domingo, 21 de março de 2010

Dialetos, ilhas e pontes - A lack of communication



Cada pessoa é um universo. Cada cabeça é um mundo, completamente diferente de todos os outros mundos existentes nas outras cabeças. Não há apenas um planeta Terra, há mais de 6 bilhões de planetas terras, em um único planeta. Subjetividade, isso que eu quero dizer.
Sabe aquele famoso clichê "cada um é cada um, e cada qual é cada qual"? Pois é, por mais ridículo e banal que possa parecer é a pura verdade. Peço licença desde já ao leitor, para avisar que este texto estará recheado de pleonasmos intencionais.
Dialetos, isso é que eu quero dizer. O que eu falo pode ser completamente diferente do que você escuta (interpreta). No dicionário, comunicação está como transmissão de informações, e é justamente aí nessa transmissão que a informação se perde, se muda. No ar, no vazio de palavras, no silêncio de significados, na hiância. No firmamento que é essa transmissão, a informação, as palavras são como estrelas em suspensão.
Cada pessoa fala um dialeto particular. Muitas vezes, ao nos expressarmos, percebemos que a pessoa a quem nos comunicamos entende de forma completamente diferente o que dizemos. Muitas vezes o outro não nos compreende. Quando isso acontece, essa lack of communication, o ouvinte projeta na falha os ecos das palavras de seu próprio dialeto. Mind the gap, please! Ninguém se entende. De repente há briga, há gritos, divergência. Discussão, se essa palavra pudesse ser sempre substituída por conversa, em vez de ser sinônimo de briga, o contraste entre os dialetos se minimizaria, as pessoas se fariam inteligíveis.
John Bon Jovi já cantava "No man is an island", John Donne, poeta inglês homônimo ao cantor, há séculos antecipou: "No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main" (Homem nenhum é uma ilha completo em si próprio, cada um é um pedaço do continente, uma parte do todo). Há um tempo atrás, eu vi em uma série (90210), uma teoria diferente desta, que me agradou ainda mais. Dizia que cada homem é uma ilha, e os relacionamentos são como pontes. Uma pessoa constrói metade da ponte, outra pessoa constrói a outra metade, e elas tentam se encontrar no meio.
Sabe, eu acredito que a comunicação deveria funcionar como a ponte entre as ilhas, aproximando as pessoas. No oceano do vazio, você constrói sua parte da ponte, e o outro constrói a outra parte. A comunicação deve fazê-los encontrar-se no meio, não fazer com que as ilhas se afastem mais e mais. É preciso encontrar um dicionário que ajude a traduzir nossos dialetos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

ADULTOS

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão, *
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos de água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.


- Vladimir Maiakóvski

domingo, 14 de março de 2010

2001, uma odisséia no espaço - O futuro do Pretérito






Finalmente assisti 2001, uma odisséia no espaço, e apenas ao assistí-lo pude compreender porque é considerado uma das pedras de sustentação da muralha "cinemática". O filme mostra um futuro nem tão distante da data de sua criação, mas definitivamente séculos distante da realidade. Stanley Kubrick criou um universo inteiramente novo em 2001. Hoje, estamos no ano de 2010, e ainda bem distantes da visão futurista do diretor. Considerei até uma certa ingenuidade da parte de um gênio de visão tão inovadora, imaginar que em apenas trinta e poucos anos o mundo mudaria tanto, e nós já estaríamos conquistando o espaço.
Então eu, do sofá da minha sala, olho pra trás, pro ano de mil novecentos e sessenta e oito, ano de lançamento do filme, e percebo que muitas das minhas expectativas em relação ao futuro convergem com aquelas, que imaginaram há anos atrás, um futuro que hoje já me é passado. Aí é que eu penso em como caras como Kubrick ajudaram a esculpir todo um imaginário de gerações futuras a partir de sua própria imaginação, a partir do arquivo imagético de sua cabecinha. Sim, hoje, em 2010, ainda sem odisséias no espaço, pessoas como eu e você imaginamos odisséias no espaço. Temos essa visão de que o futuro será minimalista, que os computadores substituirão os humanos em muitas funções de inteligência e raciocínio, e talvez até terão emoções. Que será possível pegar uma espaçonave como se pega um avião, que as roupas serão assim e assado, que o moderno deverá ter essa aparência, e o retrógrado aquela, exatamente como em 2001.
Não que eu esteja querendo dizer que naquela época ainda não predominavam essas idéias, e que todas elas surgiram da mente kubrickiana, não é isso. O que eu digo é que ele deu forma a essas idéias, esculpiu mesmo, moldou nosso imaginário com as cenas de sua odisséia espacial. Ora, esse filme foi responsável e criador de uma estética completamente inovadora, dentro e fora do cinema. Não é à toa que é considerados por muitos a mais grandiosa, e talvez também a mais ambiciosa, obra de ficção científica de todos os tempos, e um dos filmes mais influentes do cinema até os dias de hoje.

sábado, 13 de março de 2010

"E esta é a maior censura, aquela que não tem cura, que nasce dentro do autor"

Eu tô querendo voltar a escrever com frequência aqui no blog, realmente estou. Venho lembrando do quanto era fácil pra mim, expor opiniões, e o quanto deixou de ser de um tempo pra cá. Não sei exatamente o que acionou essa trava de segurança, essa censura que eu tenho para comigo mesma, ou talvez até saiba... talvez eu saiba, mas isso não é importante. O importante aqui é o ato em si, e não as consequências (veja bem, estou falando do "aqui" que equivale a "onde escrevo").
O que eu quero dizer é que simplesmente quero dizer, entende? Mesmo que diga errado, quero voltar a cantar sem me preocupar se estou desafinando, quero jogar fora a borracha.
Tenho pensado muito nisso ultimamente: no fato de não conseguir mais escrever aqui no blog. Não com a mesma voz que escrevia antes, agora escrevo em falsete. Não sei se tô ficando velha, louca, retardada, ou se as drogas me sequelaram mesmo (sempre culpe o álcool, o cigarro e seus primos de segundo grau dele {não, aqui não é erro, é "seus dele" mesmo, pra chamar atenção pro faCto de quem são os primos de quê}).
Pode ser alzheimer também. Uma vez, respondendo a uma prova de literatura, eu comecei a escrever a palavra sob. Parei e pensei "Sob? Isso deve tá errado... bê mudo aí? Essa palavra não existe, deve ser sobre". E sob é super comum no meu dicionário. Já esqueci de piores, mais comuns, digo eu. Mas agora esqueci das que esqueci, por isso não poderei dar exemplos. O que me consola é saber que se ainda não esqueci da escrita de alzheimer, muito grave o que eu tenho ainda não é.
Agora as coisas tão fluindo, as palavras tão jorrando pro texto, mas nem sempre é tão fácil assim. Outra vez, relendo comentários daqui, me deparei com o de uma menina que dizia que meu blog a fazia sentir-se em casa. Putz! Não conseguiria pensar em nenhum motivo melhor pra voltar a escrever aqui, somando-se à minha vontade de apenas falar. Speak out!
Então, voltando ao assunto...espero que as coisas voltem a acontecer naturalmente, que essa minha roquidão passe de uma vez, que meu rascunho vire logo obra de arte. Que eu abra a porta e a janela e deixe o sol me ver nascer..
Enfim, acho que já deu pra entender o recado.


"E esta é a maior censura, aquela que não tem cura, que nasce dentro do autor" - Wado

domingo, 7 de março de 2010

Achei nos rascunhos do meu celular, esse texto

Filósofa de travesseiro, escritora de gaveta, estudante de fachada, equilibrista de calçada, psicóloga de paredes (mas elas nunca me escutam). Comedora profissional de chocolates, personagem de García Márquez num livro de Kafka adaptado pro cinema num filme dirigido por Woody Allen, com a tragicomédia exagerada de Almodóvar.