sábado, 8 de outubro de 2016

Le premier mois du reste de ma vie

Ontem eu fiz um mês em Lyon. Incrível como tanta coisa pode acontecer e mudar em apenas 30 dias. Há 8 anos atrás eu estive na França pela primeira vez, minha primeira viagem internacional, que começou por Paris e me fez definir a França como: "o problema da França são os franceses". Na época, meu francês se resumia basicamente ao bonjour/merci, e a maioria dos parisienses que encontrei eram amargurados e incrivelmente grosseiros. Pensei que se algum dia eu aprendesse a falar francês, gostaria de saber logo como mandar alguém pra puta que pariu.


8 anos atrás eu jamais pensaria que um dia estaria morando e estudando na França, e muito menos que eu estaria gostando dos franceses. Um dos meus maiores medos antes de decidir vir pra cá era me tornar uma pessoa antipática como aqueles parisienses que havia encontrado; e qual não foi minha surpresa ao descobrir que em Lyon, todos que já encontrei até agora foram extremamente pacientes e gentis. 


"A França não é Paris", já me disseram várias vezes, e hoje estou perfeitamente convencida. Então, gostaria de registrar algumas considerações sobre esse povo, e essa lugar, que a cada dia descubro.


Lyon é a terceira maior cidade da França, depois de Paris e Marseille, por isso, aqui sempre tá lotado. New York's got nothing on Lyon. Quando fui pra Nova York, achei que aquele deveria ser o lugar mais lotado do mundo, até vir pra cá e pegar o Tram T2 em direção à Université Lyon Lumière 2. Sério, é igual ou pior que qualquer ônibus da integração em horário de pico. Hoje no metrô, entendi por um segundo o que se passa na cabeça de assassinos em massa. 


Os franceses são engraçados. Não tô falando de senso de humor, porque ainda não parei pra reparar muito nisso, mas eles são um povo muito peculiar. Seja nas expressões curiosas que usam pra dizer qualquer coisa (ao sentar num assento vazio ao seu lado, podem dizer "eu me permito"), seja pra expor as opiniões (na maioria das vezes, bem filosóficas, francês adora filosofar, discutir, debater), seja nas expressões faciais. Franceses fazem muita careta quando falam: entortam a boca, reviram os olhos, e a mais curiosa: bufam. Eles bufam o tempo todo, principalmente quando não sabem alguma coisa. 


Assoar nariz aqui é uma mania cultural. Não é possível que tanta gente esteja sempre com o nariz entupido o tempo todo, em todos os lugares. Parece que eles se sentem na obrigação de assoar o nariz em público pelo menos uma vez por dia. Na sala de aula, se alguém assoa o nariz, começa uma reação em cadeia: várias outras pessoas começam a assoar. 


Franceses adoram uma onomatopéia, eles fazem barulhinhos pra disfarçar o silêncio. A mais famosa: "Oh là là!" - pra demonstrar admiração  (e se for muita admiração vira oh là là là là là!); ou então "Hop-là" (pronuncia-se como ópla), pra mostrar que terminaram alguma coisa: terminou de lavar o último prato: Hop-là! Deu o troco pro cliente: Hop-là! E a minha preferida: "Tac". Se eles vão digitar qualquer coisa, eles precisam falar "tac, como se fosse o barulho das teclas. É uma onomatopéia muito fofinha e estúpida ao mesmo tempo, não tem como não gostar, toda vez eu dou risada.


Aqui acho que a sequência do desenvolvimento é: aprender a andar, aprender a falar, e aprender a andar de bicicleta. As bicicletas estão por toda parte, assim como os patinetes e skates e patins. Acho a coisa mais engraçada do mundo olhar um idoso andando de patinete. Franceses são muito disciplinados. Americanos são como crianças mimadas que tem tantos brinquedos que nem ligam ou tomam cuidado com eles, franceses são como crianças que, por mais brinquedos que tenham, sabem que são inteiramente responsáveis por cada um deles. 


Enfim, tô aqui há apenas um mês, tenho muita coisa pra conhecer, muitas manias francesas pra descobrir, e ainda tenho que me acostumar a chamar Lyon de casa.