domingo, 12 de outubro de 2008

Machine gun

Você é um intruso!
Você é um intruso!
Você não pode entrar aqui!
Saia daqui!
Não vê como lhe olham?
E todos olhavam pra ele, apontavam e cochichavam.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
Ele andava assustado olhando ao redor.
Aqueles olhos grandes queriam engulí-lo.
E as vaias ecoavam altas.
A multidão abriu-lhe espaço, dividindo-se em dois lados e formando um corredor, onde ele estava.
A multidão dividiu-se em ódio e indiferença, cada um pra um lado, e ele no meio dos dois.
Vá embora!
Vá embora!
Encontre você mesmo a saída e nós o pouparemos!
Vá antes que seja tarde! - disse uma voz cortante, que fez sangrar-lhe a consciência.
Apressado, assustado, ofegante.
Ele buscava a porta mas próxima para sair dali.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
Ele estava parado mas o cômodo parecia girar a seu redor.
As pessoas do lado do ódio começavam a jogar-lhe raiva pontiaguda, que perfurava sua pele.
Ele começou a correr.
O lado da indiferença soltou um cão, que mordeu-lhe as carnes arrancando grandes pedaços.
Ele continuou correndo.
Finalmente avistou a saída.
Mas já era tarde demais.
Uma pessoa na multidão tinha uma metralhadora.
E ele caiu morto no chão, enquanto o ódio e a indiferença se juntavam, pisando o cadáver fresco.

Um comentário:

Émile Robot disse...

Eu poderia interpretar esse texto, tipo um monólogo, gostei muito!