sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crítica: Remember Me - Lembranças

O filme começa com a palavra "Remember", que parece escrita por fumaça, e logo depois esvai-se, como se desfeita por um sopro, formando a palavra "me". Além do próprio título essa forma de apresentação frisa a mensagem que o longa deseja passar. A efemeridade do momento e as marcas que deixamos em nossa curta experiência.
O personagem principal, a quem dá forma Robert Pattinson, chega a reforçar essa idéia, quando solta a frase "You once told me, our fingerprints don't fade from the lives we touch. Is that true for everybody, or is it just poetic bullshit?" (Você me disse uma vez que nossas impressões digitais não se apagam das vidas que nós tocamos. Isso é verdade, ou é só baboseira poética?). E bem, o filme ajuda a mostrar que, de fato, não é apenas baboseira poética.
Ainda com a ajuda da belíssima máxima de Gandhi, essa idéia é mais uma vez verbalizada, sendo entoada no início e no final do filme. No começo, Tyler Keats Hawkings, o protagonista, ensaia a citação de Gandhi, sem terminá-la, e misturando a ela sua própria opinião: "Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant. But it's very important that you do it. I tend to agree with the first part." ( Gandhi disse que o que quer que você faça na vida será insignificante. Mas é muito importante que você faça. Eu tendo a concordar com a primeira parte).
O enredo começa a se desenrolar, de forma até bastante previsível na maioria das vezes, mas sempre tocante. Os clichês hollywoodianos de um filme comercial como é Remember me, são até sublimados, permanecem no ponto cego da visão crítica do filme como um todo, pois a mensagem que este filme comercial carrega é a mais artística possível. É a mais bela e poética possível.
Poética, ponto. Esqueçamos a parte baboseira poética, esta deixaremos para os mais cínicos, ou até mesmo aleijados de sensibilidade. O que há de mais notável, de mais palpável nesta vida, do que as marcas invisíveis que deixamos noutras vidas?
O filme me pegou de surpresa. Confesso que entrei na sala de cinema esperando algo levinho, um romance água com açúcar, uma maneira irrelevante de passar o tempo. Saí de olhos marejados. O romance é apenas detalhe, a narrativa gira em torno de algo bem mais grandioso, bem mais abrangente que qualquer tipo de amor.
Gira em torno da própria vida, do destino, do mundo! Gira em torno de nossas próprias cabeças, de nossos umbigos, de acordo com nossos próprios relógios. O que fazemos com nosso tempo, isso que importa. O que o tempo faz conosco, para aqueles visionariamente dependentes.
Fiquei sinceramente fascinada com o filme. Até Robert Pattinson conseguiu convencer! Não digo que sua performance foi digna de Oscar, mas o que ele mostrou na telona foi uma evolução fenomenal do vampiro da saga Crepúsculo para o jovem existencialista que leva o nome de um poeta no seu middle name.
Um astro de sequência adolescente liderando um filme sério. Será que a isto se deve as críticas do filme serem predominantemente negativas? Todas as críticas que li admitem que o filme não é de todo mau, mas ainda assim pendem para o lado ruim. E o engraçado é que todas tocam no mesmo ponto, e, pasmem, usam até as mesmas palavras para depreciá-lo! "A surpresa com a reviravolta do final", o quanto o final do filme "é desrespeitoso e apelativo para a filosofia carpe diem".
Coincidência? Ou será que os críticos simplesmente perderam a habilidade de criticar, e apenas deixaram-se contaminar com os pontos de vista alheios? Por que o final, que insere um fato real na narrativa fictícia, não pode simplesmente sustentar toda a trama, mesmo que balançando-a. Não se trata de uma "reviravolta", palavra precisamente eleita para ilustrar toda crítica desta película, pois o filme inteiro prepara o terreno para um desfecho trágico iminente.
O final dramático escolhido poderia ser substituído por qualquer outro final dramático, importado da realidade ou da ficção. A closura escolhida não muda ou compromete a mensagem que o filme inteiro carrega, pelo contrário, acentua. Sem mencionar que aquele poderia ser o final de uma vida que se encerrou naquele dia, daquela maneira, naquele lugar. A história de Remember Me é universal, e, se ambientada em Nova Iorque, por que não ser a história de um nova iorquino como Tyler?
Finalmente, nos últimos minutos de filme, temos a conclusão da idéia de abertura, tanto de Gandhi quanto de Tyler que, por sua vez, parece não mais concordar apenas com a primeira parte, mas com a sentença inteira, ilustrando como a passagem, do filme ou da vida, o fez mudar de idéia. "Gandhi said that whatever you do in life will be insignificant, but it's very important that you do it because nobody else will." (Gandhi disse que o que quer que você faça na vida será insignificante. Mas é muito importante que você faça, porque ninguém mais fará.)

3 comentários:

Lorenna disse...

Ainda digo que preferi a mensagem do que o filme em si. Nota 8 :)

Anônimo disse...

muito bom o texto

Vini disse...

Muito bom o texto, me ajudou a entender mais ainda o filme, e realmente concordo com o autor, Tem uma mensagem muito importante, que diz dos momentos que vivemos e do que podemos contruir e mudar dentro de nós mesmos.