domingo, 2 de outubro de 2011

Intimidade - estranhas entranhas

Estava nervosa, nunca tinha feito aquilo antes. É claro que já tivera vários outros relacionamentos antes, mas nada muito sério. Havia passado os 32 anos de sua vida tentando evitar qualquer intimidade, ou demonstrar qualquer tipo de sentimento, mas de de alguma forma, Adriana sentia que aquele deveria ser o cara certo, e esta noite, o momento certo.

Gastou muito tempo preparando-se, queria que tudo corresse perfeitamente, porém ao mesmo tempo a insegurança devorava-lhe por dentro. E se ele não gostasse do que visse? Ninguém nunca a tinha visto assim tão exposta, tão nua. Tinha calafrios só de imaginar uma reação ruim de seu namorado, mas estava disposta a seguir em frente com o plano.

O relógio marcou oito da noite, hora combinada pelos dois. Naquele momento ela começava a ter dúvidas, não tinha mais certeza se estava preparada. A campainha tocou. Suspiro, medo. Borboletas de todas as espécies e cores batiam as asas no seu estômago, e antes de abrir a porta Adriana pensou na teoria do caos, e no efeito que aquela aglomeração de borboletas poderia causar do outro lado do mundo. Um tufão na China, um maremoto na Índia, tudo isso seria sua culpa, apenas porque estava disposta a ter uma noite de intimidade com seu namorado.
Tomás aparentava cansaço e mau humor assim que entrou no apartamento. Adriana preferiu ignorar.

Então chegou a hora, e lá estava ela. Nua, exposta, vulnerável. Foi isso que ela escolheu. Em ordem de tentar conectar-se e criar laços mais profundos com ele, ela usou de seu livre arbítrio para exibir-se, deixando à mostra todas as suas falhas e depressões, todo o seu relevo mais íntimo, para ser analisado pelos sentidos de outro. Outro que não sabia a origem daquelas cicatrizes ou porquê aquelas marcas estavam lá, mas as via e as julgava, boas ou más, como lhe fosse conveniente. Uma conveniência completamente exterior a qualquer um dos motivos que aquela visão lhe proporcionava.

E assim foi, a noite toda. Tomás penetrando pouco a pouco seu interior, conhecendo tudo que havia nas profundezas de seu ser. Ao final de tudo, Adriana estava feliz por ter tomado aquela decisão. Sentia-se livre, sentia que não tinha mais nada a esconder, que Tomás agora sabia de tudo, compreendia tudo. Agora ela se sentia uma nova mulher, sua vida havia mudado naquele ponto. Nada mais seria igual, pensava ela.

Amanheceu. Tomás foi embora. E nunca mais voltou. Os dias se passaram e Adriana perguntava-se o que ela havia feito de errado. O que poderia tê-lo desagradado tanto a ponto de sumir sem dar ao menos explicações. Seu maior medo se realizava: fora rejeitada. Rejeitada por aquele, justamente aquele a quem ela confiou que não poderia machucá-la. Aquele a quem ela confiou. Confiou sua vida, seus medos, seus sonhos.

Era uma queda irrecuperável. Adriana nunca mais deixaria ninguém se aproximar. Nada mais foi igual. Adriana decidiu que nunca mais mostraria sua alma pra ninguém. Não teve mais namorados, virou freira, morreu virgem, rejeitada e sozinha.

(Texto escrito em 04/08/11)