quarta-feira, 29 de abril de 2009

Don't make a sound...

Tava com insônia e peguei o ipod pra ouvir e ver se conseguia me dormentar um pouco. Parei naquela música, uma que me lembra tanto aquele tempo, aquela época, aquele lugar. Incrível quanto se pode depositar numa música, que mesmo depois de ano, mesmo depois que tudo já tenha mudado, ela consegue trazer tudinho de volta. Todos os sentimentos, todas as sensações. O peito fica apertado de novo, a garganta fica seca. Engraçado... mesmo que nenhum dos sentimentos ou sensações existam mais, eles voltam, como se permanecessem, como se nunca tivessem desaparecido...



Você lembra perfeitamente daquela sensação de impotência, de saudade aleijada, pois não havia nada que você pudesse fazer a respeito. You just couldn't avoid those feelings, that obscure sensation that everything was going wrong, everything was completely out of your reach. You could only wait and hope things didn't go so wrong, even knowing they were.
Remember the cold, the cold you had never, ever, felt before. Se lembra de estar debaixo das cobertas que lhe pinicavam. Suspira, lembra que dera muitos suspiros naquelas noites gélidas, do outro lado do mundo, longe da única coisa que gostaria de ter por perto.
Lembra da sensação de estar perdida, amarrada, emudecida. Dos pés frios. De sentar perto à janela e olhar aquelas outras janelas in front of you. De ver a janela embaçando e pensar o quanto lá fora está milhões de vezes mais frio do que dentro do quarto, até que cria coragem de abrir a janela e comprova que lá fora realmente está muito mais frio. coloca sua cabela pra fora da janela e sente o frio, a neblina. Sente aquele sopro de gelo caressing your face, telling you that is ok to be lonely, you're not the only, those windows in front of you could be lonely too. Mas seu pensamento está a oceanos de distância.
Você lembra de ir ao banheiro e se trancar lá dentro, fumar vários cigarros lá, porque não pode fazê-lo do lado de fora do banheiro, ou do quarto. Lembra de deitar na banheira seca e vazia, com nada além de um maço de cigarros como companhia, seus pijamas e meias para aquecer os pés. Você sente uma espécie de tristeza conformada.
Então, depois de muito pensar, com alguns cigarros a menos, e não menos aflita que antes, volta pro quarto, despede-se da rua fria, vazia, e das janelas. Entra nas cobertas que dão coceira, fecha os olhos e ouve a música. A música que sussurra aos seus ouvidos, como a fria brisa noturna lá fora. Consolando e ao mesmo tempo dando aquela sensação, aquela sensação de vazio. Então você se agarra às cobertas e se agarra às memórias, às tantas memórias, tentando amenizar aquilo. Mas it doesn't work, as your problem won't work out as well. And you think that soon, but not soon enough, you'll see how things will be when you come back. Back to that place that hasn't windows in front of you, or cold weather outside, but lonely streets you know you'll find everywhere.




*Música
*Foto por lores

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Or maybe you're just sentimental...

CAT POWER.
Overdose de Cat power. Porque eu sou completamente apaixonada pela voz dessa mulher, e a noite passada até sonhei com essa música, e acordei cantando:

http://www.youtube.com/watch?v=_6tg0DOdkeU&feature=related

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Algumas frases do filme My Blueberry nights, e a cena em que a Chan aparece:

"It shouldn't be hard. Maybe you're just looking in the wrong places, or maybe you're just sentimental..."

"-You still have the keys.
-Yeah, I always remember what you said about never throwing them away, about never closing those doors forever... I remember.
-Sometimes even if you still have the keys, those doors still can't be open, can they?
-Even if the door is open, the person you're looking for may not be there, katya."

http://www.youtube.com/watch?v=YzKDMRzIOSs&feature=related

sábado, 18 de abril de 2009

Scraps a uns jovens leitores de blog

Respostas dos scraps que mandei hoje. Sei lá, vontade de dar uma de Rilke com o advento do orkut...

Feriadão? Nem vai ter outro tão cedo... segunda vai ser tudo normal e tal. Vai ser feriadão praí? Ontem eu saí, fui lá no reviver. Tava a maior loucura pro chez moi, uma fila quilométrica, claro que eu não me prestei àquilo. Fiquei calmamente bebendo cervejinha e olhando o movimento, bebi boas cachaças do batista e peguei um pouco de chuva, que anda chovendo demais pra cá ultimamente. Engraçado é que eu fui me proteger da chuva debaixo de um barco que colocaram lá. Quando é que você vai pensar que um dia vai ser abrigar da chuva debaixo de um barco? hahaha
Ah, hj eu assisti um filme que me deixou mesmerizada! De um diretor que não conhecia, Wong Kar Wai... o filme é 'my bluerberry nights', procurei pq fiquei sabendo que tinha músicas da cat power, e que ela aparecia. Na hora me surpreendi, muito bom! Te recomendo, caso tu ainda não conheça. E por aí?


- pra um amigo que tá morando em Sampa

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Eu nem sabia que tinha uma escola com o nome de papai! Nunca fui lá, mas tenho muita vontade de ir, principalmente agora depois de saber disso. Saudade também, beijo!
:**


- pra uma conhecida da família

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Tu tá afim de ir pra onde hoje, nim? Eu nem sei ainda, mas a galera tá animando de ir na public. Não faço a mínima idéia do que vai ter, mas como tem um tempão que não piso lá pode ser uma boa. Se tiver alguma idéia de coisa melhor pra fazer diz aí. E chama o Luan tbm.

;*

- pra primamiga

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É assim com pessoas especiais, a gente sempre lembra delas! =)

- pra uma amiga que tá morando na terra do pão de queijo

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Ahhh que legal! Viu? Eu disse que sairia! =) E esse é só o primeiro de muitos, não esquece!

- pra um jovem poeta que teve o primeiro poema publicado no jornal

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hahahah
É, ainda bem que tu seguiu tua intuição e eu segui a minha, senão a gente nem teria se visto! Eu nem sei o que vai ter lá, mas como tá todo mundo afim de ir talvez eu vá. Então até mais tarde!

:***


- pra um amigo que tem estado mais presente nos últimos dias

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Just silly stuff.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Maranhão perde: Roseana ganha

Hoje é um dia de luto pro Maranhão, dia em que enterra uma das últimas esperanças de libertar-se da oligarquia cruel sob a qual esteve subjugado por quase quarenta anos, a família Sarney retoma o poder.
Com discurso hipócrita, absurdo e sofista, adjetivos eufêmicos perante o dado discurso, a filha de José Sarney assume a posse na Assembléia legislativa, em cerimônia acompanhada de fogos e bumba-meu-boi, matendo as falsas aparências, como manda o código de ética maranhense.
Frases como "A justiça foi feita", "Eu agradeço ao povo, que me colocou no poder", e "Eu voltei para fazer o que sei de melhor: trabalhar pelo Maranhão", foram proferidas pela nova governadora velha, provocando náuseas na população esclarecida.
Enquanto isso, Jackson Lago, o bom velhinho e Woody Allen maranhense, declara que só sai do palácio morto ou arrastado:

"A não ser que me arrastem com violência ou que me tirem a vida, permanecerei no palácio até que o Supremo Tribunal Federal dê a última palavra sobre o caso. Se a Justiça Eleitoral não levou em conta a opinião dos maranhenses que me elegeram para governar durante quatro anos, é minha obrigação levá-la em conta, sim, respeitá-la, sim."

Essa outra passagem, divulgada no site O Globo, me chamou bastante atenção:

A partir de agora, o estado do Maranhão voltará a crescer e a se desenvolver - destacou a senadora, que governou o Maranhão entre 1996 e 2002.

Quem conhece a história percebe a evidente ironia, apesar de não ter sido esta a aparente intenção. =)

Continuando...

É preciso que a mídia nacional tome conhecimento do que se passa no Maranhão, do ato de violência de que estou sendo vítima. As informações do Maranhão são transmitidas para fora do Estado via meios de comunicação da família Sarney. Ela é dona de jornais, emissoras de rádio e da TV Globo local - lamenta Lago.

Os Sarney nunca haviam sido derrotados antes. Eu os derrotei. Eles mandaram neste Estado por mais de 30 anos - e o que deixaram como herança? Um Estado com alguns dos piores indicadores sociais do país. Eles pretendem voltar a mandar. Mas confio na força do povo para impedir que isso ocorra.


Se encaixa perfeitamente aqui mais um fragmento do discurso de Roseana em que ela diz "O Maranhão é um estado lindo, com um dos maiores litorais do Brasil, inúmeras riquezas...", e ainda assim, como lembrou Jackson, o segundo pior estado nos indicadores sociais do país.



E como era de se esperar...
do Maranhão... NADA.
Apesar do que tá sendo divulgado pela imprensa, quase nenhuma manifestação. Um pequeno engarrafamento no caminho para a Assembléia, um batalhão inteiro de policiais pra garantir a segurança dos sarnentos, e alguns poucos idiotas, prestigiando a ex-senadora e recém governadora.




No Palácio dos Leões a coisa é ainda mais deprimente, pouquíssimo movimento, um tímido cartaz que sussurra em letras vermelhas garrafais "Sarney nunca mais!" em vão, quatro ou cinco bandeirinhas de "Xô Rosengana" penduradas em postes, e alguns poucos corajosos, apoiando o ex-governador e recém-cassado.



As pessoas nessa cidade parecem completamente alheias ao que acontece. Pouquíssimo se comenta o assunto, ninguém parece ligar, ou perceber o que se passa. Como se o voto não fosse uma escolha, como se nossos direitos não estivessem sendo ignorados. Como se devêssemos apenas aceitar... aceitar ser a ilha dos Sarney por mais quarenta anos. Aceitar que pessoas de bem sejam desmoralizadas nacionalmente. Aceitar os fogos, os direitos usurpados, o bumba-meu-boi usurpado. Aceitar que haja um único cartaz tímido como resquício de uma voz cansada, de um povo rouco por não falar. De um povo que, infelizmente, merece o governo que tem.

sábado, 11 de abril de 2009

A ligação

Alberto era do tipo romântico, daqueles que faziam questão de sofrer se fosse por amor. Há algum tempo havia se separado de sua amada Antônia, aquela a quem considerava o grande amor de sua vida.
Alberto e Antônia não tiveram um relacionamento bem sucedido: brigavam por qualquer motivo, tinham longas discussões e desgastavam-se à toa.
Talvez porque fossem muito parecidos, ou talvez por serem extremamente diferentes, os dois se atraíam e repeliam de forma igualmente avassaladora.
Certa noite, depois de muito sem saber notícias de Antônia, Alberto se desespera. Sente seu peito apertado, doendo e doente de amor e saudade.
Ele lembra da primeira vez que ouvira a voz dela. Uma voz tão diferente de todas que já havia ouvido, completamente distinta de qualquer expectativa que mantivera a respeito durante o tempo em que apenas trocavam cartas. A primeira vez foi por telefone, o que fez com que se concentrasse mais ainda naquela voz jovem, engraçada e leve, que balançava seus pensamentos a cada palavra dita.
O aparelho ficava na mesinha da sala de jantar, e enquanto falava com Antônia por intermédio deste, Alberto olhava bem os azulejos azulados e tocava-os, imaginando tratarem-se de Antônia. Olhava ao redor, para as paredes, para o lustre, para o piso, e sem se dar conta, estava guardando para sempre aquela memória.
Naquela noite de saudade doída chovia bastante. Alberto via a chuva cair pela janela como o pranto que derramara tantas vezes por Antônia. Ele via as gotas caírem, mas enxergava apenas o silêncio por detrás delas. Alberto enxergava o silêncio da falta de Antônia.
Desolado, lembra-se do episódio daquela noite de abril de 1988, em que ouviu pela primeira vez a voz de sua Antônia, e, rapidamente, corre para o lugar onde estivera há três anos atrás.
Desta forma consegue sentir-se um pouco mais próximo de seu amor perdido, ainda que ínfimo fosse o consolo. Sentia-se ridículo, vazio e perdido. Não sabia o que fazer com tanta falta, aquela enorme falta que o preenchia quase que por completo.
Ele abaixa a cabeça e começa a chorar desesperançoso. Já faziam seis meses que Antônia se fora, mas Alberto sempre esperava que ela pudesse voltar. Naquela noite, por algum motivo desconhecido, a esperança de Alberto resvolvera deixá-lo, e ele finalmente percebe que ela não mais voltará.
De repente, o telefone toca, emergindo Alberto de seus profundos pensamentos nostálgicos. Ele treme assustado, e atende. Ninguém diz nada de ambos os lados, mas os pensamentos de Alberto gritam dentro de sua cabeça: "É ela, é ela! Antônia! Ela pensava em mim ao mesmo tempo em que eu pensava nela! Antônia, eu sabia! Sempre soube...".
E aquela ligação silenciosa continuou por muito tempo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Once I wanted to be the greatest...

Once I wanted to be the greatest, the greatest, the greatest...¹
Antes você não desejava o mal a ninguém, hoje, não o deseja a quase ninguém. É engraçado como você começa a decair, quando abre mão de ser uma pessoa melhor (por cansaço, no caso a que me refiro, porque sempre existem aqueles desprezíveis que abrem mão de ser melhores apenas por gostarem de ser ruins).
Uma hora ou outra realmente cansa, e aí parece definitivo. Você junta seus valores, princípios e virtudes e joga numa caixa que guarda num quarto abandonado, sabe que não vai precisar deles quando for pra rua. E aí sai pra encarar o mundo, despido de todas as crenças pelas quais lutava veementemente, pois decidiu vestir uma armadura de mediocridade. E as pessoas parecem lhe olhar diferente, os outros agora lhe reconhecem como um deles. E eles passam a respeitar mais se você conseguir gritar mais alto, mesmo que saiba que o certo seria agir diferente. Você percebe que quanto mais baixo desce, mas alto estará crescendo no conceito deles, e o que antes fazia pesar seus ombros hoje lhe faz dar de ombros. A tristeza vira indiferença, só mais um sem rosto na multidão.
Começa gradualmente... até que de repente você percebe: agora escolhe odiar mesmo que possa perdoar. Gritar mais alto, desejar o mal, vingar-se.
É claro que sua maldade não é generalizada, tem que ser direcionada a "quem merece". Sim, porque agora você se acha apto a julgar quem merece ou não. Um dia todos acabam merecendo, e você também vai merecer. E assim tudo vai-se contaminando... Essa batalha já foi perdida, não existe exército de um homem só.²
Lá fora se morre e nasce milhões de vezes todos os dias. Quem você era precisa morrer pra que nasça quem você não deveria ser.


¹ The greatest - Cat power: http://www.youtube.com/watch?v=woGp4gJiTbk
² Menos pro capitão Birobidjan. :P