quarta-feira, 4 de junho de 2008

Le chat noir

O amor acaba. Eu vi isso em você, eu vejo em mim e neles. Acaba e evapora, como se nunca tivesse existido em primeiro lugar. Mas isso não quer dizer que não tenha. O sentimento apenas muda. Alguns mudam pra pena, ou pra ódio. Você sente isso.
Num simples olhar, você sente. "Ele não se despediu de mim do mesmo jeito", ela me disse. "Hoje eu senti que ele não me amava mais".

Eu reconheci a situação e não pude confortá-la. Eu não podia mais confortá-la. Ela tentou ontem à noite, e não pude receber esta notícia de outra forma, senão cheia de lágrimas. Agora ela me confortava, por ter feito algo que pedia que eu a
confortasse.

Nesse exato momento eu percebi que não era a boa influência que pensava ser para ela, eu era uma péssima influência, e agora era tarde demais. Ela já estava infectada pela minha tristeza.

Eu já estava apática, vendo-a desmoronar na minha frente. Vendo sua falta de emoção e perspectiva. Vendo e ouvindo nossas risadas agora tão trágicas, tão vazias. Ela não deveria estar assim! Ela não deveria ter ficado assim, tão parecida comigo. Eu me reconheci quando a ouvia, e chorei por mim e por ela.

Pensei em todas as coisas cruéis que ouvi saindo de sua boca, e elas me doeram, mas eu estava tão entorpecida que não consegui sentir dor. Não consegui pensar nela, pois agora pensava em mim, e me odiava por isso, mas ao mesmo tempo não conseguia me culpar por estar assim. Será que nós havíamos trocado de papéis?

Os erros dela só aumentavam. "É tudo culpa sua!", eu pensava em acusá-lo. "Tudo culpa de vocês, loucos!". "É tudo culpa minha!". Quis sair dali, e levá-la comigo. Não aguentava mais aquele lugar, ou nenhum outro. Mas nós estaremos sempre presas
à estes luagres. À este redemoinho que só nos sucumbe. Presas a eles, a todos eles. Talvez tivesse sido melhor...