terça-feira, 10 de março de 2015

Don't use your illusion

 
Era sábado de carnaval, eu e uns amigos decidimos ocupar o ap vazio da Luana pra uma festinha leve de cervejas, comidinhas e desfile mudo de escolas de samba ao som de playlists aleatórias. Quando todos já estavam cansados, pedimos que dois táxis viessem nos buscar. Mais cedo naquela noite tinha conversado com um dos presentes sobre fazer análise, ambos fazíamos e adorávamos a percepção diferenciada que tínhamos alcançado por ela.
Um dos taxis chegou, e da varanda o Gustavo comunicou-se com o taxista pedindo que o esperasse descer, e depois nos disse: "Bom, eu pedi pra ele esperar, se ele ainda vai estar lá em baixo quando eu chegar, eu não tenho garantia nenhuma, mas pedi.". Não pude deixar de rir e comentar que aquela realmente foi uma frase de quem fazia análise.
Veja bem, quando se faz análise a gente aprende que nunca há garantia de nada na vida. Absolutamente nada. Tudo é incerto, misterioso e mutante. Mesmo as coisas mais banais que achamos que podemos tomar como garantidas, como um taxista que decide não esperar; um familiar que não estará mais vivo quando você chegar da escola; ou aquele americano-dream-guy que te convidou pra mudar-se com ele pra outro estado e um dia fura por causa da chuva.
A ilusão da certeza é atraente, confortável e conveniente. Você vê, eu faço análise. Uma vez por semana deito minhas costas naquele divã desconfortável em busca da melhor posição, uma vez por semana coloco minhas certezas em cheque, analiso minhas posturas e ações, e ainda assim, num piscar de olhos jogo todo o trabalho analítico pro alto pra me apoiar na certeza da garantia.
Começo a imaginar o incerto como fato, só porque algumas pistas lideram pra esse caminho. Esqueço daquele texto atribuído ao Shakespeare que diz que: "beijos não são contratos e presentes não são promessas". O que mais me irrita nessa história toda é que sou naturalmente desconfiada e duvidosa, mas em busca de um pouco de paz de espírito renuncio à dúvida companheira pra crer em uma certeza traiçoeira e otimista.
A lição que tiro dessa é nunca mais subestimar meus instintos, não tentar transformar um alerta vermelho em sinal verde. E, é de fato como havia de ser, "algumas novidades são repetições disfarçadas", o eterno retorno. Muda a versão, mas não muda a música, stuck on repeat.
E o horizonte que parecia a um passo de distância, distancia-se ao passo. O furo é a falta. Perguntas pedem, no mínimo, respostas. Pra finalizar, deixo as palavras de Buk-cão-dos-infernos, um verdadeiro poeta visionário. "Love? Is kinda like, you know when you see a fog in the morning when you wake up before the sun comes out? It's just a little while and then it burns away." .  

And needless to say, 'cause you already did. Both, New Order and Joy Division.


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