segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

how long is now?

Tempo espaço Tempo esparso Tempo escasso Tempo e passo

sábado, 21 de dezembro de 2013

All the world

Minha sensação é de que estamos presos dentro de uma esfera. Uma bola que lá ao longe, bem ao longe em meio ao escuro vazio e a imensidão do universo é tão pequena como uma bola de gude, com tons de azul e verde e branco, girando e girando eternamente em suspensão. Onde tudo já aconteceu, e continua acontecendo. Onde tudo já passou, mas continua passando. Onde o tempo é diferente, ilusório e desconexo de todos os outros tempos, mas pra gente é certo, palpável e real. Pra gente é o único que existe. Se nos aproximarmos desta bola de gude que agora observamos ao longe girando no vazio escuro do cosmos, no silencio ensurdecedor do universo, aos poucos o silêncio torna-se som, a quietude torna-se movimento. A bola torna-se maior e maior, e tão grande, que não conseguimos ver nada além de seus limites. Seus limites azuis e aparentemente infinitos, pra cima e pra baixo. A esfera elétrica solta raios e volts e pulsa, pulsa, pulsa. É feita de energia, e eletricidade e caos. E formas, formas completas, caóticas, inacabadas, belas, prontas, construídas, desfeitas, em constante mutação. Mas pra cada uma dessas formas existe um portal negro, uma parede sólida que as impede de continuar indo além, de continuar seguindo a trajetória. São paredes negras sólidas e instransponíveis e a única coisa que consegue ultrapassá-las é energia. Tudo o mais fica aquém. Tudo que é sólido, tudo que é matéria respeita aqueles totens negros-invisíveis, sólidos-impalpáveis, e pára. E fica. Só a energia vai e continua, e volta e recicla. Som, caos, luz, raios. E ouvimos barulhos lindos de risadas, e barulhos de choro de todas as idades, e sons de gritos zangados e sons de gritos desesperados, e suspiros de amor, e sons de beijos e barulhos de buzinas de carro, de pessoas tropeçando. Tudo isso porque podemos ouvir. Mas mesmo que não pudéssemos, os sons continuariam ali. E cores, azul, verde e amarelo, e branco e vermelho e negro e roxo, laranja e tantas outras. E rostos e bocas, narizes e olhos e cabelos loiros, negros, castanhos, com tranças, tiaras, cortados, longos, médios, crespos, lisos, amarrados, sujos, limpos, coloridos. E mulheres e homens e meninos e meninas e cachorros e gatas, pássaros, coelhos e lagartos. Pessoas lindas, não queremos parar de olhá-las e pessoas não tão lindas, e pessoas feias, não conseguimos parar de olhá-las e pessoas não tão feias. E pessoas como a gente e pessoas não tão como a gente. E sorrisos, e dentes, e falta deles. E filmes, fotografias e paisagens. Paisagens imensas, enormes, grandes, grandiosas, lindas e exuberantes. Tudo isso porque conseguimos ver, mas mesmo que não conseguíssemos, continuariam ali. E batidas de carro, e acidentes, carros amassados, pessoas mortas e inconscientes. Dedos cortados, sangue, dor, dormência. Sono, tristeza, cansaço. Sentimentos borbulhando, panelas de água borbulhando. Choro, confusão, narizes vermelhos. Lágrimas, catarro. Congestão. Congestionamentos. Garrafas e engarrafamentos. Celulares no carro, telefones em casa. Ligações de trabalho, ligações da mãe, da tia, da prima e namorado. Palavras de amor, palavras de dor, palavras de ódio. Beijos, abrações e arranhões. Arranha-céus. E prédios, e casas. De tijolos, de madeira. Grandes, pequenas, mansões, apartamentos. Meu lar, seu lar. Meu trabalho, seu trabalho; e a parada de ônibus, e a estação de metrô. E a loja de roupas, e o café da esquina, o supermercado, a escola, o aeroporto, a estrada. Todos pontos de um mesmo plano. Todos raios de uma mesma esfera. Todos tempestade e calmaria. Todos trovões, e chuva, e neve, e sol e calor e frio. Tudo isso porque somos caos. Vivemos caos, numa bola de caos suspensa no cosmos. Somos caos, somos cosmos. Somos finitos e eternos. Somos contraditórios, bons e maus, e humanos e animais. Somos parte daquela pedra, e aquela pedra é parte de nós. Somos aquele pássaro, aquele navio, essa colcha de cama. Somos todos conectados como fios de um tecido, palavras de um texto. Somos eu, somos você e nós. Energia contínua, pulsante. Regulados por regras invisíveis, mensuráveis e imensuráveis de química, física, matemática, gramática e tudo o que aprendemos na escola. E o que não aprendemos na escola. E o que sabemos e que não sabemos também. E é muito bom que saibamos disso e nunca esqueçamos. Mas mesmo que não soubéssemos ou esquecêssemos, seríamos e somos. Até que deixássemos de ser, para continuarmos sendo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O grande problema da maioria das pessoas é que elas não sabem o quão únicas são. E por isso, justamente por causa disso, o indivíduo acaba virando multidão.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Chamaremos de destino à forma que o caos dá ao fio condutor dos dias. Arbitrário e desprogramado. Espontâneo e em continuum. Constantemente expandindo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dancing with myself

Já eram nove da noite, ele deveria ter chegado às sete, mas desde a hora em que acordou ela o esperava. Deveria ser um dia especial para eles, aquele. Ela tinha planejado tudo, escolhido seu melhor vestido, vestido seu melhor sorriso, perfumado-se com seu melhor estado de espírito e até ensaiado tudo que gostaria de dizer. Passou o dia preparando-se para quando o momento chegasse, ocupou-se disso, inebriou-se com as lembranças de seus momentos, grandes e pequenos. Deleitava-se com cada lembrança, sozinha. Às cinco da tarde, decidiu que era hora de preparar o jantar; às seis, subiu para arrumar-se. Pôs seu vestido, seu vestido mais bonito, seu perfume. Passou rímel para alongar o olhar, para que seu olhar conseguisse alcançar, alcançar o ponto mais profundo da alma de seu amado, e depois, o batom. No batom podia-se ler "eternamente sua" inscrito na lateral, em fonte rebuscada. Por alguns minutos esqueceu do tempo ao contemplar-se no espelho. Encontrou sua imagem perdida em pensamentos, felizes pensamentos, gostou do que viu. Sentia-se amada, sentia-se bonita, sentia-se bem & leve. Escolheu a música que tocou quando dançaram pela primeira vez. A música que eles ouviram quando seguraram as mãos, olharam-se nos olhos e souberam, souberam quem eram. Tirou o jantar do forno, encheu as taças de vinho, e sentou-se, vestido florido de saia rodada, salto vermelho, lábios eternamente dele, olhar distante e perfume doce. Sentou-se e esperou pacientemente. Esperou o jantar esfriar, as taças esvaziarem e serem enchidas novamente, a garrafa de vinho esvaziar e continuar vazia. Esperou os ponteiros do relógio girarem e girarem & girarem mais outras vezes. Já eram nove da noite, ele deveria ter chegado às sete, mas desde a hora em que acordou ela o esperava. Duas velas em castiçais derretiam tristes e chorosas sobre a mesa, o silêncio da noite entrava pelas janelas com o vento. A lua, ela olhou a lua, como quem esperasse compreensão, nada. À lua, ela brindou à lua, às dez da noite. Bebeu sua última taça de vinho, acendeu um cigarro. Ela tinha tentado parar de fumar, mas acendeu um cigarro. Manchou o cigarro com seu batom, eternamente só. Odiou seu vestido, odiou seu perfume, odiou-se, odiou só. Ele não viria mais. Às dez da noite o relógio parou para ela, os ponteiros continuaram rodando, eternamente rodando. Levantou-se, vestido florido de saia rodada, pés descalços, lábios sem dono. Foi até a vitrola e colocou a música para tocar, a música que tocou quando dançaram pela primeira vez. Naquele momento, não soube quem era, quem ela era. Dançou sozinha, dançou pela primeira vez sozinha, longos cílios, sem olhar para olhar. Fechou os olhos e concentrou-se, pôde sentir o amargo perfume da tristeza. Naquele momento toda a solidão do mundo entrou com o vento pela janela e dançou, dançou com ela. Duas velas minguantes em castiçais sobre a mesa, taças vazias, garrafa vazia, jantar frio. A lua, a lua cheia lá fora derramava-se pelo chão da sala em luz fria. E a saia, a saia rodada dançava na sala iluminada, dançava pela sala vazia, eternamente só. *