quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Joana

[Há muito tempo que não passava por aqui, então de repente, ou talvez nem tanto assim, resolvi postar. Talvez porque a semana de letras da faculdade começa semana que vem, e com ela um concurso de poesia que tô pensando em me inscrever. Aí resolvi reler uns textos antigos pra saber qual deles escolheria pra poesia aventureira, e me deparei com um, esse que segue abaixo, que eu nem lembrava de ter escrito! Cheguei a pensar que talvez tivesse sido feito por minha irmã, mas durante a leitura consegui lembrar que era meu. Me arrependo de não colocar as datas em todos os textos que eu escrevo, e depois deixo de lado pensando que são uma merda, pra depois de algum tempo descobrir que não são tão ruins assim.]

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JOANA

Joana foi dormir à noite, sonhando com o amor de sua vida, a quem nunca se declarara, mas planejava fazê-lo dali a um mês, no dia dos namorados. Ela vinha tomando coragem para isso desde que o conhecera,há três anos.

Na manhã do dia seguinte Joana levanta, canta uma canção bonita, e feliz se arruma pra mais um dia de rotina. Ela ama sua família, gosta de viver, se dá bem com todos, e tem uma ótima aparência. Muitos a consideram especial.

Joana pretende ser pediatra, assim como seu pai o quer que ela seja. Deseja ser mãe, pois fica maravilhada com a gravidez, toda vez que se depara com alguma grávida pela rua. Ela jura que se tornará a melhor mãe que puder ser.

No caminho para a faculdade de medicina, observa as folhas secas caírem das árvores quase completamente desnudas, sente a brisa fria e agradável de outuno, caminha a passos demorados, e agradece a vida que tem. Pensa que não poderia querer mais.
Joana adora poesia, e artes em geral.

É uma menina culta e entende bastante de música, literatura e pintura. É fã de ópera, tragédias e shakespeare. "Tudo que impregne sentido e intensidade à vida me fascina", dizia sempre. A vida é bela, é poética, é trágica, é especial e única.

Enquanto sorri maravilhada com o céu imensamente azul claro salpicado de nuvens brancas, Joana esquece de prestar atenção ao seu redor, e não vê que um homem muito branco dispara um tiro contra ela. "Viver não vale a pena", ele diz, "é perda de tempo", e depois toma sua própria vida com tiro na cabeça. O homem branco cai, sem vida. Joana cai, morta.

Joana morre sem amores, sem poesia, sem filhos e sem intensidade. O sangue de seu corpo escorre sobre as folhas secas de outono. Uns passantes assustam-se. "É trágico!", diz um. "Não é, acontece a toda hora. Apenas mais um que morre.", diz outro.

A alguns metros dali nasce uma linda menina que batizam de Ofélia. "Ela é uma menina especial!", diz a mãe, segurando a recém nata nos braços.