segunda-feira, 30 de maio de 2011

Das folhas antigas

Tava olhando o céu. Pra mim o céu estrelado é a maior perfeição que existe no universo. Posso ficar hipnotizada por horas só olhando praquilo. Aí lembrei dum texto que tinha escrito uma vez num caderno antigo, sobre as estrelas, e fui querer reler esse texto, mas ainda não encontrei. Por outro lado, encontrei outros textos, que nunca passei pro computador. E é isso que vou fazer agora, digitar esses textos e compartilha-los com vocês que os desejarem ler. Aqui vão.

18/02/09 (dia em que dormi sozinha pela primeira vez)


Ouça: o barulho do ponteiro tiquetaqueando enquanto o tempo passa. O inseto que se debate contra a luz, as paredes que estalam sozinhas. É que no silêncio todos os sons ficam mais altos.
Sinta: suas pernas e seus braços tremerem de fraqueza e cansaço, o nó na garganta, as memórias doerem.
Todo vazio a gente tenta preencher.
Seus olhos pesam de sono, mas há a resistência apenas porque você aprendeu assim. E depois da resistência, a desistência.

11/02/08 - 5:00 am

O silêncio aplaude

Ando por aí me equilibrando
Fazendo do chão minha corda bamba
Um passo em falso e caio
no vácuo dos meus pensamentos
Olho para o céu mas já é tarde
Perco o caminho quando olho para trás
Enquanto isso, a passos lentos percorro
O que falta para amanhecer


07/03/09 (ouvindo passenger seat)

O que eu queria era fazer tua vida mais bela, mais doce. Fazer com que a vida fizesse sentido, fosse menos triste, menos solitária, menos vazia.
O que eu queria era te abraçar e te aquecer, e deitar do teu lado numa cama fria, num quarto de janelas abertas, e o mundo inteiro lá fora, e um mundo inteiro aqui dentro.
Então eu chego pra te surpreender, com as mãos nas costas. Numa delas uma rosa, na outra, meu coração. Tu escolhes a rosa, receando não saber cuidar do coração, afinal, rosas são mais fáceis.
Eu sorrio, te entrego a rosa. Estendo o coração e digo, ao pé do teu ouvido: se não quiseres aceitar meu coração, temo não poder entregá-lo a ninguém mais.
Calados, nos olhamos nos olhos. Eu com o coração na mão, pronta pra te entregar, se tu quiseres. Tu finalmente respondes: teu coração foi a melhor coisa que já ganhei na vida!
Sentados no banco e de mãos dadas, observamos as pessoas passarem, os carros passarem, o tempo passar. Tudo pode passar, mas nós vamos continuar ali, juntos.


Esses foram os textos do meu caderno de 2009. O texto das estrelas deve tá em outro, mas agora fica pra depois.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Desafiando as leis da física

Uma conversa que tive hoje mais cedo com uma professora da faculdade de psicologia me fez levantar a cabeça do travesseiro, e vir aqui escrever pra organizar as idéias.

Ela me perguntava o motivo de eu ter tantas reprovações; expliquei que em parte era pelo fato de fazer duas faculdades e ainda trabalhar. Mas é claro que omiti a parte que desde que comecei a trabalhar, tranquei um dos cursos temporariamente; e a parte principal, que essas reprovações não eram culpa do curso ou do trabalho, mas se deviam principalmente à minha falta de responsabilidade e disciplina.

Entramos no elevador: "Duas graduações? Pra que você precisa de duas graduações, se não vai poder exercer duas profissões?". "Por que eu gosto dos dois cursos, e quero fazer psicanálise, que é uma mistura de psicologia e letras". "E por que você não termina logo o curso que já tá mais adiantado pra depois concluir o outro?". "Por que eu quero terminar logo esses cursos pra ir embora daqui". Em tom risonho e sarcástico ela disse: "Mas você quer demais!". Apenas concordei balançando a cabeça. Porque eu quero demais mesmo. Enquanto isso o ascensorista fazia seus julgamentos mentais sobre a situação de nossa conversa, ou talvez estivesse apenas concentrado nos botões dos andares.

Eu quero mais, e não quero menos que isso. Não quero me conformar, me adaptar. Eu quero querer. Tenho fome insaciável de querer. E não tenho vergonha de assumir isso.

Paramos no primeiro andar, e antes das portas se abrirem ela disse, com um ar de quem crê ter muita sabedoria: "Olha, um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo". Alguma outra pessoa que estava no elevador riu, não sei que tipo de riso foi. Minha mente já ia-se preparando pra taxar de lugar-comum o conselho que a professora deu, disfarçado de lei da física, mas de repente pareceu fazer sentido.

Talvez eu esteja exigindo mais de mim do que realmente posso. Talvez eu deva me conformar e ver que as coisas nunca vão ser realmente como eu quero, que não posso querer tudo ao mesmo tempo. E nessa breve conversa foi exatamente o que a professora tentou me dizer. Sem saber ela acabou me revelando que já quis demais e recebeu de menos, que teve que se conformar em ocupar apenas um espaço em determinada unidade de tempo. Sempre fui uma das melhores em análise de texto na escola, e agora nas faculdades, tento ser boa em análise do discurso.

Veja bem, física nunca foi meu forte. Apesar de achar extremamente interessante, nunca me dei bem com exatas, sempre fui uma pessoa mais humanas. Albert Einstein, físico e matemático, conhecido por posar de língua de fora para as câmeras (e também por ter inventado a teoria da relatividade) disse "Não tenho nenhum talento especial, sou apenas apaixonadamente curioso". E faço das palavras dele, minhas.

E foi justamente pela curiosidade que descobri que minha professora estava errada. Não existe nenhuma lei da física dizendo que um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo! No entanto, a lei da Impermeabilidade prega que "Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo." (lei esta que sempre evoca à mente as aulas de biologia, quando estudamos reprodução).

O que importa, é que depois de pensar em todas essas matérias do tempo de escola, além de perceber que já esqueci praticamente tudo, a lição que tiro é que posso sim, ocupar dois lugares ao mesmo tempo. E digo mais: make it three! Porque eu sempre vou querer mais.