domingo, 13 de março de 2016

Beautiful messages shouldn’t fade

Ela tinha acabado de terminar as coisas com Tad, o único cara americano que tinha realmente gostado, e decidiu sair para um passeio com Paul. Uma caminhada, uma conversa, qualquer coisa para distrair a mente. Paul britânico, não Paul mexicano.
Paul britânico era muito mais feminino e ligado em moda do que ela jamais fora e jamais poderia esperar ser. Ele ficou loucamente animado falando sobre sapatos no segundo encontro que tiveram, e não conseguia entender como ela poderia ter esquecido de mencionar suas ankle boots.
Paul britânico falava muito. Ele tinha uma preferência por histórias longas, sem importância e com muitos detalhes. Era super inteligente, um pesquisador de universidade intelectual, e tinha aquele senso de humor Inglês: fino, sarcástico e levemente imperceptível; o que fazia com que ela se sentisse internacional por estar saindo com ele.
Seu beijo não era ruim e não era feio, na verdade era uma gracinha. Ele tinha um corte de cabelo meio Beatles e parecia um cruzamento entre Paul McCartney e um dos Irmãos do Oasis. Tinha uns olhos verdes de olhar bem doce, e gostava de deixa-los um pouquinho fechados quando tentava falar algo engraçado, o que chamava atenção pra seus cílios longos. Era magro, alto, pálido, e tinha um cheiro de velhinha; e às vezes, os trejeitos de uma também.
Havia bastante coisa em comum entre os dois: ele sentia muita falta do mar da sua cidade, uma cidade pequena da parte mais pobre da Inglaterra. Ela sentia muita falta do mar da sua cidade, uma capital com ares provincianos da parte mais pobre do Brasil. Na falta do mar, ambos buscavam refúgio observando as volumosas águas do Lago Michigan, mas sabiam que não era a mesma coisa. Eram solitários, inteligentes, inseguros e vegetarianos.
O primeiro encontro foi num diner vegetariano proposto por ela. Ele já até havia frequentado o local uma vez, era perto de sua casa e, apesar de não ter gostado da primeira experiência, estava disposto a dar uma segunda chance para conhece-la. Ela o achou amigável e simpático, tanto que decidiu mencionar que seu aniversário estava chegando. Dias depois quando ele ligou pra desejar feliz aniversário, ela soube que aceitaria se ele a chamasse pra sair novamente.
Esse era o quarto encontro. Como nos três anteriores, também foi motivado pela idéia de sair com alguém pra se distrair do Tad e, dessa forma, não depositar toda a carência e expectativas numa só pessoa. Diferente dos três anteriores, essa foi a primeira vez que saiu com Paul Britânico depois de já ter terminado as coisas com o Tad.

 
Estavam caminhando por algum bairro moderno de Chicago, indo para uma sorveteria que deveria ser incrível (e realmente era). Ao chegarem, ela pediu seu preferido: sorvete de menta com pedaços de chocolate na casquinha, e então sentaram perto de um casal que parecia realmente apaixonado.
Observando o casal ao lado, que parecia tão interessado um no outro, ela pensou que aquilo não estava certo.”Não tô apaixonada por ele, mal tô interessada no que ele tem a dizer, e não consigo parar de pensar no Tad”. Ela olhou pra ele com um olhar frustrado enquanto ele se queixava de que seu sorvete não estava tão bom. Ele havia pedido algum sabor maluco e se arrependeu de não ter feito uma escolha segura, algo que sabia que gostaria, como ela fez.
Só que escolhas seguras também não eram garantia de satisfação, ela pensou. “Aqui estou eu, numa cidade enorme e maravilhosa, tomando meu sorvete preferido, com um cara legal, mas tem algo faltando”. Paul parecia ser uma escolha segura, não deveria ser o tipo de cara que fura um encontro em cima da hora só porque tá chovendo, como o Tad fez.
Finalmente terminaram seus sorvetes e começaram a andar novamente. No meio do caminho, ela ouviu uma música que adorava, e quis parar pra ouvi-la e cantar junto. Paul não pareceu curtir muito a ideia de parar pra ouvir uma música, ele queria continuar falando em detalhes sobre uma história desimportante de uma vez, quando ele saiu com uns amigos e alguém disse que a comida exótica de um restaurante vietnamita não era tão autêntica quanto a de outro restaurante vietnamita menos frequentado.
A música acabou e eles passaram em frente a uma loja de sapatos com uma vitrine interessante, onde podia-se ver botas penduradas no teto. Ela pensou que seria legal tirar uma foto, ele não se importou, ainda estava falando. Continuaram andando, quando, de repente, uma mensagem surgiu no chão. Estava quase desaparecendo, provavelmente porque muitas pessoas tinham pisado aquelas palavras várias vezes. Talvez muitos nem tivessem visto ou prestado atenção. A maioria das pessoas tende a ignorar quando a mensagem não é tão clara, a passar por cima.
Lia-se: “Nada é maior ou menos do que nós”. Ela parou e ficou admirando aquela frase, tentando entender. “Se nada é maior ou menos do que nós, nada mais existe, nada mais importa, apenas nós”. Uau. Mas quem seria esse nós? Quem seria a misteriosa pessoa que, ao juntar seu Eu a um outro, é capaz de formar um nós tão importante, tão absoluto quanto aquele: maior e mais que tudo?
Ela estava usando sandálias aquela noite, e quando andou sobre as palavras, pensou que mensagens bonitas como aquela não deveriam desaparecer. Paul Britânico era adorável, mas não era a pessoa pra ela. O eu dele e o eu dela juntos nunca seria um nós. De alguma forma aquela mensagem quase desaparecendo foi bem clara pra eles, porque nunca mais se encontraram depois daquela noite.