terça-feira, 8 de novembro de 2011

A banalização do banalizar




Muitos crimes muita violência muita revolta muitas redes sociais muitas idéias muita cabeça muita gente muito medo muito ego muito choro muito ódio muita ciência muita religião muitas teorias muito filósofo muito dinheiro muita miséria muita muita informação. Supersaturação & banalização de t u d o.

Tudo é clichê, tudo já nasce um clichê, a copy of a copy of a copy. Everything's a remix. Vida é um souvenir made in Hong Kong. Todas as pessoas são muito parecidas, todo mundo é diferente. Aldeia global, internet. Tudo já foi visto, dito e repetido. Geração milenium, x, y, z. Homo, hétero, bi, tri, pan. Tudo é permitido, tudo é aceitado. Igualdade, liberdade, mas esquece-se a fraternidade. Busca pela imortalidade. Pós-modernindade. Era do vazio. Poder. Limites. Panóptico. Ai, minha cabeça dói! Somos tudo e somos todos de todos os tempos ao mesmo tempo. Pensar dói, e hoje em dia, até existir é cansativo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aviso: assistindo aos vídeos abaixo você corre o risco de tornar-se alguém mais sensível

Há dois dias atrás assisti um documentário que mexeu bastante comigo. Chorei muito e fiquei em estado de "depressão-pós-documentário". Eu, que já sou pessimista por natureza, me afundei ainda mais nessa visão. Pessimismo, niilismo, existencialismo... nada mais fazia sentido pra mim depois de ter visto esse filme. Era inútil lutar, persistir, existir. O que nós fizemos com o mundo? - eu pensava. Que porra é essa de capitalismo onde cédulas de papel valem mais que pessoas? Onde a importância de uma vida é determinada pela quantidade de cédulas de papel que esta possui? Que bolha é essa que criamos pra viver, de tão grossa espessura que nos impede de ver com clareza tudo que acontece do lado de fora? Por que as pessoas estão cada vez tomando menos consciência e responsabilidade por suas atitudes? Crianças que não estão morrendo de fome, estão sendo assassinadas. Animais sendo tratados como objetos. Dor e sofrimento alheios sendo ignorados por simples comodidade burguesa. Enfim... milhares de questionamentos desesperadores e desesperados eclodindo na minha cabeça, para entendê-los, só assistindo ao documentário. É necessário que todos vejam, para que a venda da ignorância caia dos olhos de cada um. Nós somos responsáveis por muito mais do que imaginamos. Milhões de vidas - e mortes - além das nossas.

Nós Alimentamos o Mundo / We Feed the World

Não sentia vontade de fazer mais nada, achava que todas as minhas causas estavam perdidas e que não valia à pena lutar. Palavra nenhuma me consolava. Até que hoje decidi assistir outro vídeo, um que me deu uma perspectiva exatamente contrária à anterior, e mostrou que tudo valia à pena. Que o mundo não é só esse planeta azul, pequeno e egoísta, dominado por pessoas que só tem olhos pra cifras, que a vida pulsa por toda parte, e onde existe vida, existe beleza. A arte mostrando que é vida e a vida mostrando que é arte.

Produzido por Ridley Scott e dirigido por Kevin Macdonald.

São 80.000 clipes de vídeo e 4.500 horas de material enviados por pessoas de 129 países via YouTube em um único dia, 24 de Julho de 2011. Tudo consolidado em 1h30 de vídeo.


(Até lembrei de Day 7 Hope de Ayeron: "So much to see, so much to live for Questions to answer, places to go So much to be, so much to care for Deep down inside I think you know You are free...")


Life in a day



*Outro link interessante: Quantos escravos trabalham para você?

domingo, 2 de outubro de 2011

Intimidade - estranhas entranhas

Estava nervosa, nunca tinha feito aquilo antes. É claro que já tivera vários outros relacionamentos antes, mas nada muito sério. Havia passado os 32 anos de sua vida tentando evitar qualquer intimidade, ou demonstrar qualquer tipo de sentimento, mas de de alguma forma, Adriana sentia que aquele deveria ser o cara certo, e esta noite, o momento certo.

Gastou muito tempo preparando-se, queria que tudo corresse perfeitamente, porém ao mesmo tempo a insegurança devorava-lhe por dentro. E se ele não gostasse do que visse? Ninguém nunca a tinha visto assim tão exposta, tão nua. Tinha calafrios só de imaginar uma reação ruim de seu namorado, mas estava disposta a seguir em frente com o plano.

O relógio marcou oito da noite, hora combinada pelos dois. Naquele momento ela começava a ter dúvidas, não tinha mais certeza se estava preparada. A campainha tocou. Suspiro, medo. Borboletas de todas as espécies e cores batiam as asas no seu estômago, e antes de abrir a porta Adriana pensou na teoria do caos, e no efeito que aquela aglomeração de borboletas poderia causar do outro lado do mundo. Um tufão na China, um maremoto na Índia, tudo isso seria sua culpa, apenas porque estava disposta a ter uma noite de intimidade com seu namorado.
Tomás aparentava cansaço e mau humor assim que entrou no apartamento. Adriana preferiu ignorar.

Então chegou a hora, e lá estava ela. Nua, exposta, vulnerável. Foi isso que ela escolheu. Em ordem de tentar conectar-se e criar laços mais profundos com ele, ela usou de seu livre arbítrio para exibir-se, deixando à mostra todas as suas falhas e depressões, todo o seu relevo mais íntimo, para ser analisado pelos sentidos de outro. Outro que não sabia a origem daquelas cicatrizes ou porquê aquelas marcas estavam lá, mas as via e as julgava, boas ou más, como lhe fosse conveniente. Uma conveniência completamente exterior a qualquer um dos motivos que aquela visão lhe proporcionava.

E assim foi, a noite toda. Tomás penetrando pouco a pouco seu interior, conhecendo tudo que havia nas profundezas de seu ser. Ao final de tudo, Adriana estava feliz por ter tomado aquela decisão. Sentia-se livre, sentia que não tinha mais nada a esconder, que Tomás agora sabia de tudo, compreendia tudo. Agora ela se sentia uma nova mulher, sua vida havia mudado naquele ponto. Nada mais seria igual, pensava ela.

Amanheceu. Tomás foi embora. E nunca mais voltou. Os dias se passaram e Adriana perguntava-se o que ela havia feito de errado. O que poderia tê-lo desagradado tanto a ponto de sumir sem dar ao menos explicações. Seu maior medo se realizava: fora rejeitada. Rejeitada por aquele, justamente aquele a quem ela confiou que não poderia machucá-la. Aquele a quem ela confiou. Confiou sua vida, seus medos, seus sonhos.

Era uma queda irrecuperável. Adriana nunca mais deixaria ninguém se aproximar. Nada mais foi igual. Adriana decidiu que nunca mais mostraria sua alma pra ninguém. Não teve mais namorados, virou freira, morreu virgem, rejeitada e sozinha.

(Texto escrito em 04/08/11)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

I don't wanna be an ant

"Sei que não nos conhecemos, mas eu não quero ser uma formiga. Quer dizer, é como se nós passássemos pela vida com nossas antenas esbarrando umas nas outras, continuamente no piloto automático, como formigas, sem que nada realmente humano seja solicitado de nós. Pare. Vá. Caminhe por aqui. Dirija por ali. Ações voltadas basicamente à sobrevivência, comunicações simplesmente pra manter a colônia de formigas funcionando de maneira eficiente e civilizada. 'Aqui está seu troco'. 'Papel ou plástico?', 'Crédito ou débito?', 'Quer ketchup?'. Não quero um canudo, quero momentos humanos verdadeiros. Quero ver você, quero que você me veja. Não quero desistir disso. Eu não quero ser uma formiga, entende?" - Waking Life

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Desista!

Era de manhã muito cedo, as ruas limpas e desertas, eu a caminho da estação. Comparei o relógio da torre com o meu e vi que era muito mais tarde do que pensava. Precisava me apressar. O choque dessa descoberta me fez hesitar quanto ao caminho a seguir: não conhecia bem a cidade. Felizmente vi um policial, corri para ele e, ofegante, perguntei-lhe qual o caminho da estação. Ele sorriu e disse:
- Está me perguntando qual o caminho?
- Sim - respondi -, pois não consigo achá-lo.



- Desista! Desista! - disse ele e, com um movimento brusco, voltou-se como se quisesse ficar sozinho com o próprio riso.



- Franz Kafka

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bang! Bang!

Eu quero escutar as porras das palavras não ditas, mas as porras das palavras só vêm repetidas. É tudo tão clichê. Essa vida em conserva, vida congelada. Vida de merda, uma porcaria dum suvenir made in hong kong. Tô nessa vibe.
É uma angústia sem fim, uma dificuldade de respirar. Um coração cheio de átrios e ventrículos e nervos e músculos, pulsando forte em vermelho. Dá vontade de arrancar do peito e jogá-lo fora longe, como se fosse uma bomba prestes a explodir que deve ser mantida a distância. E eu nem sei porquê.
Me sinto como se fosse uma engolidora de facas andando numa corda bamba suspensa acima dum tanque de tubarões. É exatamente assim que me sinto. Sem medo de usar uma palavra tão forte como exatamente numa situação tão duvidosa quanto angustiante. Você já teve a sensação de que o mundo, de repente, ficou pequeno demais?
E o pior, fico imobilizada. É como se uma mão invisível e cruel me empurrasse numa cadeira, atasse meus braços e minhas pernas e dissesse: "Fica aí, filha da puta, agora tu vai sofrer até a hora que eu quiser". E aí, intercalando com toda essa esquisitice, vêm à tona lembranças desconexas de criança, as mais avulsas possíveis, omo aquela vez no posto de vacinação em que eu precisei tomar zé gotinhas. E fui recompensada com um pacote daquelas pipocas de isopor. Crianças são recompensadas por tudo. Por tomarmos simples gotinhas via oral na infância somos verdadeiros mártires que precisamos de reforço gustativo pra nos assegurar de que está tudo bem. Cresce pra tu ver, filho da puta.
Esse é um texto em que tô destilando ódio com palavrões numa frequência mais que frequente. Acho que realmente deveria tirar meu nome do blog. Afinal eu não quero que qualquer-umzinho chegue aqui de forma qualquer, e se ache no direito, porque realmente há esse direito, de me julgar e de achar isso e aquilo com seu cerebrozinho todo trabalhado na teoria cognitiva da aprendizagem. Com todos aqueles valorezinhos infames adquiridos ao longo da vida social.
Foda-se. Soy loca. E falo isso sem nem querer entrar naquele papo de diferenciar loucura de sanidade, apenas porque é cansativo demais. Cadê a desconstrução?
Ando por aí querendo calar a boca de todos, afim de dizer DEIXA DE SER ESSE IMENSO E ESTÚPIDO CLICHÊ! Pensa outside the box. PORRA!
Porque tentar entender todas as cabeças ao meu redor dói! Eu me sinto como se tivesse cobrindo pontinhos pra achar a figura inteira. (que gestáltico!). E como tô cheia das comparações hoje. É como se eu quisesse estar comparando tudo e qualquer coisa com algo. Sabe, cansei.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Das folhas antigas

Tava olhando o céu. Pra mim o céu estrelado é a maior perfeição que existe no universo. Posso ficar hipnotizada por horas só olhando praquilo. Aí lembrei dum texto que tinha escrito uma vez num caderno antigo, sobre as estrelas, e fui querer reler esse texto, mas ainda não encontrei. Por outro lado, encontrei outros textos, que nunca passei pro computador. E é isso que vou fazer agora, digitar esses textos e compartilha-los com vocês que os desejarem ler. Aqui vão.

18/02/09 (dia em que dormi sozinha pela primeira vez)


Ouça: o barulho do ponteiro tiquetaqueando enquanto o tempo passa. O inseto que se debate contra a luz, as paredes que estalam sozinhas. É que no silêncio todos os sons ficam mais altos.
Sinta: suas pernas e seus braços tremerem de fraqueza e cansaço, o nó na garganta, as memórias doerem.
Todo vazio a gente tenta preencher.
Seus olhos pesam de sono, mas há a resistência apenas porque você aprendeu assim. E depois da resistência, a desistência.

11/02/08 - 5:00 am

O silêncio aplaude

Ando por aí me equilibrando
Fazendo do chão minha corda bamba
Um passo em falso e caio
no vácuo dos meus pensamentos
Olho para o céu mas já é tarde
Perco o caminho quando olho para trás
Enquanto isso, a passos lentos percorro
O que falta para amanhecer


07/03/09 (ouvindo passenger seat)

O que eu queria era fazer tua vida mais bela, mais doce. Fazer com que a vida fizesse sentido, fosse menos triste, menos solitária, menos vazia.
O que eu queria era te abraçar e te aquecer, e deitar do teu lado numa cama fria, num quarto de janelas abertas, e o mundo inteiro lá fora, e um mundo inteiro aqui dentro.
Então eu chego pra te surpreender, com as mãos nas costas. Numa delas uma rosa, na outra, meu coração. Tu escolhes a rosa, receando não saber cuidar do coração, afinal, rosas são mais fáceis.
Eu sorrio, te entrego a rosa. Estendo o coração e digo, ao pé do teu ouvido: se não quiseres aceitar meu coração, temo não poder entregá-lo a ninguém mais.
Calados, nos olhamos nos olhos. Eu com o coração na mão, pronta pra te entregar, se tu quiseres. Tu finalmente respondes: teu coração foi a melhor coisa que já ganhei na vida!
Sentados no banco e de mãos dadas, observamos as pessoas passarem, os carros passarem, o tempo passar. Tudo pode passar, mas nós vamos continuar ali, juntos.


Esses foram os textos do meu caderno de 2009. O texto das estrelas deve tá em outro, mas agora fica pra depois.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Desafiando as leis da física

Uma conversa que tive hoje mais cedo com uma professora da faculdade de psicologia me fez levantar a cabeça do travesseiro, e vir aqui escrever pra organizar as idéias.

Ela me perguntava o motivo de eu ter tantas reprovações; expliquei que em parte era pelo fato de fazer duas faculdades e ainda trabalhar. Mas é claro que omiti a parte que desde que comecei a trabalhar, tranquei um dos cursos temporariamente; e a parte principal, que essas reprovações não eram culpa do curso ou do trabalho, mas se deviam principalmente à minha falta de responsabilidade e disciplina.

Entramos no elevador: "Duas graduações? Pra que você precisa de duas graduações, se não vai poder exercer duas profissões?". "Por que eu gosto dos dois cursos, e quero fazer psicanálise, que é uma mistura de psicologia e letras". "E por que você não termina logo o curso que já tá mais adiantado pra depois concluir o outro?". "Por que eu quero terminar logo esses cursos pra ir embora daqui". Em tom risonho e sarcástico ela disse: "Mas você quer demais!". Apenas concordei balançando a cabeça. Porque eu quero demais mesmo. Enquanto isso o ascensorista fazia seus julgamentos mentais sobre a situação de nossa conversa, ou talvez estivesse apenas concentrado nos botões dos andares.

Eu quero mais, e não quero menos que isso. Não quero me conformar, me adaptar. Eu quero querer. Tenho fome insaciável de querer. E não tenho vergonha de assumir isso.

Paramos no primeiro andar, e antes das portas se abrirem ela disse, com um ar de quem crê ter muita sabedoria: "Olha, um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo". Alguma outra pessoa que estava no elevador riu, não sei que tipo de riso foi. Minha mente já ia-se preparando pra taxar de lugar-comum o conselho que a professora deu, disfarçado de lei da física, mas de repente pareceu fazer sentido.

Talvez eu esteja exigindo mais de mim do que realmente posso. Talvez eu deva me conformar e ver que as coisas nunca vão ser realmente como eu quero, que não posso querer tudo ao mesmo tempo. E nessa breve conversa foi exatamente o que a professora tentou me dizer. Sem saber ela acabou me revelando que já quis demais e recebeu de menos, que teve que se conformar em ocupar apenas um espaço em determinada unidade de tempo. Sempre fui uma das melhores em análise de texto na escola, e agora nas faculdades, tento ser boa em análise do discurso.

Veja bem, física nunca foi meu forte. Apesar de achar extremamente interessante, nunca me dei bem com exatas, sempre fui uma pessoa mais humanas. Albert Einstein, físico e matemático, conhecido por posar de língua de fora para as câmeras (e também por ter inventado a teoria da relatividade) disse "Não tenho nenhum talento especial, sou apenas apaixonadamente curioso". E faço das palavras dele, minhas.

E foi justamente pela curiosidade que descobri que minha professora estava errada. Não existe nenhuma lei da física dizendo que um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo! No entanto, a lei da Impermeabilidade prega que "Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo." (lei esta que sempre evoca à mente as aulas de biologia, quando estudamos reprodução).

O que importa, é que depois de pensar em todas essas matérias do tempo de escola, além de perceber que já esqueci praticamente tudo, a lição que tiro é que posso sim, ocupar dois lugares ao mesmo tempo. E digo mais: make it three! Porque eu sempre vou querer mais.

domingo, 10 de abril de 2011

Winding road

(It's a monologue. You can't hear what the other person says).

-Sir, step outside this relationship, please.
-Lover's license?
-Sir, I'm afraid I'll have to arrest you.
-You were moving too fast in a low velocity zone. This is a very dangerous road, sir. You don't know were you're going to.
-I'm so sorry, sir, but love is an one way street. Once you're in it, you cannont go back, and there's nothing I can do to help you.
-You were completely out of control, mister!
-There were signs all over the away and you've missed all of them, just because you didn't wanna see, sir. So don't tell me you weren't warned.
-I'll have to ask you to follow me now.
-Hey! Don't make it harder than it already is. Sometimes we just have to stop.
-Where are we going? To the place where all the bad relationships drivers go; oblivion.