domingo, 21 de dezembro de 2008

Santiago, 17 de dezembro de 2008

Estava caminhando com minha mãe pelas ruas e vejo que estamos perdidas en el corazón de la grande babylon. "Acho que estamos andando sem sentindo.", eu comento. "Hein? O que não tem sentido?", ela pergunta. A vida, penso comigo mesma, mas continuo andando.
"As pessoas confundem ter com ser.", ela diz ao observar o desfile de marcas pelas ruas. É como se every single person fosse um manequim ambulante, ou uma fotografia saída das páginas da Vogue. Nem as crianças escapam mais, nem los perros, nim los coches. Todas las calles son passarelas.
"Minhas filhas têm valor em qualquer lugar do mundo." Eu já fui mais preciosa, pensei. É como se hoje em dia eu estive em baixa no mercado de ações da bolsa de valores do mundo. Volvo a mim mesma e começo a divagar no porquê. Engraçado que imediatamente recuerdo de quando os EUA passaram pela grande depressão.
É como um prazo de validade, as coisas estragam, perdem a função. Os sonhos, as esperanças,acabam aprodrecendo nas prateleiras do supermercado da alma. Aí tudo acaba em promoção pra que seus desejos e tudo que você sempre quis sejam vendidos rapidinho e substituídos em seguida.
Você se vende, você se compra. Você se consome, você se apaga.
Já são nove da noite em Santiago del Chile, e agora que o sol começa a se pôr. Noites brancas na América do Sul. Noites de sol luminando las calles, los perros, las chicas y los chicos, enquanto los sueños son vendidos às escuras, apodrecendo em becos no corazón de la ciudad.

domingo, 30 de novembro de 2008

Um sopro

Um sorriso leve
breve como uma folha seca pairando no ar
Um sorriso seco pairando no ar
Foi o sorriso que ela deu
abaixou a cabeça e suspirou
Deu as costas e sumiu
Ela entendera a situação
nada mais havia a ser dito
Um sorriso de quem já havia vivido demais
e que nada mais surpreendia
Um sorriso flutuante que se esvaeceu no ar
levado por um sopro

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Haikai da dor

Ai!
O preço que se paga às vezes é alto demais
É alta madrugada já é tarde demais
pra pedir perdão, pra fingir que não foi mal
Uma luz se apaga no prédio em frente ao meu
Sempre em frente foi o conselho que ela me deu
sem me avisar que iria ficar pra trás
E agora eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez
Pensei que era liberdade, mas na verdade me enganei outra vez
O preço que se paga às vezes é alto demais
É alta madrugada já é tarde demais
Mais uma luz se apaga no prédio em frente ao meu
É a última janela iluminada
Nada de anormal
Amanhã ela vai voltar
Enquanto isso eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez
Eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez
Pensei que era liberdade, mas na verdade era só solidão...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Terror de te amar...

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa


Sophia de Mello Breyner Andresen

.

Poema que muito me recitavam numa época, e que não sai da minha cabeça desde então. Poema que me foi recitado outro dia numa ligação, e que hoje veio emergir por aqui.
Faz sentido, agora faz sentido.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.

Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.



Pablo Neruda

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Remendos para relembrar retalhos

Se ainda me quer,
mesmo que mal me queira
Peço que leia o que tenho a dizer
Senti saudade
só hoje fui perceber
Amanheci e anoiteci
Lembrei da voz, do sorriso
e tentei lembrar do que esqueci
e esquecer tudo que lembrei
Tentei fugir do que pensei
Vi que fugi e quis voltar
Mas não estava mais lá,
não encontrei
Quero que saiba de mim
Passe na Frei Querubim
Segure minha mão e diga:
"Dói tudo, faca-verbo, fadiga"
E pra evitar longas brigas
Que fazem parte da história antiga
Deixo um beijo,
um abraço e um aperto de mão
Já deixei parte do coração
Mas hoje sigo
Hoje o beijo é de amigo
O amor achou outro abrigo
E outros braços a paixão

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ela

Ela seria bonita se não fosse feia
E seria gorda se não fosse magra
E seria triste se não fosse triste
E seria cinza se não fosse branca
E choraria à toa se não tivesse motivo
E sorriria sem que fosse preciso
Se não tivesse aprendido a pensar
Ela seria boa se não fosse má
E seria ela se não fosse eu

13/10/08

domingo, 12 de outubro de 2008

Machine gun

Você é um intruso!
Você é um intruso!
Você não pode entrar aqui!
Saia daqui!
Não vê como lhe olham?
E todos olhavam pra ele, apontavam e cochichavam.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
Ele andava assustado olhando ao redor.
Aqueles olhos grandes queriam engulí-lo.
E as vaias ecoavam altas.
A multidão abriu-lhe espaço, dividindo-se em dois lados e formando um corredor, onde ele estava.
A multidão dividiu-se em ódio e indiferença, cada um pra um lado, e ele no meio dos dois.
Vá embora!
Vá embora!
Encontre você mesmo a saída e nós o pouparemos!
Vá antes que seja tarde! - disse uma voz cortante, que fez sangrar-lhe a consciência.
Apressado, assustado, ofegante.
Ele buscava a porta mas próxima para sair dali.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
Ele estava parado mas o cômodo parecia girar a seu redor.
As pessoas do lado do ódio começavam a jogar-lhe raiva pontiaguda, que perfurava sua pele.
Ele começou a correr.
O lado da indiferença soltou um cão, que mordeu-lhe as carnes arrancando grandes pedaços.
Ele continuou correndo.
Finalmente avistou a saída.
Mas já era tarde demais.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
E ele caiu morto no chão, enquanto o ódio e a indiferença se juntavam, pisando o cadáver fresco.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Double talkin jive

Eles estão chegando.
É o que diz um vídeo semeado no youtube que mostra que uma mulher chamada BLOSSOM GOODCHILD vem estabelecendo contato com uma federação alienígena chamada Federação da Luz. Sobre o vídeo eu diria duas coisas: repetitivo e engraçado.
A mensagem diz que dia quatorze deste mês a nave da federação da luz ficará visível em nosso céu, em alguns 'daquilo que nós chamamos países'.
Mas não devemos nos preocupar, eles vêm aqui em amor. Já assistiram 'Marte ataca!'? Pois eu imagino que seria bem assim. Eles falam tanto em 'não se assustem, nós viremos em amor', 'não tentem qualquer coisa pois estamos indo pelo amor', que se
acreditássemos e os recebêssemos desprotegidos cantando Johnn Lennon e all you need is love eles poderiam supreender e nos atacar with their tanks and their bombs and their guns and their bombs. Mas é claro que isso tudo pode ser só mais uma estratégia do governo americano pra nos amendrontar e controlar, eu não duvidaria nada do Bush que não gosta de brócolis mandar fazer uma navezinha pra voar nos céus e lançar uma nova maneira de manipulação popular, ora, pra quem supostamente é responsável pelo 11/9 isso é fichinha.
O que eu realmente acredito é que a boa criança que florece é uma doida que quer um pouquinho de atenção e veio com essa, se é que existe mesmo uma pesquisadora australiana chamda Blossom Goodchild. Enfim, dia 14 tá bim í pra gente ver qualquié. Eu vou tá viajando nesse dia, espero que eles não derrubem meu avião... se bem que se o avião caísse a TAM teria uma boa desculpa dessa vez.
Mudando de assunto, enquanto eu almoço e observo as fotinhos dos meus amiguinhos de orkut online eu penso 'quantos deles será que tão almoçando agora?'. Porque pensar em quantos deles podem tá tendo um orgasmo enquanto logados no orkut seria foda, e eu duvido que Amélie pensaria isso. Por falar em orkut, agora tem um aplicativo que você pode ajudar a Amazônia denunciando as queimadas e desmatamentos que tão acontecendo no Brasil, e ainda disputar entre seus amiguinhos pra ver quem denuncia mais. Eu tenho quase certeza que não funciona pn, mas é bonitinho clicar no denunciar em cima da fogueirinha e pensar que ta ajudando em alguma melhora.
Alora, ba bene, chega de digitar besteira só porque eu não tenho nada melhor pra fazer. Posto aqui o link comédia pra encerrar o post e fica tudo bem, tudo ótimo.

http://www.youtube.com/watch?v=khZQHyVD88s&feature=related

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Do amor e outros demônios

Ela lhe perguntou num daqueles dias se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia.
- É verdade - respondeu ele -, mas será melhor não acreditares.





Do amor e outros demônios, Gabriel García Márquez

sábado, 27 de setembro de 2008

The world is a vampire, sent to drain...

Desumano, eu me pergunto o que essa palavra quer dizer. Afinal, quem realiza os atos desumanos?

Outra quote do Mundo de Leland pra acompanhar:

"I'm only human, man."
"It's funny how people only say that after they do something bad. I mean, you never hear someone say, "I'm only human" after they rescue a kid from a burning building."


Sem querer cair no clichê, mas me parece inevitável: quão racionais nós realmente somos?

Capitalismo é uma merda, socialismo é utopia, dinheiro corrompe, pobreza corrompe. Falar não leva a nada, ação fala mais alto, mas as pessoas ficam tão paralisadas de medo que não conseguem agir.

Você quer saber como as coisas acontecem, mas quando finalmente sabe prefere nunca ter descoberto. Ignorância é uma benção! Eu acho que preferia ficar na caverna, a caverna é segura e dá até pra brincar com as sombras...

Então você finalmente entende como funciona a chamada máquina do mundo e tenta ir contra o sistema com toda sua raiva e revolta, mas isso só lhe faz perceber que é muito mais complexo do que se imaginava, e você assina seu próprio atestado de impotência. Despite all your rage you are still just a rat in the cage.

Quem precisa de vida quando tem heroína? Quer dizer, que se foda a vida e sua falta de sentindo, você fode seu corpo e esquece que o mundo tá fodido.

É cansativo demais ir contra a corrente, por isso a maioria simplesmente aceita conformada. É claro que também existe aqueles que tentam fazer alguma diferença no mundo, não podemos esquecê-los. Aqueles que pregam o comunismo com blusas che guevara, all stars e chaves do carro penduradas no bolso. Aqueles vegans que não deixam de ir ao McDonald's comprar uma coca cola, e aqueles pseudo-revoltados que escrevem textos como esse pra externar a raivinha e continuam sem fazer porra nenhuma pra mudar.

Quer dizer, o que somos? Somos todos hipócritas? Somos todos humanos? O que é ser desumano?

sábado, 20 de setembro de 2008

Manhã de setembro

O céu é cinza,
plácido como as águas paradas de um rio
O vento frio chacoalha as folhas das árvores
Um pássaro negro voa solitário no vazio
Rasgando as nuvens carregadas
de chuva de lágrimas contidas
O céu da boca cheio de cinzas
Arde e solta fumaça
e os negros olhos se fecham
Pra vida que lá fora passa

.

Ficar sem dormir dá nisso.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Abençoados os que esquecem

"Sometimes the most important stuff goes away, it goes away so bad, it’s like it was never there to begin with. It’s funny the stuff that sticks in your head."

Hoje eu tava arrumando as tralhas do meu quarto e encontrei alguns diários, coisas escritas de muito tempo atrás. Eu não lembrava de ter escrito quase nada daquilo, incrível. Pior ainda: eu não lembrava de ter passado por aquelas coisas... chega a ser assustadora a capacidade de selecionar os fatos que a nossa memória tem.
Coisas importantíssimas que desaparecem como se nunca tivessem acontecido, coisas banais que ficam no lugar, coisas banais que mudam, por motivos conhecidos ou não, a memória tá sempre sendo construída e desconstruída e isso muda tudo. Mudar a memória é mudar a vida.
Fróid diz que as lembranças mais importantes sempre somem e as banais ocupam o lugar, linkando os fatos daquilo que não se consegue resgatar. Como no dia em que a irmã dele nasceu e tudo que ele recordava era ter feito uma viagem de trem. Ou quando você conhece alguém e esquece de praticamente toda a interação que teve com essa pessoa, mas consegue perfeitamente lembrar da calça quadriculada que aquela sua melhor amiga da quinta série tava usando na sala de música, ou da camisa branca que talvez não fosse branca que seu namorando usou na primeira vez que vocês se viram.
Eu lembro de uma discussão em uma aula de história no terceiro ano em que o professor disse que o passado era mutável e todos da sala, incrédulos e putos, riram e discordaram (um aluno inclusive se excedeu mais que os outros, gritou com o professor e dormiu o resto da aula, babando o livro de história geral em protesto). Minha posição a respeito disso tudo eu não recordo, mas a cara amassada do menino que dormiu eu consigo lembrar.
Como diria Woody Allen: a história é feita de vencedores, se os nazistas tivessem ganhado a segunda guerra talvez os judeus é que fossem considerados os monstros. A história muda, as lembranças mudam, o passado muda. E nada é tão presente quanto o passado.
O que importa é que nós escolhemos como vamos lembrar ou esquecer do que acontece.
Eu odiei ler o que tinha escrito, odiei minha letra e odiei saber que aos dez anos dava tchau pro diário toda vez antes de parar de escrever, então eu juntei tudo e queimei ('espríto piromaníaco' delicioso). Agora é só esperar que as lembranças sejam levadas junto com as cinzas pelo vento, pra eu poder mudar tudo na minha cabecinha e fingir que certas coisas nunca aconteceram. Ain't oblivion grand? Damn!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Esse poema bateu tanto e tão certo que me deixou sem ar.
Um sábio ancião me disse que o autor, sem saber, o escreveu pra um certo casal... e eu acredito.

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui



Paulo Leminski

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Saudade





Triste parto, sonho de um sonho que se desfaz
Dormir, talvez, e não ser mais
Vida que jaz num retrato
De onde me vês não mais estás...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Where's my mind mesmo!

-Que horas a gente se encontra, então?
-Às dez, naquele lugar que é ponto de encontro pra todo mundo. Não, às dez e quinze, porque eu sempre me atraso, e não quero te deixar esperando.

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-Quando você chegou, eu sabia que era você.
-Não repara no modo como eu tô andando, é que meu pé tá machucado e eu tô mancando um pouco.
-Se não me dissesse isso eu ia jurar que era assim que você andava. Que sua mãe anda assim, sua vó andava assim e todos da sua família.

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-O que você mais gosta quando faz isso? Eu gosto de rir...
-Eu gosto de sentir. - disse ele passando levemente o indicador no braço dela. Ela também gostava de sentir, e naquela noite ele a faria sentir muitas coisas que ela desconhecia até então.

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Eles conversavam, riam, e a noite passava por eles. As luzes dos postes ficavam embaçadas, o vento da praia era frio. Estavam se conhecendo, e pareciam uma supresa.

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-Me dá um abraço?
-Eu prometi me comportar hoje. - mas ela não era muito boa em manter promessas.

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Era um risco que valia a pena correr. They kissed, time slipped. Hard edged, tight lipped. E eles se veriam de novo. Ela lutaria
contra o destino; ele, contra o tempo.

domingo, 24 de agosto de 2008

God only knows what I'd be without you

Todos a consideravam triste e mórbida, mas ela só era intensa. Pensar sobre a morte,
podia ser uma pequena obsessão, quem sabe? Mas pensar sobre a morte, existe algo mais
tocante e comovente? Pensar sobre a morte a fazia sentir viva. Fazia com que ela pensasse sobre a vida.
Essa tarde ela sentia uma emoção estranha, nostálgica e melancólica. Era como se um nó estivesse prendendo sua garganta. Era como se seu coração estivesse em suas mãos, e ela estivesse pronta para entregá-lo a quem quisesse aceitar.
Um coração acelerado e pulsante, que doía a cada batida. E as lágrimas que ela derramou alguns minutos mais cedo, duas lágrimas caindo por sua face. Devagar, frias.
Sua mão também era fria, seus pés eram frios, mas o resto do corpo estava quente.
E o nó continuava lá, meio prendendo, meio sufocando. E ela queria colocá-lo pra fora, queria vomitar o nó, vomitar o coração e tudo mais que estivesse dentro. Ela não dava muita atenção ao que acontecia ao redor, estava muito concentrada em si e nos seus olhos que ardiam.
God only knows what I'de be without you.





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Depois de ver minha vida sem mim.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A decomposição de construir

De que são feitos os valores?
De que é feita a vida?
Essa falta de significado, essa busca de significados.
Vida e morte são a mesma coisa.
Tão inúteis e insignificantes, ambas. Ou talvez úteis e significativas.
Essa sucessão incessante de sofrimento e felicidade. A dualidade do ser ou não ser.
Sendo e não sendo, sendo e deixando de ser. Sendo pra deixar de ser.
No fim tudo acaba no mesmo, ou no começo tudo acaba no fim.
A vida dói e nunca vai parar de doer. Assim como a morte definitivamente deve doer.
A questão é: enquanto vivos nós nunca nos podemos deixar morrer. E a característica
principal da vida é sentir. Sentir todas as dores, sentir todos os cheiros, todos os
sabores, todas as sensações que se pode sentir. Sangrar até não ter mais sangue
nenhum. Desconstruir todas as verdades e todos os valores para construir novos.
Derrubar antigos conceitos pra formar novos encima do muro da essência, que nunca cai
por completo. A morte anda sempre com o símbolo da vida pendurado no pescoço, e a vida...
A vida?


11/08/08

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Quanto mais se fala, age e pensa, mais chance há de contradição. Tudo é tão relativo,
e tudo pode ser interessante, desde que haja concentração e análise.
Estar, que verbo interessante. Até porque não somos, estamos. Tudo finda. E todo final
é um novo começo, mesmo que seja apenas o começo de um fim.

Sacaram o drama? Hahaha. Não, não usei drogas (agora. Rá! que piada infame.), só tô viajando filosoficamente enquanto arrumo os cds. Eles tavam muito cheios de poeira. Ai internet trazendo nossas mp3 e os cds originais ficando abandonados. E desde quando uma miniatura da torre Eiffel serve de porta cd? Tsc tsc pra mim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O quarto

Cinzas de tudo que é passado, alguns fios de cabelo
Muita culpa e tristeza, quase palpáveis
Enquanto isso a chama queima, soltando fumaça
Em meio a gritos e sussurros, sombras e luz
Uns quadros, nenhum pendurado na parede
Lugar para descansar o corpo e uma mente cansada, talvez vazia, ou transbordante
Sem compromissos para agora, apenas fuga
Quebras de promessa e de expectativa
E sempre a reprovação, daquilo que se é e deveria ser
Enquanto ecoam músicas sacras e pecaminosas
E nenhuma lição é aprendida, apenas teias de aranha por acomodação

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Le chat noir

O amor acaba. Eu vi isso em você, eu vejo em mim e neles. Acaba e evapora, como se nunca tivesse existido em primeiro lugar. Mas isso não quer dizer que não tenha. O sentimento apenas muda. Alguns mudam pra pena, ou pra ódio. Você sente isso.
Num simples olhar, você sente. "Ele não se despediu de mim do mesmo jeito", ela me disse. "Hoje eu senti que ele não me amava mais".

Eu reconheci a situação e não pude confortá-la. Eu não podia mais confortá-la. Ela tentou ontem à noite, e não pude receber esta notícia de outra forma, senão cheia de lágrimas. Agora ela me confortava, por ter feito algo que pedia que eu a
confortasse.

Nesse exato momento eu percebi que não era a boa influência que pensava ser para ela, eu era uma péssima influência, e agora era tarde demais. Ela já estava infectada pela minha tristeza.

Eu já estava apática, vendo-a desmoronar na minha frente. Vendo sua falta de emoção e perspectiva. Vendo e ouvindo nossas risadas agora tão trágicas, tão vazias. Ela não deveria estar assim! Ela não deveria ter ficado assim, tão parecida comigo. Eu me reconheci quando a ouvia, e chorei por mim e por ela.

Pensei em todas as coisas cruéis que ouvi saindo de sua boca, e elas me doeram, mas eu estava tão entorpecida que não consegui sentir dor. Não consegui pensar nela, pois agora pensava em mim, e me odiava por isso, mas ao mesmo tempo não conseguia me culpar por estar assim. Será que nós havíamos trocado de papéis?

Os erros dela só aumentavam. "É tudo culpa sua!", eu pensava em acusá-lo. "Tudo culpa de vocês, loucos!". "É tudo culpa minha!". Quis sair dali, e levá-la comigo. Não aguentava mais aquele lugar, ou nenhum outro. Mas nós estaremos sempre presas
à estes luagres. À este redemoinho que só nos sucumbe. Presas a eles, a todos eles. Talvez tivesse sido melhor...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Estrela cadente

Eles eram inseparáveis, faziam tudo juntos. Compartilhavam de momentos e problemas a risadas e cigarros. Se conheciam perfeitamente. Eram o trio de amigos mais unido de que já se tivera notícia.

Jorge era o mais introspectivo. Estava sempre perdido dentro de seu próprio mundinho, que às vezes era maior e mais complexo que o mundo exterior que o cercava. Felipe era o mais equilibrado, sempre sabia fazer a coisa certa na hora certa, e conseguia cativar as pessoas facilmente. Ivo era o mais extrovertido, comunicativo e alegre. Tentava sempre divertir todos a seu redor, e na maioria das vezes conseguia.

Jorge era romântico, acreditava em amor verdadeiro e ansiava por achar o seu. Em toda sua vida tivera apenas um relacionamento sério, com uma garota que amou bastante, mas tudo acabou em uma enorme decepção. Desde então ele começara a manter amores platônicos por qualquer uma que lhe desse um mínimo de atenção. Para ele amor era tudo, e era assim que deveria ser. Para ele o amor verdadeiro salvava, e ele estaria sempre a espera desta salvação.

Felipe era mais racional. Não se deixava envolver. Nunca amara de verdade em sua vida, era um cara de relacionamentos rápidos e noites sem compromisso. Era cauteloso e nunca agia sem pensar. Apesar disso, Felipe mantinha uma forte paixão: seu ego. Garotas não eram tão importantes.

Ivo era confuso em relação ao amor. Por muito tempo mantivera um relacionamento interminável, que oscilava sempre entre comodidade e solidão. Ele morria de medo da solidão, não suportava. Por isso vez ou outra perdoava erros imperdoáveis, se apegava a desconhecidos e mendigava esmolas de afeição.

Era noite e os três amigos conversavam tranquilamente sob um céu estrelado. Fumando cigarros, roendo unhas e bocejando. Não precisavam de muita coisa, só de estarem juntos sentiam-se felizes. Felipe cantarolava uma canção sobre estrelas caindo. Jorge pensava longe, mais uma vez estava se perdendo, enquanto Ivo ansiava por falar com sua nova namorada e contava sobre ela.

Jorge sempre fora aficcionado pelo céu, logo, perdia-se simultaneamente em dois firmamentos quando olhava para o alto. Ele de repente vê uma estrela cadente, e admirado, grita e aponta para os amigos. A cena durou apenas alguns segundos, mas todos, encantados com o que acabaram de ver, concordam entre si que foi a coisa mais linda que já presenciaram. Jorge, então, propõe que façam um pedido.

Felipe foi o primeiro, sem pensar o suficiente, pediu a primeira coisa que veio à sua mente, mas se arrependeu logo depois. Ivo foi o segundo. Pensou bastante e finalmente desejou. Pouco tempo depois teve medo do que tinha pedido, e acabou revelando aos amigos, para que não acontecesse. Jorge demorou mais, não sabia o que queria, e acabou desejando apenas o habitual. Estavam extremamente animados com o que acabaram de ver.

Felipe começava a sentir mais sensibilidade que de costume, e achara que aquela cena marcaria um novo começo em sua vida. Jorge, pelo contrário, não sentira quase nada, e apenas pensava no quanto queria ter alguém para amar e compartilhar o que vira. Ivo deixara escapar uma lágrima, e tentou enganar-se pensando ter visto outra estrela cair.

O certo é que depois daquela noite, por coincidência ou destino, os amigos se separaram. Felipe abandonou o ego e se apaixonou perdidamente por uma garota,
com quem manteve um longo relacionamento. Jorge desistiu do amor, caminhou solitário por muito tempo, triste e miserável, até finalmente encontrar-se e encontrar
sua tão esperada salvação, em si próprio. Ivo agora negava esmolas a quem quer que lhe pedisse. Comprou um gato e fez muitas tatuagens.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

17/04/07

E de repente me deu um frio na barriga,um sentimento de sei-lá-o-quê. Seguido de certa nostalgia,de uma vontade de sorrir. De uma alegria sem um motivo,sem saber ao certo.
E eu parei,e senti. Até aquilo desaparecer,e eu não sentir mais...

.


A verdadeira beleza da vida está contida nas coisas mais simples,que são as mais significativas.São os detalhes que fazem a diferença,as nuances que completam as cores,os pontos que fazem as retas,e as figuras que formam o quadro.

O brilho de um sorriso,a doçura de um olhar,a eternidade de um segundo,a leveza da brisa que sopra,o toque macio da pele,a pureza de uma criança,o som de um sussurro.
As gotas que caem,a luz do sol iluminando a manhã,as partículas de poeira no ar.A leveza das nuvens,o vôo de uma borboleta.A folha que desprende do galho,o botão que desabrocha.O céu avermelhado do crepúsculo.A voz,o timbre,a gargalhada,os sons mudos do beijo.

Os gestos,as danças,as falas.As dores que doem. As delícias e os sabores. O cheiro das rosas,a vermelhidão da maçã.Os peixes no rio,as canoas,as pessoas.Os gritos e as lágrimas,o carro que passa sem parar.
O olhar pela janela,o vidro fechado,o sentir.
A plenitude,o desejo e a satisfação.
O prazer,a vontade e o fim.

.

Gostaram do texto?
Foi escrito por mim,num dos raros momentos de inspiração que me acometem.
E eu devo este raro momento à musica que eu escuto agora,e que escutava na hora.Que música mais nostálgica!

*Comptine d'un autre ete : l'ap-Yann Tiersen

:}




Nem lembrava de ter escrito isso, tava vendo uns posts antigos do fotolog e achei esse aí. Gostei do texto, por isso postei. Até porque voltei a entrar em hiato criativo. Então é issaê!

*Idioteque - Radiohead

P.S.: Depois preciso muito fazer um texto sobre plágio, que isso já tá me tirando do sério!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Bionic

Em dois anos de muita proximidade ela aprendera a ser cristal. Frágil e transparente.
Em duas noites de muita distância, ela aprendera a ser pássaro. Livre e desempedida.
Semanas seguidas dos anos, ela passou na cama. Adoeceu, emagreceu.
Horas seguidas das noites, ela passou dançando. Acordou, encantou.
Hoje ela não pára, segue em frente. Suspira, mas com alívio.
Em breve, o pássaro de cristal voará para longe, pois aprendera que deve migrar, aprendera a seguir o bando e as estações.
E desaparecerá na imensidão do céu, batendo as asas rumo ao amanhã.

*Bionic - Placebo

terça-feira, 22 de abril de 2008

Eu e eu

-Eu acredito que as coisas não acabam por aqui, que tem que ter algo pós-vida.
-Ah, eu não. Sou mais cética. Acho que Augusto dos Anjos tava certo, e todos servirão apenas de comida aos vermes.
-Eu prefiro não me deixar influenciar por idéias alheias.
-Nietzsche dizia isso quando buscava inspiração.
-Mas ele também se deixava influenciar por Wagner e Schopenhauer.
-Eu discordo de Nietszche.
-Eu concordo, em partes.
-Eu queria ser mais otimista.
-Ah, não, creio a vida deve ser encarada da forma mais realista possível, nem que para isso se seja taxado de pessimista.
-Aprendi a sempre ressaltar o lado ruim da vida, e isso é ruim.
-Pelo menos assim não se cria a ilusão de que tudo é bom e florido.
-Eu acho que o amor salva.
-Nem sei se acredito em amor... a humanidade não está preparada pra um sentimento tão nobre como este é cantado.
-Dizem que é eterno, mas prefiro acreditar que é eterno apenas enquanto dura.
-Eu acho que deve ser eterno, e acredito em almas gêmeas.
-Por favor! Quanto romantismo...
-E qual a graça de se viver sem romance, sem intensidade?
-Tem graça sim, assim você não se machuca.
-Não machuca, mas também não sente.
-Prefiro ser livre, desapegada de quaisquer futilidades.
-"Almejas voar e não te sentes livre da vertigem?"
-Goethe é sempre tão sábio.
-Veja Werther, por exemplo. Esse sim era um verdadeiro homem, daqueles sem igual. Morreu por amor, pelo que acreditava.
-Era um dramático, suicida, isso sim. Poderia facilmente ter se apaixonado por outra.
-Ah, não é bem assim. Existem bilhões de pessoas no mundo, mas às vezes só queremos uma.
-Uma que dificilmente valerá a pena.
-Mas existe alguém que valha a pena, afinal?
-Talvez...
-Isso foi otimista.
-Tenho minhas fases, mais que a lua.
-E agora, qual a fase?
-Estou crescente... há pouco minguava.
-Sempre preferi a noite.
-Eu também. Quando era pequena, passava horas admirando o céu.
-Sempre quis ganhar um telescópio, mas o máximo que consegui foi quebrar um, certa vez numa loja.
-Eu sempre quis tantas coisas.
-Eu costumava querer pessoas, era super platônica.
-Queria um cigarro.
-Você não pretende parar?
-Pretendo, não agora.
-Agora, agora deixa de ser agora toda hora.
-O óbvio é tão desprezível.
-Mas às vezes é necessário!
-Existem pessoas que não conseguem enxergar o óbvio.
-Acho que sou assim. Isso é bom?
-Não saberia dizer. As verdades variam. Nada é absoluto.
-Lógico, isso é óbvio!
-Quer dizer... o que é verdade, afinal? Não sabemos de nada, nem sabemos quem somos.
-Eu sei que eu sou eu.
-E quem é você?
-Eu também sou você.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dear diary

Há tempos que não faço isso, mas hoje bateu uma vontade de escrever sobre meu dia. Começou cedo, fui obrigada a assistir o jogo do Flamengo x Botafogo. Nem gosto de futebol, não entendo nada, mas me diverti pra caramba! Por causa das torcidas loucas e das pessoas fora de controle. Passei o dia fora, com ótimas companias. Mas tava me sentindo estranha, sei lá.
Mal tinha comido o dia todo, já que acabei botando tudo pra fora pela garganta de uma forma muito gore. \,,/ (não, nada de mia, não boto mais fé nisso). De repente comecei a apagar, aos pouquinhos, sentir uma horrível dor de cabeça e mal estar físico. Quando minha irmã teve a brilhante idéia de comermos algo. E foi só comer que melhorei 90%.
No carro, comecei a contar pra mamãe do quanto isso era bizarro. Há algum tempinho eu começo a me sentir mal assim quando passo muito tempo sem comer. Parece que alguém aperta o botão desligar, e eu logo me calo, fico triste e passo mal. De repente eu, que podia passar dias sem ingerir quase nada, começar a funcionar assim.
E o pior é que nunca capto que tô passando mal ou fico triste pela falta de alimento. Até comentei do caso mais bizarro, na faculdade, quando henrique foi me visitar e me encontrou semi-apagada, e depois de descartarmos algumas hipóteses descobrimos que era isso.
E, contando tudo pra mamãe, achando the whole situation a coisa mais patética e fresquinha do mundo. Quando de repente, minha mãe (que é médica, pra
os que não sabem) que não acha a situação tão engraçada quanto eu, vira pra mim, seríssima, e diz que estou tendo frequente hipoglicemia, o principal sintoma de diabetes.
Minha família toda, tanto paterna quanto materna é propensa a isso. Meu pai era, e sempre temia que eu e minha irmã nos tornássemos.
Continuando a conversa fui descobrindo que não estava apresentando apenas este sintoma, mas vários outros também.
Tô morta de medo. Muito, muito medo. Scared to death. E hoje mesmo tinha comentado com um amigo que vida sem chocolate não era vida. Mas chocolate é o mínimo, cara. Só de pensar que minha vida pode mudar bruscamente (e pra pior) eu paraliso.
Farei o exame amanhã, já que é requerido que se esteja em jejum.
Espero que a suspeita não se confirme. Eu realmente espero.

*What you give - Tesla

It's not whatcha got, it's a-what you give.
It ain't the life you choose, it's the life you live.
It's only what you give,
It's not whatcha got, a-but the life you live.
It's the life you live.

domingo, 6 de abril de 2008

Por una cabeza

Hoje eu senti saudade. Uma saudade muito forte, que se apossou de mim. Me fez chorar. Soluçar. E veio tão de repente. A saudade mais dolorosa que há! Foi só ouvir um tango que lembrei dele, e desabei a chorar. Por isso evito ouvir tango. São tantas memórias. É tão melancólico pra mim.
Hoje senti saudade de um homem. Mas não qualquer homem. Um dos mais inteligentes e brilhantes, e sem dúvida o mais sensível. A figura masculina mais respeitável que já conheci.
Não nos despedimos, e quando voltei, ele já não estava mais aqui. E nunca mais estará. E toda vez que tento vê-lo, sempre que vou visitá-lo, ficamos tão distantes. Ele não me responde mais, nem me consegue ouvir.
E hoje eu sou tanta coisa sem ele. Coisas que ele não se orgulharia que eu fosse. E isso aumenta meu pranto. Eu sempre sou tão fraca, e ele sempre foi tão forte.
Qualquer saudade é minúscula perto desta. E há tanto tempo que não a sentia assim. Corri e apanhei suas últimas fotografias. Minha memória de seu rosto já se tornara falha. O que mais lembro são as mãos, manchadas da idade, dedos compridos, pele macia. Lembro da voz grave, grossa, zangada e imperativa, e no entanto, às vezes tão doce.
Me orgulho de ter conhecido este homem. De parecer com ele, em diversos sentidos. De ter sido gerada por ele. Me orgulho por este homem ter existido. Por poder tê-lo chamado de pai. Por ter sido a última pessoa que beijou suas mãos já sem vida. Me orgulho desta saudade, e de chorar estas lágrimas quentes por ela. Me orgulho da dor que dilacera o peito, e do sobrenome que carrego. E se me orgulho de viver, e ser quem sou, é por ele.
Meu ídolo, minha maior saudade. Meu muitas vezes esquecimento analgésico. Os tangos nas tardes de domingo. E são quase quatro anos...

domingo, 30 de março de 2008

Trava-mente

A solidão é minha única companhia.
Fujo para enfrentrar as situações.
E o vazio é tudo que me preenche.
Mas chega! Cansei de companhia. Solidão, por favor, me deixe sozinha!
Devo parar de fugir, agora enfrentarei tudo.
Já estou cheia de tanto vazio...

domingo, 23 de março de 2008

Aleatório

Oi!
Olá.
Como você está?
Err... hmmm... bem...
Nossa, tem muito tempo que não a via!
Ahm... desculpa, mas nos conhecemos?
Sim, claro! Não sei se está lembrada de mim, foi há algum tempo atrás...
Desculpe-me, mas realmente não estou lembrada.
Nós estudamos juntos durante uma semana, num seminário.
Há quanto tempo atrás?
Uns três anos, eu acho.
Mas nós nos falamos? Creio que lembraria de você.
Sim, nos falamos uma vez. Você deixou sua caneta cair no chão, do meu lado. Eu a peguei para você e você me agradeceu.
E isso foi tudo?
Foi.
Nossa! Que memória!
Mas não é só isso... você tem que ver a mensagem por trás do que aconteceu aquele dia.
E qual seria esta?
O que tivemos foi uma conexão de almas. Nos olhamos nos olhos, nossas mãos se tocaram, trocamos palavras de agradecimento e gestos de gentileza. Nesse dia eu tive certeza que você seria a pessoa que eu gostaria de viver pro resto da vida.
Você tá falando sério?
Eu sabia que a reencontraria! Pensei bastante em você durante todos esses anos, esperando por nosso reencontro, e ele finalmente aconteceu.
Eu, eu... não sei o que dizer!
Diga que me ama! Diga que me aceita, que aceita ficar comigo pra sempre.
Você é louco, e tá começando a me assustar...
Não me leve a mal, por favor... não a quero perder de novo!
Me perder? Mas você nunca me teve!
Nos meus sonhos você era minha.
Nos meus, você não existia.
Talvez eu existisse, e você não percebia. Você nunca percebeu, mas eu sempre estive lá.
Chega dessa loucura, vou sair daqui.
Não se vá, por favor! Me escute... e o que é o amor, senão loucura?
Amor? Nem nos conhecemos!
Você que pensa assim... mas estou cem porcento disposto a lhe conhecer completamente, se você me permitir.
Não, obrigada. Maluco.
Por que se esconder por trás de agressividade?
Dê-me uma chance! Sou inofensivo... você nunca teve um amor platônico.
Já, vários...
Então?
Mas eu nunca faria isso.
Isso o quê? Será que não vê? Você tem medo. Morre de medo.
E quem não tem?
Todos têm. Mas às vezes devemos passar por cima disso.
E se você for um psicopata?
Você nunca saberá se não tentar!
...
Vamos, eu lhe pago um café e podemos começar...
Eu prefiro cappuccino.
Cappuccino é perfeito.
Então, vamos?
E eu tenho outra alternativa?
Sempre há outra alternativa.
Certo, vou com você... Mas, ei! Eu nem sei seu nome! E nem você o meu!
Não se preocupe, temos todo o tempo do mundo...

.


* Dying - Hole

Remember, you promissed me
I'm dying, i'm dying, please....

sexta-feira, 21 de março de 2008

Adeus! Eu te amo...

É muito importante ressaltar que este texto é fictício, fruto da minha imaginação, que se pôs a pensar em relacionamentos deste tipo. Não quero que confundam nenhuma palavra dita aqui com o real relacionamento que mantenho com meu namorado. Claro que o texto é levado conforme minhas opiniões quanto ao assunto, e foi inspirado na discussão resultante do término de relacionamento de duas pessoas muito próximas a mim. Pode ser considerado um conto, doce e trágico sobre relacionamentos que fracassam.


Espero que depois não perguntes o que fizeste de errado. O problema foi a indiferença com meus sentimentos. Sabias que há muito tuas atitudes não mais me agradavam, e mesmo assim prosseguiste. E contra meus pedidos, o fizeste. Agora eu simplesmente lavo minhas mãos, assumindo a mesma postura omissa que tu assumiste para com minha opinião.

Sabendo que havíamos passado recentemente por uma fase turbulenta, em que o amor que eu sentia por ti fora posto à prova. Sabendo que devido a teus esforços conseguimos superar esta fase, continuaste. E o fato de teres continuado não foi nada encorajador para mim. Na verdade foi o estopim, a explosão final.

Me incomoda pensar que tu não pareceste te importar com a ameça que tua atitude significou para nós, pois apenas seguiste em frente. E ainda disseste que eu precisava ser mais flexível. Pedido este, absurdo, quando durante todos esses longos anos que vivemos juntos o que mais fiz foi ceder.

Então me pergunto agora: que tipo de relacionamento é este? Não tenho tendências masoquistas e tampouco paciência infinita. Claro que tivemos nossos bons momentos.
Sei que tu me amas, assim como te amo, mas tudo tem seus prós e contras, e pesando-se os dois lados, o que prevalece? Talvez a resposta esteja explícita.

O amor que temos é grande e forte demais, mas às vezes, meu querido, aprende-se a duras penas, como eu aprendi, que amor não é o suficiente. É preciso bem mais.
Confiança e compreensão são imprescíndiveis, bem como tolerância, mas esta já foi tolerada demais.

Então por que eu deveria ter a paciência de Jó e tolerar todos os teus erros, para no final ainda sair como a incompreensiva. Quando se quer mudar é ótimo, mas em todos estes longos anos que vivemos juntos tu nunca quiseste.

Ainda assim espero que um dia reconheças, e queiras mudar, mesmo que eu já não esteja mais perto para saber.

E como tu podes querer que eu me sinta, dada a maneira como procedeste? Amada e importante, com tudo que penso e sinto sendo friamente ignorado? É impossível sentir-me assim e ainda ouvir uma espécie disfarçada de 'cala-boca' vindo na forma de 'seja mais flexível'.

E quanto a nós? Onde ficamos, como ficamos? Acho que na verdade tu não te importas tanto assim, pelo modo como ages. Estamos cansados de saber que palavras não são nada, e que as atitudes é que falam mais alto, mesmo que as palavras sejam gritadas garganta a fora. Elas acabam sendo desnecessárias. Como já dizia a sábia música de Depeche Mode.

Meu bem, tu és assim, e não creio que vás mudar. Por mais que tenhamos acreditado nisso durante todo esse tempo. Um dos maiores erros em um relacionamento é
pensar que se pode mudar o outro, mas adivinhe só: não se pode!

E eu sou a prova viva disso. Tu me jogaste fora da tua vida, jogaste tudo para o alto. Talvez tu te arrependas no futuro. Talvez tu te aches a pessoa mais coberta de razão do mundo. Eu nunca saberei, isso apenas tu saberás.

Não me arrependo de nada que fiz, ou de nada que passamos juntos. Apenas lamento que tudo isso tenha que acabar desta forma. Mergulhei neste relacionamento esperando que fosse durar para sempre, esperando que fôssemos casar, ter filhos e um cachorro. Esperando que passássemos o resto da vida juntos. Mas não foi. Mas não foi para sempre, e acabou. Agora acabou.

Eu realmente não queria sair da tua vida, e não queria que tu saísses da minha. Mas se tem que ser assim, assim será. Digo que te amo muito e arrisco até afirmar
que amo mais do que qualquer pessoa já amou. Sentirei muito tua falta, porque tu me marcaste de fato.

Nunca te esquecerei por completo, e espero ainda guardar apenas as melhores memórias. Memórias estas que doerão muito quando forem lembradas, mas a vida continua. Dói, mas continua. E talvez doa mais pra um que pra outro, mas ainda assim
ambos têm de continuar.

Não sei quem superará mais rápido, e pra ser sincera, prefiro nem saber. Também não me conformo com a idéia de que daqui a uns anos, nos encontraremos na rua, nos cumprimentaremos por educação, e todo o sentimento absurdo que um dia sentimos um pelo outro foi embora, já não existe mais, e nos tornamos meros estranhos novamente.

Talvez um dia, quando nos encontrarmos, paremos e pensemos "Esta foi a pessoa que mais amei em toda minha vida!", e logo depois este pensamento pareça apenas distante e engraçado, ou quem sabe, distante e absurdamente triste.

É a sensação de posse, o cuidado extremo e a preocupação imensa. Tudo isso nos mantêm ainda prisioneiros da inconformação. Terminar agora foi difícil, mas depois poderia ser bem pior.

Tu me perguntas como fazer para esquecer, e eu te pergunto exatamente a mesma coisa. Porque apesar de estar encerrando aqui nosso caminho, não quer dizer que tenha esquecido por onde andei, ou tenha uma fórmula pronta para isso. Eu apenas seguirei em frente. Caindo e me reerguendo. E espero que no fim de tudo, consiga tirar alguma lição.

Eu te amo muito e te desejo sinceramente apenas o melhor. Não quero que tu tenhas raiva ou rancor de mim. E por mais triste e difícil que seja, um dia ainda conseguirei torcer para que encontres alguém que te complete e te faça feliz, já que não pude fazê-lo. E espero que tu me desejes o mesmo.

Num fantástico mundo, eu gostaria de pensar que um dia, ambos teremos corrigido todos os piores defeitos que nos impediram de continuar. E neste dia nos encontremos e reconheçamos o quanto fomos inconsequentes de termo-nos deixado ir por estes erros. E então, fiquemos juntos novamente, novamente e para sempre, como sempre quisemos. Mas este dia infelizmente é, e será apenas fantasioso. Alimentado pela esperança que sobreviveu das cinzas do nosso amor.

Adeus! Eu te amo...

domingo, 16 de março de 2008

Inquietude

Começa assim:

The word is a vampire
(pam pam pam)
Sent to drain-ain-ain


Depois passa pra:

I love you babe, and if is quite alright i need you babe
To warm my lonely nights
I need you babe, trust me when i saaaaaay...


Orkut. Meus documentos. "Que merda, não tem quase nada meu nesse notebook!" . "Queria fazer alguma coisa diferente."

Fome. Passa fotos, passa arquivos, procura música. Não encontra nenhuma, porque está pensando em várias ao mesmo tempo.

"Queria poder ouvir várias ao mesmo tempo! Seria divertido..."

Pensa no dia que passou com o namorado. Lembra de coisas engraçadas e dá uma risadinha. Assistiu um filme ótimo hoje. "Eu, você, e todos nós". Assitam.

Fome de novo. "Comer ou não comer? Comer de madrugada engorda mais!" .
"Queria um cigarro, mas teria que ir pro outro quarto."

Escolhe ouvir Foundations, Kate Nash.

"When i'm telling a story and you find it boring, you're thinking of something to say"

Começa a dançar com a musiquinha sussurrando a letra. Visita o fotolog abandonado.

Passa pra Sufjan Stevens . "I can see a lot of life in you"

"Queria ter um par de asas. Eu sairia com elas na rua sem problema algum!"

Trilha de Amelie. Air, Playground Love. Brincar com o PS. Exercitar a criatividade. Cansar de descrever cenas, pensamentos e vontades. Parar de escrever.

E são apenas 2:40 am.

.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Viagens

Às vezes sinto que preciso de férias. Férias de mim mesma. Se tudo é cansativo nessa vida, então por que ser quem se é também não seria?
Há dias em que acordo cansada, estafada de mim. Que precisaria ir pra bem longe, onde pudesse fugir do meu físico, do meu psíquico, do meu espiritual. E quando chegasse lá, neste ponto de neutralidade, passasse muito tempo não me sendo.
Compraria a passagem a preço de leilão, e não importaria a duração da viagem, nem o desconforto. Poderia ser uma viagem de dias num ônibus sujo e fétido, num avião cheio de turbulências, dores de ouvido ou sagramentos de nariz. Ou até mesmo num navio nauseante, pouco me importariam os meios, contanto que levassem para o destino desejado: o destino fora do meu destino.
Lá poderia fazer calor de suar a barriga, com dias dias ensolarados que queimam a córnea, ou frio de congelar a boca, com nuvens estrato no céu, anunciando que ainda iria esfriar mais. Seriam as férias perfeitas, desde que fossem bem longas. E uma vez que tivesse chegado, aproveitaria cada minuto.
Mesmo que pra isso tivesse que acordar antes das sete da manhã,sem tomar café. Mesmo que tivesse que andar o Louvre inteiro, duas vezes seguidas e carregando peso nas costas. Ou atravessaro Saara sem uma única garrafa d'água. Nada abalaria a felicidade de estar bem longe de mim.
E dia após dia, noite após noite de não me ser seriam um bálsamo para o cansaço. Então, quando o tempo finalmente acabasse, e eu realmente tivesse que voltar a habitar-me, voltaria revigorada. Pronta pra ser quem sou pelo resto da longa vida.


-

Texto que eu fiz de uma viagem mental minha. Não gostei muito, mããs vai assim meixmo. E tô nem aí. Depois eu faço um texto sobre um assunto que me incomodou tremendamente essa semana. +_+

Ouki.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Verona, Segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

First orgasm caindo como uma luva à situação. (First orgasm de Amanda Palmer, não o meu, entendam).
Não consigo ficar mais de um minuto sem tossir. Minha garganta já não aguenta mais. Minha barriga já tá malhada de contrações musculares causadas pela tosse incessante. Cada célula do meu corpo dói. Estou com-ple-ta-men-te im-pa-ci-en-te.

Mamãe inocentemente pede que eu me afaste da tela do laptop, mas isso já é suficiente para fazer com que um ódio imenso surja dentro de mim, e se eu tivesse voz, daria alguma resposta energética e desnecessária pra ela.

Enquanto isso a música repete sem parar. A tosse repete sem parar. E a vida lá fora acontece sem parar, ou sem esperar que eu melhore. Enquanto isso estou perdendo a casa de Julieta. A sacada de Julieta, o túmulo de Julieta, e toda a história dos Capuleto e dos Montéquio. Que se passou nesta cidade.

Levanto a cortina pra ver a vista externa. Muita neblina. Muito frio. Maldito inverno europeu! Maldita doença que tira minhas forças e ânimos. Tomara que eu melhore depois do meio dia. São quase onze da manhã aqui. Em São Luís ainda vai dar sete da manhã. Todos provavelmente dormindo ainda.

Pronto. Agora até a vontade de escrever foi-se embora também.

First Orgasm
Dresden Dolls


It is a thursday
I get up early
It’s a challenge
I’m usually lazy
I make some coffee
I eat some rice chex
And then i sit down
To check my inbox
I only read a word or two
I stare across the street and see the churches and the blue
The first orgasm of the morning
Is hard and raw as hell
There wont be any second coming
As far as i can tell
I arch my back cause
I’m very close now
It’s very cold here
By the window
There are some school kids
Yelling and running
I barely notice
That i am cumming
The first orgasm of the morning
Is like a fire drill
Nice to have a little warning
But not enjoyable
I am too busy to have friends
A lover would just complicate my plans
I will never look for love again
I’m taking matters into my own hands
I think i could last at least a week without someone to hold me
I think i could last at least a week without someone to hold me
Won’t you hold me?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Estava ansiosa pra saber o que as pessoas poderiam ter achado da minha nova forma de escrever, então não consegui me conter e sai por aí à busca de opiniões. Exigi que fossem sinceras, e consegui aqui e acolá um "Ótimo, não sabia que tu escrevias tão bem". Não me agradei. Gosto de críticas sólidas e baseadas em algo. Críticas construtivas, positivas ou negativas. Então fui mais a fundo e consegui colher outras, um pouco diferente das primeiras. Nessas eu escutei com todas as letras que devia ter ficado seguindo a linha anterior, que era bem melhor assim. Também sem fundamento. Sem erros apontados. De repente, me dei conta de algo. De algo que aprendi com minha alma gêmea de outros tempos, Rainer Maria Rilke (quanta pretensão, hein?). Lembrei-me de algo que ele diz em Cartas a um jovem poeta :

"Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma (...)"

"E se, deste ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos."

E foi justamente isso que eu achei. Não importa o quanto os outros não gostem, eu sempre irei gostar, porque foi resultado de uma reflexão interna, de um aprofundamento em meu mundo. Tão sutis, tão espontâneos, deslizando em leve e rápida conexão dos neurônios aos pulsos. Pensamentos brutos, não lapidados. E por isso eles me agradaram mais. Escrevi ainda por esses dias dois textos novos, que aqui vão:

Dias cinza

Chove por dentro
Alagandando-me a alma
Gotas d'água transbordam pelos olhos em cascatas
Marejando-me a face
Uma tempestade ocorre dentro de mim
Trovões de meu medo ecoam ao longe
Nuvens carregadas de ódio chocam-se
Provocando relâmpagos de sentimentos
Outrora tão fracos e apagados
Dias cinza estão por vir

11/01/08


Sentindo ainda teu beijo em minha boca
E teu cheiro em minhas mãos
Minha mente andava ocupada
Com a imagem de teu sorriso
E quando regressava para casa,
Depois de encontrar-te
E o peito apertava
Por que tive que deixar-te
Pedi, obrigada pela saudade,
À gélida brisa da madrugada,
Que um recado te entregasse
Disse a ela que desse por mim
Um doce beijo em tua face

13/01/08

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Tava sufocando, sem poder escrever. Meu blog antigo, como todos já sabem, pifou de vez, e não me permite mais postar lá. O que é uma pena, como todos também já sabem, porque eu adorava aquilo lá, que já tava minha cara. Agora cá estou eu neste recém-nascido. Como uma casa para qual você acaba de se mudar. Não tem quase nada que lhe pertence lá, e você não consegue evitar a sensação de impessoalidade. É como se fosse tudo, menos sua casa. Apenas um lugar pra ficar. E é assim que eu tô me sentindo nesse blog estranho, com templates que não têm nada a ver comigo, e um sistema ainda desconhecido.

Eu também passei por um dos piores hiatos criativos que já tive, que parecia não querer terminar. Mas ontem, quando em plena madrugada não conseguia dormir e fui acometida por palavras torrenciais, pulei da cama, peguei meu caderno (sim, às vezes prefiro caderno à notebook, tá que o notebook me faz sentir uma Carrie Bradshaw escrevendo, mas o caderno e a caneta são mais oldschool) e deixei fluir...

E fluiu, saiu tudo naturalmente, deslizante, nada forçado. Hoje, no meio de um beijo com meu namorado (espero que ele não veja isto) surgiu outro texto na mente. Just out of the blue! E foi assim que eu tratei de dar boa noite e correr pra externar tudo aquilo no papel. (Mentira, eu terminei de beijá-lo, e não apressei nada) Mas é tão bom voltar a escrever, ter algo interessante pra falar...!

Logo, vou postar o texto que fiz ontem, e o de hoje aqui. Eles tão numa linha totalmente diferente de tudo que eu costumava escrever, mais fortes, mais diretos. Talvez seja a tal da maturidade literária chegando (tá bom, sua escritorazinha de gaveta!). Hahaha, mas que é alguma coisa, é. E isso me dá um ânimo enorme, que acaba se refletindo em outras coisas. Ou quem sabe o ânimo enorme é que espelha as outras coisas? Whatever, deixarei de encher linguiça, aqui vão os textos:


Nós, humanos, tão pequenos e vulneráveis
Perdidos no meio de nossas invenções
Tentando achar algum sentido
Banalizando cada ato
Ignorando as perguntas
Seguindo o fluxo
Parados e protegidos dentro de nossas casas,
Dentro de nós mesmos
Efêmeros, tolos, vazios
Egocentrados
Apressados,
Desolados
E no fim, como no começo,
E quem sabe sempre,
Sozinhos.

09/01/08



Corpos descartáveis

Corpo é corpo, em qualquer lugar que você vá
Boca é boca, e beijo é beijo
Qualquer boca é beijável
Corpos servem para ser usados
Usados e abandonados
Corpos são descartáveis
É a alma que se atinge,
Surtindo efeito ou não.
É com a alma que se trabalha.
Corpo é tato
Boca é beijo
Lábios, língua, desejo, vontade
Movimentos
E desejo é desejo,
Não importa onde se vá.
Rostos são fatos
Pessoas não se vêem de fora
E sim por dentro.
Cheiros e gostos,
Beijos e rostos
Todos diferentes
E, logo tão parecidos
Pessoas são pessoas, onde quer que se vá
E nada muda, tudo se repete
O ciclo sempre se recicla,
Sem cessar.

10/01/08