segunda-feira, 26 de maio de 2008

Estrela cadente

Eles eram inseparáveis, faziam tudo juntos. Compartilhavam de momentos e problemas a risadas e cigarros. Se conheciam perfeitamente. Eram o trio de amigos mais unido de que já se tivera notícia.

Jorge era o mais introspectivo. Estava sempre perdido dentro de seu próprio mundinho, que às vezes era maior e mais complexo que o mundo exterior que o cercava. Felipe era o mais equilibrado, sempre sabia fazer a coisa certa na hora certa, e conseguia cativar as pessoas facilmente. Ivo era o mais extrovertido, comunicativo e alegre. Tentava sempre divertir todos a seu redor, e na maioria das vezes conseguia.

Jorge era romântico, acreditava em amor verdadeiro e ansiava por achar o seu. Em toda sua vida tivera apenas um relacionamento sério, com uma garota que amou bastante, mas tudo acabou em uma enorme decepção. Desde então ele começara a manter amores platônicos por qualquer uma que lhe desse um mínimo de atenção. Para ele amor era tudo, e era assim que deveria ser. Para ele o amor verdadeiro salvava, e ele estaria sempre a espera desta salvação.

Felipe era mais racional. Não se deixava envolver. Nunca amara de verdade em sua vida, era um cara de relacionamentos rápidos e noites sem compromisso. Era cauteloso e nunca agia sem pensar. Apesar disso, Felipe mantinha uma forte paixão: seu ego. Garotas não eram tão importantes.

Ivo era confuso em relação ao amor. Por muito tempo mantivera um relacionamento interminável, que oscilava sempre entre comodidade e solidão. Ele morria de medo da solidão, não suportava. Por isso vez ou outra perdoava erros imperdoáveis, se apegava a desconhecidos e mendigava esmolas de afeição.

Era noite e os três amigos conversavam tranquilamente sob um céu estrelado. Fumando cigarros, roendo unhas e bocejando. Não precisavam de muita coisa, só de estarem juntos sentiam-se felizes. Felipe cantarolava uma canção sobre estrelas caindo. Jorge pensava longe, mais uma vez estava se perdendo, enquanto Ivo ansiava por falar com sua nova namorada e contava sobre ela.

Jorge sempre fora aficcionado pelo céu, logo, perdia-se simultaneamente em dois firmamentos quando olhava para o alto. Ele de repente vê uma estrela cadente, e admirado, grita e aponta para os amigos. A cena durou apenas alguns segundos, mas todos, encantados com o que acabaram de ver, concordam entre si que foi a coisa mais linda que já presenciaram. Jorge, então, propõe que façam um pedido.

Felipe foi o primeiro, sem pensar o suficiente, pediu a primeira coisa que veio à sua mente, mas se arrependeu logo depois. Ivo foi o segundo. Pensou bastante e finalmente desejou. Pouco tempo depois teve medo do que tinha pedido, e acabou revelando aos amigos, para que não acontecesse. Jorge demorou mais, não sabia o que queria, e acabou desejando apenas o habitual. Estavam extremamente animados com o que acabaram de ver.

Felipe começava a sentir mais sensibilidade que de costume, e achara que aquela cena marcaria um novo começo em sua vida. Jorge, pelo contrário, não sentira quase nada, e apenas pensava no quanto queria ter alguém para amar e compartilhar o que vira. Ivo deixara escapar uma lágrima, e tentou enganar-se pensando ter visto outra estrela cair.

O certo é que depois daquela noite, por coincidência ou destino, os amigos se separaram. Felipe abandonou o ego e se apaixonou perdidamente por uma garota,
com quem manteve um longo relacionamento. Jorge desistiu do amor, caminhou solitário por muito tempo, triste e miserável, até finalmente encontrar-se e encontrar
sua tão esperada salvação, em si próprio. Ivo agora negava esmolas a quem quer que lhe pedisse. Comprou um gato e fez muitas tatuagens.

8 comentários:

Anônimo disse...

HSAIUSHAIUSHAIUSHAIUSHAIUSHAIUSHAIUHSIAUHSIAUSHIAUSHAIUSHIAUSHIAUSHIAUSHIUAHSIUAHSIAUHSIUAHSIUAHSIUHSIA
nem preciso dizer que AMEI, né?
Tudo bixa esses três!
Jorge é um viadão, Felipe um puto e Ivo um gato...naquele outro sentido, claro!
heuheuehuheu

gato de Schrödinger disse...

Confesso que a primeira impressão deste gato metafísico sobre o blog não foi lá muito boa: pensei qualquer coisa vaga relacionada com pobreza literária e sentimental. Mas eis que, felizmente, minha cara felina quebrou-se por completo ao fim deste texto, de estilo bastante peculiar, navegando entre influências cômicas, melancólicas e, digamos, "cotidianas".

Sinceramente, gostei bastante. Gosto muito desse tipo de história, de personagens sendo analisados psicologicamente e postos interagindo numa cena momentânea, para ver suas ações mediante seus pensamentos analisados. E é certo que a srta. soube conduzí-la muito bem.

E, se me permite a indiscrição e a ousadia, analisando seu texto, chego a algumas conclusões: as três personagens podem ser três aspectos distintos da sua própria personalidade, isto é, três diferentes "eus" que habitam seu ser e interagem para definir seus próprios pensamentos e ações; ou essas três personagens podem ser baseadas em pessoas que você realmente conhece e que tenha analisado à guisa desta intimidade e postas numa situação talvez nem tão fictícia assim; ou, sei lá, a srta. tem uma percepção bastante aguçada e conseguiu perscrutar de forma bastante próxima e verossímil o coração masculino, de uma maneira que muito me impressiona, se for este o caso. (Há uma quarta hipótese também: que eu não sei nada desse tipo de análise e que nada do que eu tenha dito não se aproxime nem um pouquinho da verdade, e acredito mesmo que esta seja uma hipótese a ser bastante considerada.)

Enfim, este primeiro comentário decorrente de uma primeira visita já foi muito além, com suas análises, observações e opiniões chegando possivelmente ao limite do "aceitável" e, quem sabe, vestidos de uma certa pretensão (inconsciente). Perdoe as ousadias imperdoáveis deste Gato e aguarde indubitáveis visitas futuras.

Beijo, moça. Até a vista.

Anônimo disse...

caralho, que post legal ninin.
só não gostei da porra da parte "se separaram"...
e o final mais legal é o do felipe.

Luisa Pinheiro disse...

Gostei do texto. Mas queria saber o que eles tinham pedido!
Essa minha curiosidade.. haha.

Mas, ao contrário de Larice, ficou bom eles terem se separado no final. Porque uma separação dessas, dá abertura às mudanças que acontecerem com os três, né. Acho que tu entendeu o que eu quis dizer.

Ah, aqui é Luluh, meu blog é no blogspot agora!
beeijo.

Anônimo disse...

Ivo espancou total! Mandou muito bem :D

RάнН disse...

Seu texto me lembrou um de Clarice Lispector que li a pouco tempo chamado "amor", mas não foi o texto todo em si, apenas um momento: Ele de repente vê uma estrela cadente. Enfim, o que quero dizer é que fico impressionada com a capacidade de uma coisa extremamente simples mudar a vida de um ser.
Para mim, o melhor final foi o do Jorge pois condiz com a realidade, no caso, com a minha realidade x)

;***

Émile Robot disse...

Já ouvi essa história antes, em vez de homens foram mulheres, três também... sei que não é plágio pois as duas histórias tem finais diferentes, ou não =P

Gostei muito do que aconteceu com o Jorge, me identifico com ele.

Unknown disse...

olha meu chará ae na historia ;)
Oo' ele se parece comigo.

muito bom texto erika, quer fazer umas letras pra mim não? ;P