sábado, 18 de fevereiro de 2012

Simplicidade

Um passarinho no telhado
Um dia nublado
Uma melodia simples tocando ao fundo
- os pequenos detalhes do grande mundo
Um sorriso descontraído
A dança das folhas de uma árvore
Um barquinho à vela
A onda quebrantando no mar
O pôr-do-sol
Um filhote ao acordar
Um arco-íris no céu
Aviaozinho de papel
A voz de quem se ama
O amarelo vivo da chama
Luz de vela em noite escura
Céu estrelado na fazenda
Neblina numa manhã fria
Pijama de flanela
Cheiro de brigadeiro na panela
O barulho do sino da igreja
Em apenas uma tardezinha
Toda a beleza da vida se aproxima.


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Isso não tem a pretensão de ser um poema, classifiquem como quiserem, só veio à mente anteontem, naturalmente enquanto eu ouvia a trilha sonora do Carteiro e o Poeta

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Adultos

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.

Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão,
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos de água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.

Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.


- Vladímir Maiakóvski