segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Rascunhos quase terminando

Pra acabar logo. O primeiro fala de uma notícia que eu vi no jornal, do menino holandês Ruben van Assow, de nove anos de idade, que foi o único sobrevivente de um acidente de avião que matou 103 pessoas na Líbia. Com essa notícia, eu, que acreditava piamente em destino, comecei a ter dúvidas ventiladas pelo acaso. Porque aquele menino, e justamente aquele menino no meio de tantos? Será que foi algo meant to be ou meramente uma manifestação do caos que rege esse universo? Bem, até hoje não consegui decidir a resposta pra essa pergunta, mas fiz esse texto pra expressar um pouquinho o que borbulhava na minha cabeça à época. Já o segundo texto eu não consigo lembrar o contexto em que nasceu, e olha que foi escrito um dia depois desse do menino sole survivor. E tá muito ruim, mas vai assim mesmo.


Rascunho abandonado em: 18/05/2010

Eram nove da noite e ela estava inquieta. Achava-se estranha de uma forma que não compreendia, como se sua alma estivesse se revirando. Ela não conseguia pensar, não conseguia mais pensar sobre muita coisa, agora ela só sentia. Forte, fraco, bem ou mal, e a intensidade das sensações ocupavam-lhe tanto espaço por dentro, que acaba não sobrando nada para o entendimento do que lhe acontecia. Ela, sempre tão eternizada dentro de si, havia virado uma pessoa instantânea.
Uns dias atrás, havia lido uma notícia no jornal que lhe balançara as estruturas da percepção.


Rascunho abandonado em: 19/05/2010


Ai meu deus, vai, toma logo essa minha alma que dói dentro de mim.
Sem ela, um vazio ocupará espaço dentro de ti.
Um vazio a mais, um vazio a menos, não faz diferença...
Mas se ao menos eu soubesse o que faz diferença.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A faxineira

Salut! Mudei de idéia: não vou mais postar a tradução que falei no post passado, pelo menos por agora. Depois se pá eu mudo de idéia. Esse texto que vai hoje é antigo, e o título da postagem é o mesmo do rascunho que segue.

- Rascunho abandonado em: 04/05/2010


Eu era um cara reservado, tranquilo. Um escritor boêmio desses tão característicos que chegava a beirar o clichê. Ultimamente estava passando por uma fase depressiva, meio negra. Passava os dias em casa, de portas e janelas fechadas, saindo apenas para comprar umas cervejas e o jornal diário na banca, nada além da minha rua.
Não estava me importando muito com o modo como estava vivendo, parando a vida, eu acho. As poucas pessoas que faziam parte da minha esfera afetiva estavam começando a ficar preocupadas. Diziam que eu havia emagrecido, que estava assustadoramente pálido, que meus olhos pareciam covas de tão fundos, e que uns primeiros cabelos brancos estavam querendo aparecer. Bem, eu não ligava. Tudo que queria era ficar quieto, na minha, me esconder do mundo.
Ninguém entendia por que eu havia decidido me resguardar num exílio próprio, domiciliar. Nem eu entendia direito, de fato, como isso começou, mas uma vez que começara, já parecia ser para mim a única realidade existente, como se sempre houvesse sido assim.
Os conhecidos reclamavam, os amigos cobravam muito, como se fosse uma obrigação eu estar sempre presente, sempre ali... naquele lugar comum à vista de todos, à vista da sociedade, à vista das bocas e dos ouvidos. Mas aquilo já não me interessava mais, nem as luzes dos holofotes que um dia me ofuscaram os olhos, nem a prestação de contas e as satisfações que todos supunham que eu fosse obrigado a dar. Ninguém entendia que me era permitido sumir, que eu tinha o direito de ir e vir, de aparecer e desaparecer. Tá na constituição.
Meus familiares então, não aguentando mais me ver naquele estado que para eles parecia deplorável, contrataram uma faxineira para limpar minha morada, já que eu não me importava mais em fazê-lo.
Era uma quinta-feira pela manhã quando abri a porta para ela, Antônia. Abri a porta e deixei-a entrar em casa, sem ligar muito para aquilo, e me enfurnei no meu quarto, onde eu podia ficar sem ser incomodado, à sós com meus pensamentos.
Passei lá algum tempo, algumas horas, alguns minutos. Talvez tenha cochilado, era difícil dizer. Tive vontade de pegar uma cerveja, então me levantei e saí do quarto em direção ao resto da casa. E qual não foi minha surpresa ao ver como estava a casa!
Na sala de jantar, Antônia havia pendurado na parede um antigo quadro meu, que há muito tempo jazia esquecido de cabeça para baixo, ocultando meu retrato, soberana. O cômodo todo parecia ser governado por aquele retrato sóbrio, cheio de certezas, alto, acima de todos os móveis.
Fui ao banheiro, e outro susto levei quando vi o espelho. Estava limpo, nítido, e eu pude me ver! Depois de tanto tempo, pude me ver! Sem sujeira nenhuma entre o espelho e eu, sem borrões entre meu reflexo e eu, sem manchas entre eu e mim. Fiquei olhando aquela imagem, admirado, espantado. Meus olhos realmente estavam fundos como covas, como diziam, e contrastando com eles havia um olhar raso que os preenchia. Era eu, e há tanto tempo que não me via! Só então, ao encarar aquela imagem minha que me contemplava, percebi que até mesmo para mim mesmo estava sumido.
Deixei o banheiro e fui a outros cômodos, notei que os móveis estavam ocupando lugares diferentes do habitual, os livros estavam arrumados, a antiga estrutura inteira de organização estava rearranjada, e eu gostei. Havia gostado das mudanças que aquela mulher, que colocava o dever antes mesmo às necessidades de seu corpo, não parando nem para se alimentar enquanto trabalhava, tinha trazido a meu espaço.
Com a faxina, muita poeira que eu nem sabia mais que estava ali se levantou e se tornou perceptível, começou a me incomodar. Isso irritou meu corpo, e meu sistema, que ingeria toda aquela sujeira acumulada, tentou expulsá-la, e eu comecei a espirrar sem parar. Comecei a passar mal, a sufocar. Achei que ia morrer, estava tendo uma crise horrível de alergia. Passei algum tempo agonizando, horas, minutos. Talvez tenha desmaiado, era difícil dizer.
Então aquele mal estar foi esvaecendo, deixando meu corpo, e aos poucos fui me recuperando. Percebi que toda aquela poeira acumulada tinha que levantar e se dispender no ar. Que aquela sujeira tinha que se tornar visível para que eu pudesse enxergar e mandá-la embora. Assim, daquele dia em diante, comecei a respirar melhor.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Interrompemos a nossa programação

Dando um tempinho dos rascunhos para um breve intervalo não-comercial.

Eis que eu tava vendo as estatísticas do blog e percebi que só hoje recebi 11 visitas da Holanda. Como? Só se eles estiverem lendo as poucas coisas escritas em inglês aqui, como as quotes de filmes que eu gosto e transcrevo, ou citações literárias, ou até uns poucos textinhos que arrisquei escrever nessa língua. Além disso, os Estados Unidos são o segundo país que mais me faz visitas por aqui, antes até de Portugal.

Saca só o ranking, se te apetecer:

- Visualizações de página por país desde maio de 2010 -

Brasil: 1.081 visitas
Estados Unidos: 123
Portugal: 79
Holanda: 11
Coreia do Sul: 8
Equador: 7
Rússia: 5
Canadá: 3
Reino Unido: 3
Angola: 2
México: 2

-

Enfim, fico felizona com essas estatísticas. Claro que sei que o mais provável é que eles só tenham parado aqui por acaso, e que assim que percebem que o blog tá escrito em português, saem imediatamente. Sim, eu imagino. Mas só de pensar que tem gente lá do outro lado do mundo olhando algo, e talvez lendo algo, que saiu da minha humilde cabecinha que habita em São Luís do Maranhão; algo que nasceu íntimo, tímido, sussurrado..reflexões minhas sobrevoando os oceanos; expressões das minhas impressões sendo digeridas por pessoa que nem faço idéia de quem sejam, eu penso: PUTA QUE PARIU, internet! Puta que pariu.

Eu, filha da chamada geração 'millenium', cresci junto com a internet. Vivi alguns anos da minha vida sem que ela sequer fizesse parte do cotidiano das pessoas, acompanhei suas evoluções, em velocidade, em capacidade, e continuo acompanhando. Eu, que fiz parte de um mundo onde as pessoas rebobinavam a fita cassete no dedo, cresci ouvindo discos de vinil na radiola e usei celulares analógicos, ainda não perdi minha capacidade de admirar (sic) a globalização do globo.

Todos nós somos cada vez mais parecidos, mais próximos. Estamos mais perto. A todo momento pessoas dos mais diversos cantos do mundo têm acesso à sua rotina, seus pensamentos, seus gostos, sua imagem. Somos todos anônimos vivendo em um constante não anonimato. É muita coisa, é muita informação, é muita gente.

Certo, porém a intenção apriorística desse post nem era discorrer sobre a internet ou sobre o mundo globalizado. Na verdade o que eu queria era apenas avisar que ninguém de nenhum país francófono me visitou ainda, pas encore. E dizer que eu queria publicar a primeira tradução que fiz do francês pro português na vida, um poema de Baudelaire. É claro que agora, depois dessa verborragia intensa, eu preciso ficar em repouso. Então deixo vocês com o link de um vídeo muito bom que vi outro dia, e que fala sobre esses assunto que eu abordei aqui. Vejam mesmo, vale MUITO a pena. E se você teve paciência o suficiente pra ler meu texto até aqui, pode perder seu tempo vendo coisa bem mais interessante, como esse vídeo.


E é issaí!

Clica:

We all want to be young

sábado, 20 de novembro de 2010

Rascunhinho

- Rascunho abandonado em: 22/06/09


Às vezes tinha que segurar os pensamentos na cabeça e não deixá-los escapar à boca, sabia que sairiam numa voz encharcada de emoção que poderia facilmente inundar os olhos, permanecia calada.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mais rascunhos

São 09:15 da manhã e eu ainda nem dormi. Já comecei a enjoar dessa história de rascunhos, então pra coisa andar mais rápido, agora eu vou postar mais de um por vez. E o bom é que esses que seguem aqui são pequeninos, então não fica um texto enorme. Sem longa introdução dessa vez. Lá vai:


- Rascunho abandonado em: 28/11/08


O espírito da escada

Aproveite antes que seja tarde, porque pode realmente ser. E você nunca sabe, nunca sabe quando é tarde demais. Talvez o cedo é que não exista, por isso viva, viva bem antes. Viva antes de descer a escada, aproveite o corredor.


- Rascunho abandonado em: 15/06/09

Parfois é melhor deixar pra lá, parfois é preciso brigar. Do lado de cá nada é diferente do que acontece acolá. O manto de bondade que te veste cobre a covardia de ser má. Medo de sangue.


- Rascunho abandonado em: 05/09/09

Sentados no chão, cercados por pessoas que dançavam e a festa que acontecia. Eram duas pessoas que se conheciam muito bem, mas ali, e depois de tanto tempo, agiam como dois estranhos que se gostavam levemente.
Alguém precisava tomar iniciativa. Ela o fez no início, e ele tratou de terminar.


-Nós dois somos muito parecidos. Me fala da tua vida, dos teus pensamentos de agora.
-Ah, eu não quero ser chata.
-E tu vai me deixar ser chato sozinho?
-Talvez por isso que a gente nunca tenha dado certo.
-É, eu sei. Por nós sermos muito parecidos.
-Talvez nem fosse pra dar.
-E talvez nunca seja.
-Mas eu queria dizer que te amo. E pedir desculpa, por tá dizendo isso muito atrasado.
- ...
-Isso de falar o que a gente sente realmente deixa a gente se sentindo bem mais leve.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Let there be doubt! And the doubt was made...

Bom, sem enrolação porque eu tô com sono. Ultimamente só tenho atualizado esse blog com sono mesmo, já que meu único trabalho tem sido fazer uma pequena introdução sobre o rascunho que vou postar e postá-lo.
Então, esse texto eu escrevi há dois anos, mas ainda penso igualzinho. Na verdade o texto é um resumo do que eu penso sobre a grande maioria das coisas, é uma parte do meu mundo dentro de uma casca de rascunho, sacoé? E relendo eu até gostei dele, não lembro porque não postei antes.
Dizer que se gosta de um texto que você mesmo escreveu pode soar um pouco presunçoso, não? Mas bem, como as impressões que passamos de quem somos para as pessoas são duvidosas, vou clarificar aqui. Eu não acho que eu escreva bem. E eu não acho que eu escreva mal. Mas escrevendo bem ou mal eu não posso me poupar da auto-crítica em relação a meus textos, capisce?
Essa explicação toda lembrou o que disse hoje uma amiga minha da Ufma, que tinha sonhado que numa vida passada eu fui casada com Dostoiévski e o espírito dele me possuía e me inspirava a escrever. Bonito, né? Até a parte em que ela disse que no sonho eu também era psicótica e tava desesperada por ajuda. Tudo bem, tudo bem, olha a impressão que minha persona tá causando no inconsciente dos outros.
O rascunho não tava intitulado, mas eu vou colocar aqui (no título da postagem) um que me veio à mente agora. Em inglês, pra combinar com a quantidade de estrangeirismos do texto que segue.


- Rascunho abandonado em: 24/09/08



Na Idade Média a religião era o top of the pops. Tudo era explicado, justificado, feito, deixado de fazer, por ela. Depois veio o Renascimento, clareando todas as idéias e chutando pra longe a bundinha negra das trevas, com suas artes, filosofias e novos saberes. A religião ficou no banco de reserva e o homem girou em torno de seu próprio umbigo, filosofando, especulando e buscando motivos e causas e respostas... então veio a ciência.
Outro dia me perguntaram o que achava da ciência. Eu acho que do jeito que as coisas andam, nosso calendário vai adotar um novo marco: Antes da Ciência - Depois da Ciência. Ela é o novo deus, Cristo é tão last week perto dela, isséqueuacho. O mundo contemporâneo faz da ciência a nova religião, tão autoritária e dogmática quanto qualquer outra. Com seus métodos rigorosos, suas técnicas e seus mandamentos, é o perfeito deus adorado pelos ateus.
Os céticos declaram sua fé nesta, como qualquer fanático por Buda, Gandhi, Lúcifer, ou o que for. Quer dizer, ela é a detentora da verdade e a crença dos descrentes. However, nem tudo é provado pela ciência, isso é sabido (ou pelo menos deveria ser). A ciência é falha, a religião é cega, a filosofia tem astigmatismo e a justiça olha muito mais cores e formas do que deveria. Então você pensa: no que se segurar?
Minha muleta preferida é a dúvida. Talvez eu tenha sido condicionada a duvidar, talvez isso seja um reflexo, but one thing I know: ela é necessária. A dúvida não falha porque ela já é a falha, não cega e enxerga até no escuro.
Despite of all these, minha dúvida não me faz cínica. I do believe in fairies, já vi a verde por aí em alguns rótulos de garrafas, acredito no Nirvana de Kurt Cobain, amém. Acredito no capitalismo que me alegra os bolsos e no socialismo que aleg(r)a a utopia. Acredito em Sócrates, acredito que penso e talvez não exista, acredito no sol, no tempo e em Woody Allen, e acima de tudo, acredito na ignorância.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Continuando com a era dos rascunhos

Pra ser sincera antes desse rascunho abaixo havia outro esperando a vez de emergir, mas era um pouco pessoal, envolvia muitas pessoas e até citava nomes... foi algo que eu tentei fazer tipo: as frases célebres e memoráveis de alguns conhecidos e amigos. Mas acontece que as circunstâncias mudaram, o tempo tempo tempo tempo passou, e eu não me sinto mais tão à vontade pra expor aqui nomes e pensamentos das pessoas que são citadas ali. Pelo visto nosso referido post nunca chegará a respirar o mesmo ar que os textos-obra-final, minhas condolências, caro rascunho, quem sabe um dia Então... PRÓXIMO!
Esse texto que vocês vão ler abaixo foi escrito em inglês. Eu não lembro exatamente das circunstâncias que me levaram a escrevê-lo, ou o que exatamente eu estava pensando. Hoje, relendo isso que eu escrevi há tanto tempo, me parece até meio sem sentido, mas é o que eu tava pensando na época em que escrevi, deve fazer algum sentido, afinal. Ele tá aí e eu não vejo nada que possa me impedir tanto de postá-lo como rascunho aspirante a obra final. (Desculpem as repetições de palavras, é o sono. Tô caindissono aqui, mas resolvi atualizar pra não ficar muito abandonado). Então sem mais delongas e longas enrolações.


- Rascunho abandonado em: 26/07/2008

The human dilemma

I won't get caught in this sinful spider web
Fed by my guilts and fears
I'll free myself from these ties
And let my stream of consciousness wash it all away
I'll swim through the dark water
of this great river of life
We all end in the same deep ocean
But few are those who can survive death
Pure love has never existed
It's only vanity and desire
The tragical circus of society

domingo, 5 de setembro de 2010

Nova política momentânea

Oi, tempão sem postar aqui. Achava que esse blog tava abandonado às moscas e ninguém, nem mesmo eu, aparecia mais por aqui. Felizmente eu descobri hoje a ferramenta "estatísticas" (que já nem deve ser nova, por sinal), que me mostrou quantas visitas o blog tem recebido por dia e me permitiu ver que as coisas por aqui não estavam tão abandonadas assim.

Então, não sei por que, mas resolvi adotar uma nova política a respeito daqui. Talvez pelo simples motivo de manter isso ativo mesmo quando eu não tiver tempo ou inspiração. A nova política consiste em postar todos os rascunhos antigos que nunca foram postados e ficaram presos na pasta rascunhos por todo esse tempo. Pois bem, a partir de hoje está decretado que os rascunhos se tornarão obra final. Eles também, bons ou maus, merecedores ou não dos elogios, críticas e comentários de vocês, merecem respirar. A partir de hoje é igualdade para todos, uma democracia de textos meus sendo implantada.

O pior é que alguns dos rascunhos têm razões de sobra pra não terem sido postados: me desagradaram, ou não me agradaram suficientemente pra terem sido publicados. Mas agora serão, vou dar uma de Caio Fernando Abreu e publicar minhas ovelhas negras. Só temo mudar de idéia ao me deparar com uma ovelha negra mal tosada (leia-se um texto tão hediondamente grotesco que meu superego não me permita postar aqui de jeito nenhum) e eu acabe virando uma governante corrupta, escondendo o rascunho dos rascunhos que virarão obra final. Caso isso aconteça, eu mesma torço para que os rascunhos tomem o poder e instaurem uma ditadura rascunhista, impondo seus direitos de aparecer, todos, sem que importe se são ovelhas ou bodes.

-

E, pra fazer valer minha promessa, o primeiro rascunho dos muitos que virão até que acabe este regime de ovelhas negras, bodes, e vacas magras.

- Rascunho abandonado em: 03/09/2007

A graça das coisas

A graça de se tirar uma fotografia sorrindo é quando o sorriso é espontâneo, quando você já estava sorrindo por algum motivo, alguma alegria, e alguém, encantado pelo momento, se oferece para lhe fotografar. Não quando você pega uma câmera e mostra todos os dentes, tentando passar uma alegria plástica. Não funciona. A alegria que você passa com este sorriso forçado é tão falsa quanto a impressão que você quer causar.

A graça em ouvir um "eu te amo" é quando este vem inesperado. Quando a pessoa que lhe presenteia com esta simples frase, diz com significância e verdade, quando a sinceridade pode ser ouvida em cada sílaba. Não quando o "eu te amo" vem à toda hora como um "bom dia" ou um "que horas são?"

A graça em presentear alguém está na vontade de agradar. Na sensação que você espera que o outro sinta, quando esta sensação lhe agrada mais ainda, por simples prazer de deixar alguém feliz.

A graça em escrever um texto está na mensagem que você quer passar, na inspiração que lhe acomete e lhe força a escrever, na vontade que as palavras têm de respirar.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Notas de um qualquer último domingo de maio

E enquanto conversávamos sobre a vida
e os amores que nela se perdem e
se encontram
teus olhos
buscam respostas
nos meus cheios
de perguntas
que te contemplam

Enquanto tu falas
de teu amor uno
eu penso nos meus tantos
que foram únicos um dia
e hoje se fizeram vários
dispersos e dispendidos
já se perderam há muito
no vento que agora assopra
nossas peles

Depois de algum tempo
E algumas canções recheadas de dança
Eu olho preocupada a chuva cair pela janela
as roupas brancas no varal
E se o céu sangrasse
e manchasse
de vermelho
aquela brancura toda?

Volto pra mim e penso
naquilo tudo
em nada
e no quanto sou boba
Achei que estava me levantando
Um ano depois da queda
Uma volta inteira em torno do sol

Tento dispensar as muletas
E saio mancando
pelo chão esburacado
que encontro à minha frente



30 de maio de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Algumas coisinhas do dia...

"Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás dos vidros canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
- Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?"

"Quanto a mim, só sou verdadeiro quando estou sozinho."

"Despersonalizo-me e tiro-me de mim como quem tira uma roupa. Despersonalizo-me a ponto de adormecer."

- A hora da estrela, C.L.


(Tava separando uns trechinhos desse livro que li essa semana. Esperava algo bem diferente, apesar de ter gostado bastante. Acho que se o livro correspondesse às expectativas minhas, não teria sido escrito por Clarice, ela não poderia tê-lo escrito diferente).

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Aí vi alguns vídeos da Miranda July (essa mulher é realmente uma inspiração!). Deixo esse aqui:

*Clica* Miranda July + Blonde Redhead


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Tava mal dormida por ter saído ontem e ido ao alemão hoje cedo. Aprendi que a bebida mais consumida na Alemanha é o café, os alemães ingerem 280l por ano. A famosa bier vem em terceiro, com 250l/ano, e em segundo vem as bebidas refrescantes como água (que eles preferem com gás segundo meu Herr professor) e o iced tea.
Bem aleatório isso que eu falei, hein? Mas enfim, hoje tô achando que alemão nem é tão difícil assim, e francês é até mais. Deve ser porque eu não tenho tanta confiança na atual professora como tinha em Eva, ou só porque francês é une langue vraiment très difficile.
Enfin, meio de mau humor (talvez pelo pouco sono, apesar do cochilo vespertino), tava pior e já melhorou um pouco. Aí tô ouvindo o Devendra.

*Bad girl - Devendra Banhart*

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Vou desligar, então.

sábado, 29 de maio de 2010

E as rosas no palco?

O próximo ato já começou e não percebi. Perdi-me na peça em que sou atriz principal. Fiz-me espectadora, assistindo do alto, intocável, distante, dispersa. O tempo passou e não vi. Surdei-me aos aplausos; e as vaias, escutei-as em todos os seus tons. Quis fugir dos holofotes, esconder-me. Tentei achar enredo, título. Batizei-a de vida e não liguei para o público. Os ingressos esgotaram-se, mas ingressei apenas uma vez. O contra-regra sou eu, eu sou o contra-regra. Decido a hora de fechar a cortina, e acabou-se o espetáculo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quando o tarde demais começa...

Seria bom se pudéssemos saber quando o tarde demais começa. Se pudéssemos receber algum aviso do tipo "Você está prestes a adentrar a área do tarde demais. Cuidado, esse é um caminho sem volta!", uma espécie de alerta. Assim saberíamos a hora exata de parar, ou quando continuar.
Saber quando é tarde demais para começar algo, tarde demais para terminar algo. Quando será que cruzamos essa fronteira imperceptível? Porque quando percebemos que a ultrapassamos já é tarde demais.
Tarde demais para voltar atrás, tarde demais para avançar, tarde demais para mudar de lugar. Tarde demais para coisas bobas e tarde demais para coisas sérias. Tarde demais para parar de fumar, tarde demais para começar a estudar, tarde demais para começar uma dieta, tarde demais para amar, tarde demais se desculpar, tarde demais para agir.
Por outro lado, nunca parece ser tarde demais para se ficar omisso. A omissão parece ser constante e pontual. Nunca é tarde demais para ser tarde demais. Nunca é tarde demais para cruzar os braços em relação a algo. E é aí, quando nos damos conta dessa verdade da vida, que percebemos que o tempo não está a nosso favor, ele age contra nós.
Cada segundo que se passa é um pouco mais tarde, é um pouco mais perto do tarde demais. Como se a vida constantemente nos empurrasse em direção ao tarde demais. Alguns se deixando levar, outros ainda lutando contra.
Talvez ainda passemos por vários tardes demais durante nossa vida até que atinjamos o último tarde demais.
Os mais pessimistas dirão que até mesmo para essa derradeira hora chegaremos atrasados. Os otimistas, é claro, dirão que o tarde demais não existe, que é uma condição fictícia criada por uns e outros para alertar que nossos atos têm causas e consequências. "Nunca é tarde demais para viver!", eles dirão. Mas a vida, diferente do tarde demais, não é uma via de mão única. Do nada se veio e ao nada se voltará, e o tarde demais, mais cedo ou mais tarde, sempre cruzará nosso caminho.
Então podemos concluir uma coisa a respeito do tão misterioso e inesperado tarde demais: tarde demais nunca começa, tarde demais sempre termina. Tarde demais é uma conclusão, um ponto final. Talvez o último ponto das reticências...

terça-feira, 20 de abril de 2010

.sdrawkcab smees gnihtyreve

.

Everything seems backwards.




quarta-feira, 14 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

"A prayer for the wild at heart that are kept in cages..."

Uma frase puta-que-pariu-mente perfeita! Daquelas que te faz pensar que a inspiração pode realmente ser uma entidade divina que possui um corpo humano.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crítica: Remember Me - Lembranças

O filme começa com a palavra "Remember", que parece escrita por fumaça, e logo depois esvai-se, como se desfeita por um sopro, formando a palavra "me". Além do próprio título essa forma de apresentação frisa a mensagem que o longa deseja passar. A efemeridade do momento e as marcas que deixamos em nossa curta experiência.
O personagem principal, a quem dá forma Robert Pattinson, chega a reforçar essa idéia, quando solta a frase "You once told me, our fingerprints don't fade from the lives we touch. Is that true for everybody, or is it just poetic bullshit?" (Você me disse uma vez que nossas impressões digitais não se apagam das vidas que nós tocamos. Isso é verdade, ou é só baboseira poética?). E bem, o filme ajuda a mostrar que, de fato, não é apenas baboseira poética.
Ainda com a ajuda da belíssima máxima de Gandhi, essa idéia é mais uma vez verbalizada, sendo entoada no início e no final do filme. No começo, Tyler Keats Hawkings, o protagonista, ensaia a citação de Gandhi, sem terminá-la, e misturando a ela sua própria opinião: "Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant. But it's very important that you do it. I tend to agree with the first part." ( Gandhi disse que o que quer que você faça na vida será insignificante. Mas é muito importante que você faça. Eu tendo a concordar com a primeira parte).
O enredo começa a se desenrolar, de forma até bastante previsível na maioria das vezes, mas sempre tocante. Os clichês hollywoodianos de um filme comercial como é Remember me, são até sublimados, permanecem no ponto cego da visão crítica do filme como um todo, pois a mensagem que este filme comercial carrega é a mais artística possível. É a mais bela e poética possível.
Poética, ponto. Esqueçamos a parte baboseira poética, esta deixaremos para os mais cínicos, ou até mesmo aleijados de sensibilidade. O que há de mais notável, de mais palpável nesta vida, do que as marcas invisíveis que deixamos noutras vidas?
O filme me pegou de surpresa. Confesso que entrei na sala de cinema esperando algo levinho, um romance água com açúcar, uma maneira irrelevante de passar o tempo. Saí de olhos marejados. O romance é apenas detalhe, a narrativa gira em torno de algo bem mais grandioso, bem mais abrangente que qualquer tipo de amor.
Gira em torno da própria vida, do destino, do mundo! Gira em torno de nossas próprias cabeças, de nossos umbigos, de acordo com nossos próprios relógios. O que fazemos com nosso tempo, isso que importa. O que o tempo faz conosco, para aqueles visionariamente dependentes.
Fiquei sinceramente fascinada com o filme. Até Robert Pattinson conseguiu convencer! Não digo que sua performance foi digna de Oscar, mas o que ele mostrou na telona foi uma evolução fenomenal do vampiro da saga Crepúsculo para o jovem existencialista que leva o nome de um poeta no seu middle name.
Um astro de sequência adolescente liderando um filme sério. Será que a isto se deve as críticas do filme serem predominantemente negativas? Todas as críticas que li admitem que o filme não é de todo mau, mas ainda assim pendem para o lado ruim. E o engraçado é que todas tocam no mesmo ponto, e, pasmem, usam até as mesmas palavras para depreciá-lo! "A surpresa com a reviravolta do final", o quanto o final do filme "é desrespeitoso e apelativo para a filosofia carpe diem".
Coincidência? Ou será que os críticos simplesmente perderam a habilidade de criticar, e apenas deixaram-se contaminar com os pontos de vista alheios? Por que o final, que insere um fato real na narrativa fictícia, não pode simplesmente sustentar toda a trama, mesmo que balançando-a. Não se trata de uma "reviravolta", palavra precisamente eleita para ilustrar toda crítica desta película, pois o filme inteiro prepara o terreno para um desfecho trágico iminente.
O final dramático escolhido poderia ser substituído por qualquer outro final dramático, importado da realidade ou da ficção. A closura escolhida não muda ou compromete a mensagem que o filme inteiro carrega, pelo contrário, acentua. Sem mencionar que aquele poderia ser o final de uma vida que se encerrou naquele dia, daquela maneira, naquele lugar. A história de Remember Me é universal, e, se ambientada em Nova Iorque, por que não ser a história de um nova iorquino como Tyler?
Finalmente, nos últimos minutos de filme, temos a conclusão da idéia de abertura, tanto de Gandhi quanto de Tyler que, por sua vez, parece não mais concordar apenas com a primeira parte, mas com a sentença inteira, ilustrando como a passagem, do filme ou da vida, o fez mudar de idéia. "Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant, but it's very important that you do it because nobody else will." (Gandhi disse que o que quer que você faça na vida será insignificante. Mas é muito importante que você faça, porque ninguém mais fará.)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Remember me

Remember me, que filme sensacional! Da primeira à última frase, sensacional. Me cativou bastante, porque mais uma vez tive a profunda sensação tocante de estar vendo na telona o filme que se passa dentro de mim. Minhas filosofias de vida, meu modus operandi, moi même. Eu, ali naquela tela. Robert Pattinson, que atuou muito bem, por sinal, é meu eu masculino naquele filme.
Eu sei, sou ciente disso, que penso como um homem, e não vou parar pra explicar isso aqui agora porque não é o momento. Tô aqui pra falar do filme tocante que cutucou lá no fundo de minh'alma dizendo: "Ei, tu não tá sozinha nesse caminho que resolveu tomar. Alguém mais nesse mundo também pensa assim, mesmo que seja um personagem fictício de um filme".
Entrou facinho pros meus filmes preferidos. Já prevejo que irei assistí-lo de novo, talvez amanhã mesmo. Eu levo muito a sério essas coisas profundas e belas e tocantes que falam por ti, que traduzem teu pensamento em filmes, livros, músicas, telas, fotografias. Isso, por isso é que eu falo que arte é a coisa mais importante dessa vida, com essa capacidade de elevar o espírito, de comover. É lindo, é sensível. E porra, eu valorizo por demais a sensibilidade.
Tô escrevendo pra expor, por pra fora, um pouquinho do que eu senti ao assistir esse filme, porque quando me deparo com coisas assim, tão exteriores a mim, e no entanto, tão minhas, as palavras e as sensações ainda ficam presas aqui. O filme ainda tá preso aqui, ainda não consegui digerir e colocar pra fora todas as minhas impressões. Ainda não tá na hora da resenha desse filme nascer completamente.

As frases mais puta-que-pariumente-marcantes:

Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant. But it's very important that you do it. I tend to agree with the first part.

You once told me, our fingerprints don't fade from the lives we touch. Is that true for everybody, or is it just poetic bullshit?

Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant, but it's very important that you do it because nobody else will. Like when someone comes into your life and half of you says: "You're nowhere near ready". And the other half says: "Make her yours forever".

domingo, 21 de março de 2010

Dialetos, ilhas e pontes - A lack of communication



Cada pessoa é um universo. Cada cabeça é um mundo, completamente diferente de todos os outros mundos existentes nas outras cabeças. Não há apenas um planeta Terra, há mais de 6 bilhões de planetas terras, em um único planeta. Subjetividade, isso que eu quero dizer.
Sabe aquele famoso clichê "cada um é cada um, e cada qual é cada qual"? Pois é, por mais ridículo e banal que possa parecer é a pura verdade. Peço licença desde já ao leitor, para avisar que este texto estará recheado de pleonasmos intencionais.
Dialetos, isso é que eu quero dizer. O que eu falo pode ser completamente diferente do que você escuta (interpreta). No dicionário, comunicação está como transmissão de informações, e é justamente aí nessa transmissão que a informação se perde, se muda. No ar, no vazio de palavras, no silêncio de significados, na hiância. No firmamento que é essa transmissão, a informação, as palavras são como estrelas em suspensão.
Cada pessoa fala um dialeto particular. Muitas vezes, ao nos expressarmos, percebemos que a pessoa a quem nos comunicamos entende de forma completamente diferente o que dizemos. Muitas vezes o outro não nos compreende. Quando isso acontece, essa lack of communication, o ouvinte projeta na falha os ecos das palavras de seu próprio dialeto. Mind the gap, please! Ninguém se entende. De repente há briga, há gritos, divergência. Discussão, se essa palavra pudesse ser sempre substituída por conversa, em vez de ser sinônimo de briga, o contraste entre os dialetos se minimizaria, as pessoas se fariam inteligíveis.
John Bon Jovi já cantava "No man is an island", John Donne, poeta inglês homônimo ao cantor, há séculos antecipou: "No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main" (Homem nenhum é uma ilha completo em si próprio, cada um é um pedaço do continente, uma parte do todo). Há um tempo atrás, eu vi em uma série (90210), uma teoria diferente desta, que me agradou ainda mais. Dizia que cada homem é uma ilha, e os relacionamentos são como pontes. Uma pessoa constrói metade da ponte, outra pessoa constrói a outra metade, e elas tentam se encontrar no meio.
Sabe, eu acredito que a comunicação deveria funcionar como a ponte entre as ilhas, aproximando as pessoas. No oceano do vazio, você constrói sua parte da ponte, e o outro constrói a outra parte. A comunicação deve fazê-los encontrar-se no meio, não fazer com que as ilhas se afastem mais e mais. É preciso encontrar um dicionário que ajude a traduzir nossos dialetos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

ADULTOS

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão, *
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos de água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.


- Vladimir Maiakóvski

domingo, 14 de março de 2010

2001, uma odisséia no espaço - O futuro do Pretérito






Finalmente assisti 2001, uma odisséia no espaço, e apenas ao assistí-lo pude compreender porque é considerado uma das pedras de sustentação da muralha "cinemática". O filme mostra um futuro nem tão distante da data de sua criação, mas definitivamente séculos distante da realidade. Stanley Kubrick criou um universo inteiramente novo em 2001. Hoje, estamos no ano de 2010, e ainda bem distantes da visão futurista do diretor. Considerei até uma certa ingenuidade da parte de um gênio de visão tão inovadora, imaginar que em apenas trinta e poucos anos o mundo mudaria tanto, e nós já estaríamos conquistando o espaço.
Então eu, do sofá da minha sala, olho pra trás, pro ano de mil novecentos e sessenta e oito, ano de lançamento do filme, e percebo que muitas das minhas expectativas em relação ao futuro convergem com aquelas, que imaginaram há anos atrás, um futuro que hoje já me é passado. Aí é que eu penso em como caras como Kubrick ajudaram a esculpir todo um imaginário de gerações futuras a partir de sua própria imaginação, a partir do arquivo imagético de sua cabecinha. Sim, hoje, em 2010, ainda sem odisséias no espaço, pessoas como eu e você imaginamos odisséias no espaço. Temos essa visão de que o futuro será minimalista, que os computadores substituirão os humanos em muitas funções de inteligência e raciocínio, e talvez até terão emoções. Que será possível pegar uma espaçonave como se pega um avião, que as roupas serão assim e assado, que o moderno deverá ter essa aparência, e o retrógrado aquela, exatamente como em 2001.
Não que eu esteja querendo dizer que naquela época ainda não predominavam essas idéias, e que todas elas surgiram da mente kubrickiana, não é isso. O que eu digo é que ele deu forma a essas idéias, esculpiu mesmo, moldou nosso imaginário com as cenas de sua odisséia espacial. Ora, esse filme foi responsável e criador de uma estética completamente inovadora, dentro e fora do cinema. Não é à toa que é considerados por muitos a mais grandiosa, e talvez também a mais ambiciosa, obra de ficção científica de todos os tempos, e um dos filmes mais influentes do cinema até os dias de hoje.

sábado, 13 de março de 2010

"E esta é a maior censura, aquela que não tem cura, que nasce dentro do autor"

Eu tô querendo voltar a escrever com frequência aqui no blog, realmente estou. Venho lembrando do quanto era fácil pra mim, expor opiniões, e o quanto deixou de ser de um tempo pra cá. Não sei exatamente o que acionou essa trava de segurança, essa censura que eu tenho para comigo mesma, ou talvez até saiba... talvez eu saiba, mas isso não é importante. O importante aqui é o ato em si, e não as consequências (veja bem, estou falando do "aqui" que equivale a "onde escrevo").
O que eu quero dizer é que simplesmente quero dizer, entende? Mesmo que diga errado, quero voltar a cantar sem me preocupar se estou desafinando, quero jogar fora a borracha.
Tenho pensado muito nisso ultimamente: no fato de não conseguir mais escrever aqui no blog. Não com a mesma voz que escrevia antes, agora escrevo em falsete. Não sei se tô ficando velha, louca, retardada, ou se as drogas me sequelaram mesmo (sempre culpe o álcool, o cigarro e seus primos de segundo grau dele {não, aqui não é erro, é "seus dele" mesmo, pra chamar atenção pro faCto de quem são os primos de quê}).
Pode ser alzheimer também. Uma vez, respondendo a uma prova de literatura, eu comecei a escrever a palavra sob. Parei e pensei "Sob? Isso deve tá errado... bê mudo aí? Essa palavra não existe, deve ser sobre". E sob é super comum no meu dicionário. Já esqueci de piores, mais comuns, digo eu. Mas agora esqueci das que esqueci, por isso não poderei dar exemplos. O que me consola é saber que se ainda não esqueci da escrita de alzheimer, muito grave o que eu tenho ainda não é.
Agora as coisas tão fluindo, as palavras tão jorrando pro texto, mas nem sempre é tão fácil assim. Outra vez, relendo comentários daqui, me deparei com o de uma menina que dizia que meu blog a fazia sentir-se em casa. Putz! Não conseguiria pensar em nenhum motivo melhor pra voltar a escrever aqui, somando-se à minha vontade de apenas falar. Speak out!
Então, voltando ao assunto...espero que as coisas voltem a acontecer naturalmente, que essa minha roquidão passe de uma vez, que meu rascunho vire logo obra de arte. Que eu abra a porta e a janela e deixe o sol me ver nascer..
Enfim, acho que já deu pra entender o recado.


"E esta é a maior censura, aquela que não tem cura, que nasce dentro do autor" - Wado

domingo, 7 de março de 2010

Achei nos rascunhos do meu celular, esse texto

Filósofa de travesseiro, escritora de gaveta, estudante de fachada, equilibrista de calçada, psicóloga de paredes (mas elas nunca me escutam). Comedora profissional de chocolates, personagem de García Márquez num livro de Kafka adaptado pro cinema num filme dirigido por Woody Allen, com a tragicomédia exagerada de Almodóvar.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Bloqueio

Tenho tanta coisa pra falar mas não sei como. Como se minhas palavras saíssem e formassem frases que, sem força e tímidas, batessem contra um muro pedindo passagem. Mas o muro, cheio de censura, forte e poderoso como um oráculo, as impedisse de passar para o outro lado. Meus pensamentos, então, dando um último suspiro de liberdade, avistam o horizonte que grita ao longe, e voltam, mudos e cabisbaixos, retornam à minha cabeça e confundem tudo. Minha cabeça, enjaulada, tem olhos suplicantes e visionários, mas a eles não é permitido falar. E minha boca, indiferente, engole a seco, garganta a baixo, os pensamentos, as palavras e frases, fazendo-os, todos, voltar.



Ouvindo: Wake up - Arcade Fire

domingo, 10 de janeiro de 2010