sábado, 2 de abril de 2016

Contratempo

O relógio acaba de mostrar que deu 5 horas. Nada acontece de novo. 5 horas de quê? Da tarde. Talvez já seja tarde. A vida é uma sucessão de esperas ditadas por uma máquina ritmada que nos mostra números de 1 a 12 de quando em quando. Multiplique-os e divida-os pela soma total. Quando tempo até a consulta? Quando tempo até encontrar os amigos pra cerveja da sexta-feira? Quando tempo tenho pra dormir antes do trabalho? Já é hora de ser hora de alguma coisa. Quem inventou o relógio não sabia o que fazer com seu tempo, ou sabia exatamente o que fazer: captura-lo e prendê-lo dentro de uma máquina e tornar a todos dependentes desse ritmo pontuado engrenado e mecânico. Rebelde é o galo, que canta no seu próprio tempo e acorda quem ele quiser. Já está na hora de acordar e ver que quem passa é você, não o tempo. O tempo é um impasse lento de resolver.

Réquiem de alguma coisa

Aquele que ama os mortos
que ainda vivem
E faz amor com
memórias há muito apagadas
Que se apega a fantasmas esquecidos
E esquece coisas que deveriam ser lembradas

Necrofilia tortuosa
Anestesia inebriante
Poesia em prosa
Inimigo em amante

Vela acesa em quarto escuro
Funeral de uma ilusão
Foi aborto prematuro
Do amor grávido de razão

07/06/13

Ar/Dr

Eu não sabia o que seria de mim, de nós, depois daquela noite. Eu não sabia o que sentiria depois que entrássemos na vida um do outro, sem pedir licença, invadindo tudo que era espaço vazio, das nossas mentes, dos nossos corpos, dos nossos corações. Bêbados, alterados, sóbrios, juntos, distantes, sintonizados. Desregulamos nossos relógios, desacertamos os ponteiros e descruzamos os dedos, que juntos, pareciam prontos para voar. Eu não imaginava a falta que você faria todos os dias, eu nunca permiti que você levasse embora consigo um pedaço de mim, mas você foi mesmo assim.

~30/05/13

Postando vários rascunhos antigos, sem nenhum motivo específico. Talvez desencaixotar tudo que andava guardado.