sábado, 11 de abril de 2009

A ligação

Alberto era do tipo romântico, daqueles que faziam questão de sofrer se fosse por amor. Há algum tempo havia se separado de sua amada Antônia, aquela a quem considerava o grande amor de sua vida.
Alberto e Antônia não tiveram um relacionamento bem sucedido: brigavam por qualquer motivo, tinham longas discussões e desgastavam-se à toa.
Talvez porque fossem muito parecidos, ou talvez por serem extremamente diferentes, os dois se atraíam e repeliam de forma igualmente avassaladora.
Certa noite, depois de muito sem saber notícias de Antônia, Alberto se desespera. Sente seu peito apertado, doendo e doente de amor e saudade.
Ele lembra da primeira vez que ouvira a voz dela. Uma voz tão diferente de todas que já havia ouvido, completamente distinta de qualquer expectativa que mantivera a respeito durante o tempo em que apenas trocavam cartas. A primeira vez foi por telefone, o que fez com que se concentrasse mais ainda naquela voz jovem, engraçada e leve, que balançava seus pensamentos a cada palavra dita.
O aparelho ficava na mesinha da sala de jantar, e enquanto falava com Antônia por intermédio deste, Alberto olhava bem os azulejos azulados e tocava-os, imaginando tratarem-se de Antônia. Olhava ao redor, para as paredes, para o lustre, para o piso, e sem se dar conta, estava guardando para sempre aquela memória.
Naquela noite de saudade doída chovia bastante. Alberto via a chuva cair pela janela como o pranto que derramara tantas vezes por Antônia. Ele via as gotas caírem, mas enxergava apenas o silêncio por detrás delas. Alberto enxergava o silêncio da falta de Antônia.
Desolado, lembra-se do episódio daquela noite de abril de 1988, em que ouviu pela primeira vez a voz de sua Antônia, e, rapidamente, corre para o lugar onde estivera há três anos atrás.
Desta forma consegue sentir-se um pouco mais próximo de seu amor perdido, ainda que ínfimo fosse o consolo. Sentia-se ridículo, vazio e perdido. Não sabia o que fazer com tanta falta, aquela enorme falta que o preenchia quase que por completo.
Ele abaixa a cabeça e começa a chorar desesperançoso. Já faziam seis meses que Antônia se fora, mas Alberto sempre esperava que ela pudesse voltar. Naquela noite, por algum motivo desconhecido, a esperança de Alberto resvolvera deixá-lo, e ele finalmente percebe que ela não mais voltará.
De repente, o telefone toca, emergindo Alberto de seus profundos pensamentos nostálgicos. Ele treme assustado, e atende. Ninguém diz nada de ambos os lados, mas os pensamentos de Alberto gritam dentro de sua cabeça: "É ela, é ela! Antônia! Ela pensava em mim ao mesmo tempo em que eu pensava nela! Antônia, eu sabia! Sempre soube...".
E aquela ligação silenciosa continuou por muito tempo.

2 comentários:

Lorenna disse...

conheço uma história assim :D

Émile Robot disse...

Que final massa! Diferente de lolove não conheço e nunca ouvi nada parecido.

Quanto sofrimento você conseguiu transpor, me fez até sentir frio na barriga x]