bouche le terrible goût d'avoir aimé quelqu'un qui n'a jamais vraiment existé, mais ça va passer.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Home is where the heart is

I want someone
I can call home
and come back to
at the end of the day

Someone who'll give me
shelter from the storm
And whose feet want to
walk down the same way



quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Um ano de Lyon

A terra deu uma volta inteira em torno do sol desde que eu aterrissei no Aéroport Saint Exupéry no dia 07 de Setembro de 2016; cheia de incertezas, saudades e esperança.
O dia da independência do Brasil foi o dia que o destino escolheu pra que eu começasse a busca pela minha própria independência, na França. Muito aconteceu; pessoas vieram, outras já foram, e tantas ficaram. Vários desafios, de todas as formas e, felizmente, sucesso até aqui.
Sinceramente, não parece que faz um ano que tenho duas casas nesse mundo. Mesmo que eu finalmente tenha visto ininterruptamente as quatro estações, continuo cheia de incertezas, saudades e esperança. A maior diferença é que hoje posso dizer com certeza: valeu a pena ter arriscado.
Pra quem tiver lendo isso de lá de longe, eu digo: saudade. E pra quem tiver lendo daqui de perto, eu digo: não me deixe ficar com saudade!
"Essa vida é uma viagem,
pena eu estar
só de passagem" - Paulo Leminski
Boas viagens pra nós.

sábado, 14 de janeiro de 2017

"There are so many things that have to happen for two people to meet"

Um pouco antes de completar 4 meses em Lyon, o facebook me lembrou de uma poesia que eu postei 4 anos atrás, uma poesia que fala sobre encontros. Aqui, em um continente longe de onde nasci, eu penso em todas as pessoas que já conheci e fico me perguntando quais caminhos as trouxeram até mim. Sejam essas pessoas brasileiros expatriados, ingleses, haitianos, franceses de outras regiões, ou franceses que viveram a vida toda em Lyon. Quantas coisas tiveram que acontecer pra nos encontrarmos? E sem saber se esse encontro é ou não em vão, eu tento, da minha parte, fazer o máximo pra que não seja.
The earth turned to bring us closer,
it spun on itself and within us,
and finally joined us together in this dream
as written in the Symposium.
Nights passed by, snowfalls and solstices;
time passed in minutes and millennia.
An ox cart that was on its way to Nineveh
arrived in Nebraska.
A rooster was singing some distance from the world,
in one of the thousand pre-lives of our fathers.
The earth was spinning with its music
carrying us on board;
it didn't stop turning a single moment
as if so much love, so much that's miraculous
was only an adagio written long ago
in the Symposium's score.
- Eugenio Montejo

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

11:11

Já faz um pouco mais de 3 meses que eu tô aqui, 3 meses que a gente se conhece. Fazia menos de duas semanas que eu tinha chegado quando te conheci, e não conhecia quase ninguém. Passava meus dias e minhas noites no 6ème, o bairro burguês, na casa de uma francesa antipática, a olhar a vida passar pela janela estilo haussmannien. Ouvindo Piaf e Carla Bruni, e imaginando que formas e estilos teria minha nova vida recém começada. Tudo era novo, diferente e estranho, e eu estrangeira, L'Étranger partout, e eu nunca li Camus.
Tinha caído de paraquedas, atrasada, "por acidente", num país onde não domino a língua e a cultura. Até hoje ainda me admiro de estar aqui, vivendo aqui, estudando na universidade aqui, rodeada por baguettes, cafés, cigarros e vinhos. "Bonjour!","Ça va?", "Excusez-moi, mon français n'est pas bon". Então a solidão recém nascida resolver dizer "salut", e foi quando a gente se cruzou. Tu te ofereceu pra ser meu guia e eu aceitei. Era fácil conversar contigo, mesmo numa língua difícil.
Quando a gente se encontrou, uma das primeiras coisas que tu me disse foi: "Tu me fais confiance?". E ali estávamos nós, numa tarde linda de setembro, fim de verão, começo de outono, temperatura amena e sol bem disposto, acho que às 5 da tarde. Eu tinha acabado de te conhecer, mas sem hesitar respondi que sim, e deixei que tu me guiasse pelas ruelas e passagens secretas de Vieux Lyon. Uma pergunta inusitada, várias perguntas inusitadas, mas eu senti que podia confiar naquele homem igualmente dividido entre masculinidade e doçura, o que parfois é um pouco confuso pra minha cabeça. Acho que a gente se gostou logo de cara, e mesmo tu sendo tão diferente dos outros que já conheci, me pareceu familiar.
Tu insistiu em me acompanhar até em casa, e enquanto passávamos por uma ponte tu sorriu sem motivo aparente. "Pourquoi tu ris?", eu perguntei. E tu respondeu dizendo: "Je suis content! Tu n'es pas contente?", e é claro que eu tava contente, super contente, eu só não tava acostumada com alguém tão direto quanto tu. E desculpa se naquela noite eu não deixei tão claro que tu me faz contente, e desculpa se ainda hoje eu não consigo deixar isso tão claro, por mais que eu queira e tente, do meu jeito.
Da última vez que a gente se viu chovia. Eram seis horas da tarde de começo de inverno, na ópera de Lyon. Tava escuro como se fosse noite alta, e tu apareceu como uma visão com um casaco preto comprido cheio de botões, e eu te achei lindo. A gente andou pelas ruas dividindo meu guarda-chuva, teu braço tremia segurando o guarda-chuva, e vendo que eu ainda me molhava tu falou que eu deveria ficar com ele só pra mim; e é claro que eu não aceitei. Eu queria partager o guarda-chuva contigo, como quis dividir o mesmo prato que a gente comeu no primeiro encontro, tudo simbólico. Como eu gostaria de dividir mais da minha vida e do meu tempo contigo, mais da minha cama estreita contigo, mesmo que às vezes eu demonstre o contrário.
A gente não pôde passar o dia no parque como tu gostaria, por causa da chuva. Caminhamos na chuva e molhamos nossas meias. Eu odeio ficar com as meias molhadas, mas tu ainda de meias molhadas era adorável, e as meias molhadas não pareciam te incomodar em nada. Tu adorou saber que na minha cidade tem um refrigerante cor-de-rosa chamado Jesus, e disse que falaria disso pros teus amigos; amigos que eu não quis conhecer não porque eu não quisesse fazer mais parte da tua vida, mas porque meu francês quebrado me veio como uma barreira.
"No Brasil, quando a gente olha as horas iguais assim, como agora, 21:21, a gente diz que tem alguém pensando na gente". "Ah é? E se for tipo 11:11, quatro vezes o mesmo número, quer dizer que tem alguém pensando em ti ainda mais forte?". A gente teve nossa primeira briga pelas 2 da manhã. Eu já tava morando aqui no 7ème, finalmente tinha um chez moi, que quis dividir contigo logo depois de ter me mudado, antes mesmo de ter arrumado todas as minhas coisas. Depois que resolvemos a briga eu coloquei Harvest Moon do Neil Young pra tocar, e com minha cabeça encostada no teu peito eu pensei que ali era exatamente onde eu queria estar. Quando tu foi embora eram mais de 6 horas da manhã e ainda chovia. Tu me falou que teus sapatos ainda estavam molhados e perguntou se eu conseguiria voltar a dormir agora que tu não estivesse mais roncando no meu ouvido.
Já faz um tempo que eu não te vejo, mesmo que a gente esteja constantemente se cruzando, e mesmo que numa dessas vezes eu estivesse com outro homem do meu lado, e tu com outra mulher do teu. Nos falamos ontem, mas não sei se nos falaremos depois disso. Eu ainda tenho algumas coisas pra te dizer, mas acho que vou acabar guardando-as pra mim. Quis fazer esse texto pra ti, mesmo que tu não saiba ler português, ou talvez justamente por isso, mas esse texto é pra mim também, pra nós. Eu não sei se existirá um nós depois desse texto, mas espero que sim. E se não tiver... bom, eu não sei. Quem sabe? São 3 da tarde, e mesmo que as horas não sejam iguais, mesmo que os dias passem impiedosamente rápidos, nos deixando pra trás, Je pense à toi, très fort.

sábado, 8 de outubro de 2016

Le premier mois du reste de ma vie

Ontem eu fiz um mês em Lyon. Incrível como tanta coisa pode acontecer e mudar em apenas 30 dias. Há 8 anos atrás eu estive na França pela primeira vez, minha primeira viagem internacional, que começou por Paris e me fez definir a França como: "o problema da França são os franceses". Na época, meu francês se resumia basicamente ao bonjour/merci, e a maioria dos parisienses que encontrei eram amargurados e incrivelmente grosseiros. Pensei que se algum dia eu aprendesse a falar francês, gostaria de saber logo como mandar alguém pra puta que pariu.


8 anos atrás eu jamais pensaria que um dia estaria morando e estudando na França, e muito menos que eu estaria gostando dos franceses. Um dos meus maiores medos antes de decidir vir pra cá era me tornar uma pessoa antipática como aqueles parisienses que havia encontrado; e qual não foi minha surpresa ao descobrir que em Lyon, todos que já encontrei até agora foram extremamente pacientes e gentis. 


"A França não é Paris", já me disseram várias vezes, e hoje estou perfeitamente convencida. Então, gostaria de registrar algumas considerações sobre esse povo, e essa lugar, que a cada dia descubro.


Lyon é a terceira maior cidade da França, depois de Paris e Marseille, por isso, aqui sempre tá lotado. New York's got nothing on Lyon. Quando fui pra Nova York, achei que aquele deveria ser o lugar mais lotado do mundo, até vir pra cá e pegar o Tram T2 em direção à Université Lyon Lumière 2. Sério, é igual ou pior que qualquer ônibus da integração em horário de pico. Hoje no metrô, entendi por um segundo o que se passa na cabeça de assassinos em massa. 


Os franceses são engraçados. Não tô falando de senso de humor, porque ainda não parei pra reparar muito nisso, mas eles são um povo muito peculiar. Seja nas expressões curiosas que usam pra dizer qualquer coisa (ao sentar num assento vazio ao seu lado, podem dizer "eu me permito"), seja pra expor as opiniões (na maioria das vezes, bem filosóficas, francês adora filosofar, discutir, debater), seja nas expressões faciais. Franceses fazem muita careta quando falam: entortam a boca, reviram os olhos, e a mais curiosa: bufam. Eles bufam o tempo todo, principalmente quando não sabem alguma coisa. 


Assoar nariz aqui é uma mania cultural. Não é possível que tanta gente esteja sempre com o nariz entupido o tempo todo, em todos os lugares. Parece que eles se sentem na obrigação de assoar o nariz em público pelo menos uma vez por dia. Na sala de aula, se alguém assoa o nariz, começa uma reação em cadeia: várias outras pessoas começam a assoar. 


Franceses adoram uma onomatopéia, eles fazem barulhinhos pra disfarçar o silêncio. A mais famosa: "Oh là là!" - pra demonstrar admiração  (e se for muita admiração vira oh là là là là là!); ou então "Hop-là" (pronuncia-se como ópla), pra mostrar que terminaram alguma coisa: terminou de lavar o último prato: Hop-là! Deu o troco pro cliente: Hop-là! E a minha preferida: "Tac". Se eles vão digitar qualquer coisa, eles precisam falar "tac, como se fosse o barulho das teclas. É uma onomatopéia muito fofinha e estúpida ao mesmo tempo, não tem como não gostar, toda vez eu dou risada.


Aqui acho que a sequência do desenvolvimento é: aprender a andar, aprender a falar, e aprender a andar de bicicleta. As bicicletas estão por toda parte, assim como os patinetes e skates e patins. Acho a coisa mais engraçada do mundo olhar um idoso andando de patinete. Franceses são muito disciplinados. Americanos são como crianças mimadas que tem tantos brinquedos que nem ligam ou tomam cuidado com eles, franceses são como crianças que, por mais brinquedos que tenham, sabem que são inteiramente responsáveis por cada um deles. 


Enfim, tô aqui há apenas um mês, tenho muita coisa pra conhecer, muitas manias francesas pra descobrir, e ainda tenho que me acostumar a chamar Lyon de casa. 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Autofagia

Olhou-se no espelho. Olheiras profundas, rosto marcado pelas cicatrizes do tempo. Seu olhar era como o mar à noite: escuro, misterioso, assustador & convidativo. Carregava dentro do peito um bicho muito feroz, que por isso vivia enjaulado; mas às criaturas selvagens nada é capaz de controlar.

Aparentemente calmo, como toda superfície, encobria as tempestades que ocorriam no núcleo mais emaranhado da floresta. As correntes e grades eram uma mera conveniência, um esforço vão para acalmar a consciência. Àquela fera nada continha, fosse à luz do sol ou da lua, rugia com urgência, e enquanto libertava-se destruindo tudo em volta, encerrava seu hospedeiro à prisão.

Contemplativo e impotente, o pobre homem apenas encarava-se. Tinha fome, e na falta de alimento, devorava-se. O bicho em fuga naufragava no mar sem ondas nem farol. Desviou o olhar.

14/10/13